"A vida é tão bonita, basta um beijo e a delicada engrenagem movimenta-se, Uma necessidade cósmica nos protege".
(Adélia Prado)Foi outro dia, numa conversa com o Mauricio, que percebi: a minha gravidez e o parto do Rodrigo foram minha travessia, minha aprendizagem dos prazeres. Fico cada vez mais radical, no sentido de me aproximar cada vez mais das minhas raízes, do que de fato me faz sentir viva, com sangue/seiva correndo nas veias.
É como se uma porta tivesse sido aberta: talvez porque é difícil ser mãe sem se desdobrar, desdobraram-se em mim outras formas de ser mulher, de ser pessoa, de experimentar a vida, de ser corpo e de ser alma.
Acho que foi com o Rô que redescobri como a vida é bonita. Levando-o ao teatro, cantando canções antigas (como "Minha Canção", dos Saltimbancos) e descobrindo com ele canções novas (como "Só quero ver", do Palavra Cantada), contando para ele histórias que tanto significam para mim (como Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque) e contando também histórias que passaram a significar para nós (como Raimundo e a Menor Banda do Mundo, do Sérgio Serrano).
É impressionante como a gente pode ir deixando de lado as coisas que ama - eu adoro teatro, literatura, música... Mas só quando o Rô nasceu é que me dei conta de que tinha largado mão de tantas coisas que tinham tanto a ver com quem sou, do que gosto.
Logo que ele nasceu e me olhou com seus olhos de curiosidade e reconhecimento e, depois disso, todas as vezes que ele me olha tentando entender o mundo, me vejo obrigada a reconhecer quem eu sou e o que é o mundo para mim.
Nas peças que íamos ver, eu ficava tão maravilhada quanto ele com as cenas, as delicadezas, as surpresas de cor e som. Nos shows - mesmo os em DVD, como do Palavra Cantada e da Adriana Partimpim - a gente ia descobrindo juntos um trechinho novo de música, uma cara nova, um instrumento novo. E as histórias, são sempre uma delícia, de tempos em tempos ele cisma com uma diferente e aí é um contar e recontar até ele mesmo ser capaz de reproduzir a história, com as minhas próprias caras e bocas, guardando melhor os trechos que para ele significam mais.
E a cada momento desses, eu sei: a vida é tão bonita.
Não tem nada a ver com uma negação da realidade, como no filme "A vida é bela"; não é preciso mascarar a realidade, nem enfeitá-la, nem torcê-la até que pareça que estamos vivendo no interior de uma ficção. Sem comerciais de margarina, please.
(Sou muito mais a franqueza da Dora, de Central do Brasil, dizendo pro menino que sua mãe não vai mais voltar).
Acho que é mais uma coisa meio drummondiana, tipo a flor que nasce no asfalto. O bonito é que mesmo em tanta dureza, feiúra, maldade, dor, nasçam flores. Nasça uma cena que arrepia; um texto que leva às lágrimas; uma música que transforma tudo o mais em silêncio; uma textura que surpreende e encanta. A vida é bonita porque nesse leve assombro que nos entreabre a boca, as margens da vida se ampliam um pouco e a esperança volta a ser possível.
Antes do Rodrigo, acho até que eu era feliz. Mas depois dele, sou muito mais intensa, muito mais corpo, muito mais alma, muito mais leonina: muito mais humana. Sofro mais, gozo mais. O açucar é mais doce e o sal mais salgado.
E eu adoro.
É como se uma porta tivesse sido aberta: talvez porque é difícil ser mãe sem se desdobrar, desdobraram-se em mim outras formas de ser mulher, de ser pessoa, de experimentar a vida, de ser corpo e de ser alma.
Acho que foi com o Rô que redescobri como a vida é bonita. Levando-o ao teatro, cantando canções antigas (como "Minha Canção", dos Saltimbancos) e descobrindo com ele canções novas (como "Só quero ver", do Palavra Cantada), contando para ele histórias que tanto significam para mim (como Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque) e contando também histórias que passaram a significar para nós (como Raimundo e a Menor Banda do Mundo, do Sérgio Serrano).
É impressionante como a gente pode ir deixando de lado as coisas que ama - eu adoro teatro, literatura, música... Mas só quando o Rô nasceu é que me dei conta de que tinha largado mão de tantas coisas que tinham tanto a ver com quem sou, do que gosto.
Logo que ele nasceu e me olhou com seus olhos de curiosidade e reconhecimento e, depois disso, todas as vezes que ele me olha tentando entender o mundo, me vejo obrigada a reconhecer quem eu sou e o que é o mundo para mim.
Nas peças que íamos ver, eu ficava tão maravilhada quanto ele com as cenas, as delicadezas, as surpresas de cor e som. Nos shows - mesmo os em DVD, como do Palavra Cantada e da Adriana Partimpim - a gente ia descobrindo juntos um trechinho novo de música, uma cara nova, um instrumento novo. E as histórias, são sempre uma delícia, de tempos em tempos ele cisma com uma diferente e aí é um contar e recontar até ele mesmo ser capaz de reproduzir a história, com as minhas próprias caras e bocas, guardando melhor os trechos que para ele significam mais.
E a cada momento desses, eu sei: a vida é tão bonita.
Não tem nada a ver com uma negação da realidade, como no filme "A vida é bela"; não é preciso mascarar a realidade, nem enfeitá-la, nem torcê-la até que pareça que estamos vivendo no interior de uma ficção. Sem comerciais de margarina, please.
(Sou muito mais a franqueza da Dora, de Central do Brasil, dizendo pro menino que sua mãe não vai mais voltar).
Acho que é mais uma coisa meio drummondiana, tipo a flor que nasce no asfalto. O bonito é que mesmo em tanta dureza, feiúra, maldade, dor, nasçam flores. Nasça uma cena que arrepia; um texto que leva às lágrimas; uma música que transforma tudo o mais em silêncio; uma textura que surpreende e encanta. A vida é bonita porque nesse leve assombro que nos entreabre a boca, as margens da vida se ampliam um pouco e a esperança volta a ser possível.
Antes do Rodrigo, acho até que eu era feliz. Mas depois dele, sou muito mais intensa, muito mais corpo, muito mais alma, muito mais leonina: muito mais humana. Sofro mais, gozo mais. O açucar é mais doce e o sal mais salgado.
E eu adoro.
Imagem: Marc Chagall, Springtime in the meadow, 1961
Fonte: http://www.weinstein.com/chagall/marc-chagall.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário