30 junho, 2008

Rodriguices


Rodrigo doente no meu colo enquanto eu tento (e "tento" seria a palavra fundamental aqui) trabalhar. E eu trabalhando e ouvindo Audioslave - no youtube, por favor, que o dia não tá fácil e dar uma olhadinha no Chris Cornell nunca é demais:
- Mãe, não pode ver o Cris Comél!

E tendo um telefone tão perto do computador, agora o monstrinho aprendeu a discar vários números, só para ouvir a voz na telefonista dizendo que "este número não existe" e que é melhor consultar uma lista telefônica...

Eu mereço!

Cantem comigo: "To be yourself is all that you can do..."

Imagem: http://www.chriscornell.com/

29 junho, 2008

Nhaca

Só hoje que acordei um pouco melhor, depois de um ataque de tosse ontem que beirou o ridículo de tanto que durou.

E Rodrigo ainda está mal...Fazendo febre alta e baqueadíssimo.

De maneira que ainda não é hoje que vou conseguir escrever direito. Porque além de tudo, tem um relatório que precisa(va) ser entregue amanhã e eu não consegui ficar mais do que dez minutos na frente do computador.


26 junho, 2008

Cais

Para ampliar o silêncio, na voz da Nana Caymmi:

Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar

Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

(Milton Nascimento)

Um minuto de silêncio

E na mesma semana, perdemos Maria D'Alva Kinzo e Ruth Cardoso.

Notícias do Front


Sábado, Rô e eu fomos para Curitiba, encontrar uma parte da família que fazia tempo que eu não via. Aproveitamos também para passear de trem: a viagem vale muito a pena, e a gente deu sorte de estar um dia lindo e ensolarado.

O problema é que lá estava frio. Muito frio. Mas muito mesmo: no domingo, chegamos à estação de trem às 8h da manhã e estava 2º. E durante a viagem foi impossível convencer o Rodrigo a fechar a janela, né? Porque ele estava achando o máximo gelar as mãozinhas...Fora que ele aprendeu a fazer sinal de "jóia" e ficava fazendo jóia para a paisagem :-)

O resultado de tudo é que eu e o Rô voltamos com uma baita gripe e ainda estamos nos recuperando. Por isso a ausência de notícias (também por culpa do provedor de internet, que faz uma semana que está instável).

Prometo que daqui a pouco ponho tudo em dia: posts, mensagens e tudo o mais.

17 junho, 2008

Jogo do eu-já (infantil)

A Kathy começou, lá nas Mamíferas, e eu gostei da brincadeira, então vamos lá:

Na gestação, eu já...
Quis tanto que fosse um menino, que comecei a tentar me acostumar à idéia de que seria menina só para sofrer menos.

Quando descobri que era mesmo um menino, fiquei tão chocada que só consegui comemorar um dia depois.

Passei tão mal dos primeiros quatro meses que achei que nunca mais ia querer engravidar. Uma semana depois que os enjôos pararam, nem lembrei que eles tinham existido.

Me fiz de "sonsa" para não perceber que minha médica era cesarista.

Assisti todas as cinco temporadas de Sex and the City enquanto estava de repouso.

Sobre o parto, eu já...
Fiquei desconfortável por não ter sido exatamente como eu queria, embora não soubesse muito bem dizer o que tinha faltado ou sobrado. Mesmo tendo sido normal, numa LDR (Labor Delivery Room, ao invés do centro cirúrgico) e o Rodrigo tendo mamado logo em seguida.

Fiquei muito triste com o meu parto depois de descobrir que podia ter sido tudo diferente.

Me doí inteira por pensar nas rotinas a que o Ro foi submetido e no tempo em que ele, recém saído da barriga, ficou sozinho no berçário.

Aprendi que não dá para se fazer de "sonsa" e confiar só no próprio corpo enquanto as coisas forem do jeito que são, hoje em dia, nesse país.

Amamentando, eu já...
Fiquei tão cansada que quis largar tudo, mas pude contar com um grupo muito bacana de apoio e consegui achar energia para continuar mais um pouquinho.

Fui alvo de olhares tortos e espantados de mães, ao verem aquele menino grande, andante e falante de repente vindo dar uma mamadinha básica :-)

Achei que eram necessárias blusas e sutiãs especiais e pouco femininos, mas descobri que o que importa mesmo são os peitos e eu não precisava deixar de me cuidar para continuar amamentando.

Trocando fraldas, eu já...
Tomei banho de xixi.

Cantei muitas e muitas canções para alegrar o pequerrucho incomodado.

Fiz tudo correndo com medo do neném cair do trocador.

Sobre as delícias de ser mãe, eu já...
Acordei com um bebê de seis meses sentado na cama e cantando.

Acordei com um "bom-dia, mamãe!".

Ganhei abraços e beijos inesperados e ouvi "eu te amo, também!".

Levei bronca ao pedir para o Rô tirar a mão da minha cara porque, afinal, "eu tô fazendo carinho!".

16 junho, 2008

Dor e delícia

Desde quarta-feira que eu estava meio estranha: uns sobressaltos por dentro, uma mistura de impulsos bandeirantes de sair por aí, desbravando caminhos, e absoluto desespero ao me dar conta dos meus limites diante do tamanho da empreitada.

Minha experiência do mestrado foi absolutamente diferente da deste doutorado: desde o início eu tinha uma questão clara, que me mobilizava, me dava vontade de pensar e pesquisar; eu tinha a bolsa FAPESP, que me obrigava a cumprir prazos e a efetivamente trabalhar; eu não tinha filho; eu participava de vários grupos e seminários de discussão...Em outras palavras, eu vivia o clima da pesquisa intensamente e o processo todo foi muito prazeroso, assim como o resultado.

Este doutorado já começou um tantinho diferente, já que mal tive tempo entre a defesa do mestrado e a entrega do projeto (na verdade, fiz as duas coisas no mesmo dia). Não tive distância, nem muito menos novas referências sobre as quais apoiar as questões que eu começava a pensar.

Engravidei do Rô já no primeiro semestre do doutorado e assim, a atenção e a energia que deveriam ser postas na pesquisa, se deslocaram para a preparação dessa pessoinha tão querida que tinha me escolhido para ser mãe dela. Primeiro trimestre: fiquei quase inútil por causa dos enjôos. E o terceiro trimestre eu fiquei quase inútil por causa de um repouso mal indicado e a pressa do Rô, que adiantou 3 semanas. Depois do nascimento do Rô, quatro meses de simbiose total, em que qualquer coisa além de cuidar dele era impensável.

Depois, teve o trabalho lá em Osasco, que eu adoro, mas que dividia as minhas energias com os cuidados com o Rô. Naquela época, ele ficava 4 horas no berçário e era esse o único tempo que eu tinha para trabalhar. Eu não queria deixá-lo mais tempo lá, mas também não conseguia trabalhar em casa. E assim o tempo foi passando, meu prazo correndo, eu ia fazendo a pesquisa, mas como se fosse suficiente "seguir adiante", sem voltar aquele passo para a construção de um bom problema de pesquisa.

Desde o início do ano passado que eu estava escrevendo esse texto de qualificação. É, esse mesmo que eu entreguei há três semanas. Mais de um ano para escrevê-lo e mesmo assim só escrevi porque precisava entregar, pois sabia desde o começo que não estava bom.

No ano passado, em agosto, apresentei uma parte do texto que estava escrevendo em um seminário e aí ficou muito claro o erro da estratégia de seguir caminhando adiante: nada é interessante por si só, né? O que dá interesse pras coisas são as questões com as quais a gente constrói tensões, problemas...É o recorte, a entrada...Eu estava lá, com uma montanha de coisas que não me diziam nem me provocavam nada. Porque, naquela altura, eu não tinha mais nada a ver com aquilo, mesmo.

Mas e como é que a gente reconhece essas coisas? Onde a gente arruma coragem pra abandonar um doutorado, mesmo que a pesquisa não seja exatamente o que a gente quer? Como é que eu ia arrumar coragem para admitir que, à diferença da minha mãe, e de tanta gente eu não dava conta de filho, casamento, doutorado, trabalho?

Não que no meu dia-a-dia eu não admitisse: afinal, eu continuava lá, no melhor estilo equilibrista, passando mal para não abandonar o Rô, resolver o casamento, não desapontar muito o trabalho...E o doutorado, a coisa que era mais minha e que dependia única e exclusivamente de mim lá - abandonado.

Mas depois desse seminário do ano passado, eu resolvi que ia cuidar do meu doutorado, sim. Ainda tentei equilibrar um pouco as coisas, mas o resultado foi - um pé torcido, gripes e dores de garganta, costas travadas duas vezes, casamento de perna pro ar...É. Não dá mesmo. Quatro meses que pareceram um imenso e interminável agosto, por dentro e por fora.

Então, depois de muitas conversas e tentativas de pensar o que era possível fazer, percebi que seria preciso parar de trabalhar até a entrega da tese, assumindo todas as consequências (principalmente econômicas) desta decisão. E assim estamos.

Nesses seis meses, as coisas caminharam. Obviamente não a ponto de superar os três anos de abandono, mas andaram sim. Eu tenho uma questão mais clara. Não tenho ainda a melhor estratégia, mas a questão tá clara, tá no corpo. É uma questão que me dá vontade de pesquisar, de pensar...Me mobiliza.

Estou contando toda essa longa história porque na semana passada foi minha qualificação, né? E foi muito duro, de vários pontos de vista. Mas ao mesmo tempo foi muito bom.

Se fosse no ano passado, essa qualificação teria me desorganizado inteiramente; teria me feito abandonar tudo e chorar minhas mágoas por um longo tempo. Mas agora, que pelo menos encontrei uma direção, foi ótimo ter referências, ouvir coisas que me fizeram por em perspectiva o que venho tentado pensar - apontando: isso não é novo, isso é bacana, isso não está nenhum pouco claro...É muito bom quando aquela indefinida sensação de que algo não está encaixando ganha nome, corpo e forma!

Lógico que é difícil ouvir que as coisas não estão claras e maduras como poderiam. Mas ao mesmo tempo é tão bom poder compartilhar a preocupação sobre o que vai dar ou não para fazer, poder dimensionar melhor a encrenca...

Não sei. Pode ser meio masoquista da minha parte, mas putz! fiquei tão aliviada de saber que minha insatisfação não era devida a nenhuma absurda exigência de excelência de mim em relação a mim mesma e sim porque tem trabalho a ser feito...

Durante a pesquisa do mestrado, eu praticamente só ouvi elogios. Ouvi ponderações, levei uns puxões de orelha, claro. Mas ouvi principalmente elogios. Me senti tão perdida! A ponto de sempre sublinhar as falhas e lacunas da dissertação porque, afinal, alguém tinha que apontá-las, já que elas sem dúvida existem. E eu lá, com aquele peso enorme de identificá-las para poder fazer diferente da próxima vez.

Para mim, muito mais importante é essa generosidade de ajudar o outro a reconhecer o que é bom, o que pode ser melhor e o que é ruim; o que é suficiente e o que não é; o que está claro e o que não está. Sem referências, a gente passa mais tempo correndo atrás do próprio rabo do que chegando em algum lugar.

E eu agora realmente tenho um lugar aonde quero chegar.

13 junho, 2008

Roda da Fortuna

Vi lá no blog da Kathy e resolvi fazer também:


You are The Wheel of Fortune


Good fortune and happiness but sometimes a species of
intoxication with success


The Wheel of Fortune is all about big things, luck, change, fortune. Almost always good fortune. You are lucky in all things that you do and happy with the things that come to you. Be careful that success does not go to your head however. Sometimes luck can change.


What Tarot Card are You?
Take the Test to Find Out.



Para mim, que adorava crer na minha capacidade de ser disciplinada e tenaz para alcançar meus objetivos, achei bem interessante que eu "seja" uma carta sobre o imprevisível da vida.

E se eu não tivesse tanta coisa para fazer, iria reler Maquiavel, que se bem me lembro ponderava que o sucesso de um Príncipe se deve tanto à Virtude quanto à Fortuna.

10 junho, 2008

Você precisa é de um homem pra chamar Dirceu

Edu hoje de manhã me mandou um link bárbaro, de um blog especializado em coletar Virunduns. Sabe, quando a gente entende a letra da música errado e jura por Deus que está ouvindo certo? Então. E eles também têm uma comunidade no orkut.

Como estou tentando esquecer que minha banca de qualificação é amanhã, resolvi entrar um bocadinho na comunidade. Gente! Tem cada coisa ótima.

Como o virundum da música do Erasmo Carlos que dá título ao post: Você precisa é de um homem pra chamar de seu; mesmo que esse homem seja eu! Agora diz se um "homem pra chamar Dirceu" não é tudo de bom nessa vida!

Tem outra que também é ótima: na música do Belchior, "Como nossos pais", há quem cante "pois é você, que é mal passado e que não vê!", em vez de "e você que ama o passado, e que não vê". A-do-rei!

Aí lembrei da Lívia, que ao invés de cantar "Mariana, parte minha", cantava "Mariana Fatiminha, Mariana minha flor...". E do amiguinho de escola do Rodrigo que canta "A linda rosa de vinil, de vinil, de vinil...".

Na comunidade, tem uma seção também de músicas em inglês que parecem português. A mais clássica para mim é a do "Chame o bombeiro" (I should have known better).

A minha avó, ao invés de cantar "De blue jeans, de blue jeans, tênis velho no pé e boné", cantava "de budiguim, de budiguim...". Eu achava o máximo!

Lembrei também de uma chefe escoteira que ao invés de cantar "Help, I need somebody', cantava "help, ai ne scubaco". Depois que a ouvi, nunca mais consegui cantar a música direito.

Não lembrei de nenhuma música que eu trocasse as coisas, pelo menos não além da também clássica "trocando de biquíni sem parar" (tocando B.B. King sem parar). Mas vou tentar lembrar.

Essas trocas são muito divertidas. E meio mudando de alhos para bugalhos, me lembrei que na época em que morávamos na república lá na Casa do Ator, a gente começou a anotar todas as bobagens que a gente dizia, sem querer, no melhor estilo Magda (do Sai de Baixo).

A Marcinha, avisando que ia pegar um "retalho" pra chegar mais rápido. Ou que os ignorantes estão "fardados" ao fracasso. Da Carol, no meio da chuva, dando graças a Deus que o guarda-chuvas tinha pára-choques (querendo dizer pára-raios) e nos dizendo que "o dilema" do Maluf é rouba, mas faz. Da Ju, preocupada que a mãe ia fazer um exame para excluir a hipótese de "megaloma". Lembrei da Mari, que chegou em casa reclamando que uns crentes tinham parado ela na rua e tentado "revertê-la' pra religião deles. Lembrei também da minha irmã, que na gravidez estava passando um creme especial com "colesterol" (colágeno) para evitar as estrias.

Lembrei também de mim mesma, que na gravidez falei tanta besteira que deveria ter anotado, e que ainda não sarei totalmente. Outro dia, Edu me perguntou que horas eram e eu respondi "quinze pras cinco" e desatei a rir, creeeente que estava dizendo "quinze pra daqui a pouco". E comentei "dos males, o pior", achando que estava dizendo "dos males, o menor".

Bom. Se era para desestressar, funcionou. E você, qual o seu virundum mais memorável?

09 junho, 2008

Um sonho de liberdade


Como o apartamento é pequeno, o único bicho de estimação que a gente consegue ter é um gerbil. Um não, dois: a Thelma e a Louise. Antes, tínhamos a Sofia, que me fez companhia durante todo o mestrado e acabou ficando bem velhinha e doente, logo depois que o Rodrigo nasceu.

O Edu tinha comentado comigo ontem que a Thelma andava tentando levantar a porta da gaiola para fugir. A Thelma é mesmo fogo: ela pula lá de cima da gaiola todas as vezes em que estamos trocando comida! A bichinha é esperta...

Bom. Eis que estou na sala, almoçando. Escuto um barulhinho, não vejo nada e esqueço. Dali a pouco, escuto mais um barulhinho; acho esquisito, mas deixo pra lá. E então vejo a Louise no meio da sala. Quando a vejo, ela percebe que foi descoberta e zummm! Foge pro quarto das crianças.

Tudo bem. Fecho a porta do quarto para pegá-la quando acabar de almoçar. Quando de repente vejo a Thelma. Pois é: fugiram as duas. Vou na gaiola e vejo que elas devem ter tramado tudo: mesmo com a travinha de arame que Edu improvisou, as danadas deram um jeito de escapar.

Bom. Pego a Thelma e devolvo na gaiola. Acabo de almoçar e vou pegar Louise. Quando chego na gaiola para devolver a Louise, cadê Thelma? Escapou de novo.

E ainda não consegui pegá-la...Tô aqui, do computador, vigiando a Louise na gaiola e escutando a Thelma atrás da máquina de lavar, mas pegar que é bom! O que ela não tem de esperta, tem de agilidade.

Perái. Acabei de vê-la. Já volto.

...

Me deu baile e foi para trás da geladeira. Coloquei uma armadilha de uvas passas na direção da gaiola: vamos ver se ela aparece.

(Uma hora depois)

Ela não resistiu e veio passear no escritório. Fechei a porta e peguei a bichinha. Agora estão as duas lá na gaiola, cansadas e dormindo. Ô aventura!

Imagem: http://www.gerbilcare.org/gerbilhealth.php

Peito, peito, peito



Fazia um tempo que eu tinha começado um post sobre amamentação, mas então as coisas se embolaram e acabei não terminando.


Hoje, finalmente consegui responder a uma pesquisa sobre amamentação prolongada e, ao terminar, percebi que grande parte do que queria dizer no post estava lá. É o que agora está aqui.

***

Bom. Para começar, talvez seja importante dizer que nem sempre amamentar teve a importância que passou a ter depois do nascimento do Rodrigo. Eu achava importante, queria amamentar, mas achava que até 10 meses seria mais do que bom.

Depois do nascimento do Rodrigo, tive uma dificuldade no começo com a pega, mas que em 20 dias se resolveu (com ajuda da minha mãe e da pediatra) e depois foi muito tranquilo - ele mamava bem, engordava bastante.

Quando o Rodrigo estava com uns cinco meses, entrei para a lista da Materna e aí é que fui conseguindo entender melhor algumas coisas. Eu percebia que acordar à noite estava sendo muito cansativo e estressante, e que o Rodrigo não aceitava não mamar ou ficar no colo do pai: ele queria peito. Com as experiências que conheci na lista, criei coragem para fazer algo que queria fazer desde que o Rodrigo nasceu, mas tinha medo; colocá-lo para dormir com a gente. A crise passou: não só as noites ficaram mais tranquilas, sem levanta/senta/dá mamá/volta pra cama quanto ele passou a dormir bem mais continuamente: ele queria só estar perto da gente, se sentir seguro.

Estou chamando a atenção para isso, porque este é um dos motivos para eu ter mudado de idéia em relação ao momento do desmame: acho que a amamentação é uma forma de comunicação privilegiada com o bebê. Observando a demanda do Rodrigo por mamar, eu antecipava gripes e viroses, entendia mais rápido quando ele estava inseguro etc. Em outras palavras, é um ótimo "termômetro".

Conforme ele foi crescendo, isso ficou ainda mais visível. As mamadas se espaçaram e aumentou a minha sensibilidade às variações na demanda, Foi assim que pude perceber que ele estava precisando de mais passeios ao ar livre; ou que ele estava querendo mais contato com outras crianças; ou que eu estava exagerando em delegar os cuidados com ele e até que ele estava confuso por eu trabalhar em casa. A maneira dele dizer em geral passava pelo peito e pela baixa tolerância à frustração, caso eu não pudesse dar.

A amamentação prolongada não é exatamente fácil; há pressão pelo desmame e cheguei a trocar o Rodrigo de escola porque as berçaristas passaram a dizer para ele que ele estava grande e não deveria mais mamar! Isso quando ele tinha pouco mais de um ano. Se não fosse o apoio da lista, acho que não teria chegado até aqui.

De vez em quando penso em desmamar o Rodrigo, que hoje está com dois anos e oito meses, mas realmente gostaria que ele desmamasse sozinho. Hoje ele passa alguns dias sem mamar e já até ficou na casa da avó sem problemas. Ele pede uma ou duas vezes no dia e mama pouquinho. Mas isso é recente - desde que ele pegou uma virose que fez estourarem aftas e, pela primeira vez desde que ele nasceu, o peito não pôde resolver já que ele não conseguia mamar.

Ele ficou cinco dias sem mamar com essa virose. Mas depois voltou, nesse esquema bem moderado. A minha interpretação é que pela primeira vez, ele e eu, percebemos que ele pode ser amparado de uma outra maneira que não o peito...Então, ambos percebemos que era possível dar um salto na nossa comunicação, deixando o peito um pouco de lado.

Embora, desde então, ele peça também para "dormir no meu peito". Ele não precisa mais mamar, mas quer um aconchego nesse "lugar". É muito bacana perceber como de fato o peito e o mamar ficam como uma referência de segurança e aconchego.

E por isso acho tão importante a amamentação prolongada e o desmame natural. Amamentar "prolongadamente" significa reconhecer que nossos bebês demoram um pouco mais para se tornarem independentes do que gostamos de acreditar - ainda que andem, falem, conversem e cantem, eles precisam dessa comunicação que passa pelo corpo, pelo contato físico, pela "ilusão" de ainda se misturarem à mãe. E o desmame natural é bonito porque significa estar atento para o momento em que a criança se sente segura para se colocar no mundo de uma outra maneira, para dizer o que sente de outro modo.

Não acho que é por acaso que, logo depois da virose e da diminuição das mamadas, o Rodrigo tenha passado a expressar suas emoções mais claramente "estou bravo", "estou triste", "estou cansado", "estou com frio". Já não é uma mistura de sensações que dão vontade de mamar, mas uma sensação específica, conhecida, que não dá mais tanto medo...

Amamentar para mim é ensinar o meu filho a se sentir seguro e amado. E, agora é que estou pensando, não tenho muita clareza ainda, mas acho que talvez nem o ato de amamentar apenas na hora em que se dá o peito, mas o todo da amamentação: a hora de dar o peito, mas a hora em que não dá para dar; a hora de ir colocando limites ou de dizer que a gente confia que ele já pode dizer de outro jeito; enfim, amamentar como essa forma de comunicação entre mãe e filho. Amamentar certamente me ensinou a ser uma mãe mais atenta para ele.

Imagem: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/images/139_amamentacao/5132219_amamentacao4.jpg

Gagueira

"tem cacófato que é funcional
afinal, às vezes,
o coração também gagueja". (Alice Ruiz)

Como diz um dos poemas prediletos do Rodrigo: "Eu hoje acordei muito esquisito" (Sérgio Caparelli).

Até teria coisas para dizer: fim-de-semana intenso, que começou na sexta-feira com passeio pela Liberdade com a Martina e conversas boas e comemoração com a Monika (a mais nova doutoranda do pedaço); seguiu no sábado com festa junina na escola da Jú, para vê-la dançar; e no domingo teve espaço ainda para assistir "João Cabeça de Feijão" com Rodrigo e "Senhora dos Afogados" com Mauricio, Pedro e mais pessoas novas e queridas.

Ufa! Acabei de entender: a esquisitice é cansaço.

05 junho, 2008

Mãe Monstro


Rodrigo parece estar descobrindo a raiva: reclama quando é contrariado, tenta bater e chutar, atira as coisas ao longe. Uma delícia... A gente às vezes briga, às vezes põe de castigo (não ele, mas o filme predileto, o brinquedo querido), às vezes tenta conversar com ele a ajudá-lo a entender o que está acontecendo.

De umas semanas para cá, ele cismou com a história Quando Mamãe virou um Monstro (Joanna Harrison, BrinqueBook).

Pede para contar várias vezes e, depois que terminamos, começa a contar ele mesmo, com ênfase nos detalhes mais deliciosos: - E então...ela soltava fumaça, e fogo e um urro terrííível...E ele adora a parte em que ela esquece de tirar o cabelo de monstro e quase atende a porta toda descabelada.

Um dia, enquanto lia, comentei que de vez em quando eu também virava um monstro. Ao que ele, em toda a sua sabedoria, respondeu: - Eu também virei, mamãe! E o papai, e a Júlia e a Bia...

Moral da história: todo mundo de vez em quando vira monstro. Com pés, orelha, cabelo e rabão.

Hoje de manhã, eu ainda estava de pijamas, toda descabelada. E Rodrigo achou um pente. Foi então que ele teve uma idéia super carinhosa: - Vem aqui, mamãe, que eu vou pentear o seu cabelo de monstro.

Bem penteada, fiquei um pouquinho menos monstra.


Imagem: http://www.weno.com.br/blog/archives/2007_02.html

04 junho, 2008

Te prometo

E hoje me lembrei que durante muito tempo eu achava que a música Dia Branco (Geraldo Azevedo/ Renato Machado) eram os votos mais bonitos e honestos que alguém podia fazer:

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva

Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Um pedaço de qualquer lugar

Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

Não é bonita essa promessa de simplesmente caminhar junto pro que der e vier?

Acho que é por isso que gosto tanto de um trechinho que um dia li lá no blog do Tony Monti:
Vem comigo. Te explico no caminho.

Parece tão simples, não é? Que acompanhar alguém seja aceitar o imprevisível do caminho.

Mas é tão difícil. A gente sempre parece querer saber se haverá sol ou chuva ou alegria ou tristeza ou prazer ou dor...

É por isso que gosto tanto desse convite: Vem comigo. Te explico no caminho. Despretensioso. Tranqüilo. Um suave estender a mão. Pra ver se o outro acompanha.


Monika


A cidade hoje está um pouco mais colorida, porque está entre nós a querida Monika.

Faz tempo que eu conheço a Monika. Mais de oito anos. Ela é minha amiga querida, quase-irmã. Com quem divido alegrias e tristezas, saúde e doença, sanidades e loucuras...

Ela também é a melhor companhia em um jantar romântico. Adoro nossos jantares a luz de velas, regados a vinho e palavras. Depois que nossos filhos nasceram, eles ficaram mais raros. Nem por isso menos necessários.

Eu admiro muito a Monika: não conheço ninguém que, como ela, saiba mobilizar o melhor que existe nas pessoas. Às vezes brigando, às vezes acolhendo, o fato é que nenhum problema é suficientemente grande quando a gente conversa com ela. Está lá a palavra certa, dita do jeito certo.

Ela é destemida. Forte. Independente. Mesmo quando tem medo, fraqueja ou precisa.

Ela também é linda, charmosa e cheia de estilo.

É só com a Monika que posso cantar em alto e bom som Kiss me in the rain and make me fell like a child again, bring back all those memories...Kiss me in the raaaaaiin, no melhor estilo Barbra Streisand.

Por tudo isso, hoje a cidade está mais colorida, apesar do cinza, porque sei que ela está por aqui. É que a Monika me faz parecer menos só.

Imagem: http://www.sab.org.br/med-terap/liga/aquarela1.jpg

03 junho, 2008

Veja, meu bem


Ontem, vínhamos no carro Edu e eu. Eu comentando de amigos queridos que ressurgem (Daniel, é com você...), ele me dizendo que eu tenho vários amigos queridos e eu dizendo que não, imagine, são poucos.

Vai daí que paramos no sinal e, quando olho pro lado, vejo o Vini. Aí começo a gritar: "Vini, Vini!!!". E Vini veio, pruma carona rápida e a ansiedade de cinco anos em cinco minutos. Ô gostosura!

Vini e eu moramos juntos por um pouco mais de dois anos. Começamos nós dois, depois se juntou a nós Petronio. Tempos intensos, de fim de curso, de virar gente grande, de amores um tantinho perros. Pra mim, vinda duma família super feminina, foi o máximo viver com esses meninos-homens. Me sentia super paparicada e adorava paparicá-los.

E eu já tinha pensado nele hoje. Vi alguém na USP que me fez lembrar dele e senti saudades.

Depois que já tínhamos nos despedido, tocou o telefone e era o Vini. Pra contar que se lembrou que, antes de nos encontrar, estava cantarolando uma música e pensando em mim, em Rodri (não o meu filhote, mas nosso amigo maranhense).

Veja você, arco-íris já mudou de cor
E uma rosa nunca mais desabrochou
Eu não quero ver você
com esse gosto de sabão na boca

Veja meu bem, gasolina vai subir de preço
Eu não quero nunca mais seu endereço
Ou é o começo do fim.
Ou é o fim*.

Tanta coisa boa, Vini. Eu te confesso que desde que tinha terminado o texto de qualificação que estava assim, meio esquisita, meio fora do tom. Encontrar você fez tudo ficar mais bonito e colorido, apesar dessas feridas da vida. Em poucos minutos, uma tarde inteira na nossa cozinha, tomando o cafézinho passado naquele seu coador de estimação, nas nossas xícarazinhas brancas. Dividindo o susto de estarmos vivos.

Gracias a la vida, que deu um jeito de colocar a gente no mesmo caminho. Adorei.

*Veja, Margarida de Vital Farias.

Imagem: http://www.asmrpg.com.br/wiki/Margarida