Fazia um tempo que eu tinha começado um post sobre amamentação, mas então as coisas se embolaram e acabei não terminando.
Hoje, finalmente consegui responder a uma pesquisa sobre amamentação prolongada e, ao terminar, percebi que grande parte do que queria dizer no post estava lá. É o que agora está aqui.
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Bom. Para começar, talvez seja importante dizer que nem sempre amamentar teve a importância que passou a ter depois do nascimento do Rodrigo. Eu achava importante, queria amamentar, mas achava que até 10 meses seria mais do que bom.
Depois do nascimento do Rodrigo, tive uma dificuldade no começo com a pega, mas que em 20 dias se resolveu (com ajuda da minha mãe e da pediatra) e depois foi muito tranquilo - ele mamava bem, engordava bastante.
Quando o Rodrigo estava com uns cinco meses, entrei para a lista da Materna e aí é que fui conseguindo entender melhor algumas coisas. Eu percebia que acordar à noite estava sendo muito cansativo e estressante, e que o Rodrigo não aceitava não mamar ou ficar no colo do pai: ele queria peito. Com as experiências que conheci na lista, criei coragem para fazer algo que queria fazer desde que o Rodrigo nasceu, mas tinha medo; colocá-lo para dormir com a gente. A crise passou: não só as noites ficaram mais tranquilas, sem levanta/senta/dá mamá/volta pra cama quanto ele passou a dormir bem mais continuamente: ele queria só estar perto da gente, se sentir seguro.
Estou chamando a atenção para isso, porque este é um dos motivos para eu ter mudado de idéia em relação ao momento do desmame: acho que a amamentação é uma forma de comunicação privilegiada com o bebê. Observando a demanda do Rodrigo por mamar, eu antecipava gripes e viroses, entendia mais rápido quando ele estava inseguro etc. Em outras palavras, é um ótimo "termômetro".
Conforme ele foi crescendo, isso ficou ainda mais visível. As mamadas se espaçaram e aumentou a minha sensibilidade às variações na demanda, Foi assim que pude perceber que ele estava precisando de mais passeios ao ar livre; ou que ele estava querendo mais contato com outras crianças; ou que eu estava exagerando em delegar os cuidados com ele e até que ele estava confuso por eu trabalhar em casa. A maneira dele dizer em geral passava pelo peito e pela baixa tolerância à frustração, caso eu não pudesse dar.
A amamentação prolongada não é exatamente fácil; há pressão pelo desmame e cheguei a trocar o Rodrigo de escola porque as berçaristas passaram a dizer para ele que ele estava grande e não deveria mais mamar! Isso quando ele tinha pouco mais de um ano. Se não fosse o apoio da lista, acho que não teria chegado até aqui.
De vez em quando penso em desmamar o Rodrigo, que hoje está com dois anos e oito meses, mas realmente gostaria que ele desmamasse sozinho. Hoje ele passa alguns dias sem mamar e já até ficou na casa da avó sem problemas. Ele pede uma ou duas vezes no dia e mama pouquinho. Mas isso é recente - desde que ele pegou uma virose que fez estourarem aftas e, pela primeira vez desde que ele nasceu, o peito não pôde resolver já que ele não conseguia mamar.
Ele ficou cinco dias sem mamar com essa virose. Mas depois voltou, nesse esquema bem moderado. A minha interpretação é que pela primeira vez, ele e eu, percebemos que ele pode ser amparado de uma outra maneira que não o peito...Então, ambos percebemos que era possível dar um salto na nossa comunicação, deixando o peito um pouco de lado.
Embora, desde então, ele peça também para "dormir no meu peito". Ele não precisa mais mamar, mas quer um aconchego nesse "lugar". É muito bacana perceber como de fato o peito e o mamar ficam como uma referência de segurança e aconchego.
E por isso acho tão importante a amamentação prolongada e o desmame natural. Amamentar "prolongadamente" significa reconhecer que nossos bebês demoram um pouco mais para se tornarem independentes do que gostamos de acreditar - ainda que andem, falem, conversem e cantem, eles precisam dessa comunicação que passa pelo corpo, pelo contato físico, pela "ilusão" de ainda se misturarem à mãe. E o desmame natural é bonito porque significa estar atento para o momento em que a criança se sente segura para se colocar no mundo de uma outra maneira, para dizer o que sente de outro modo.
Não acho que é por acaso que, logo depois da virose e da diminuição das mamadas, o Rodrigo tenha passado a expressar suas emoções mais claramente "estou bravo", "estou triste", "estou cansado", "estou com frio". Já não é uma mistura de sensações que dão vontade de mamar, mas uma sensação específica, conhecida, que não dá mais tanto medo...
Amamentar para mim é ensinar o meu filho a se sentir seguro e amado. E, agora é que estou pensando, não tenho muita clareza ainda, mas acho que talvez nem o ato de amamentar apenas na hora em que se dá o peito, mas o todo da amamentação: a hora de dar o peito, mas a hora em que não dá para dar; a hora de ir colocando limites ou de dizer que a gente confia que ele já pode dizer de outro jeito; enfim, amamentar como essa forma de comunicação entre mãe e filho. Amamentar certamente me ensinou a ser uma mãe mais atenta para ele.
Imagem: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/images/139_amamentacao/5132219_amamentacao4.jpg
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