Desde quarta-feira que eu estava meio estranha: uns sobressaltos por dentro, uma mistura de impulsos bandeirantes de sair por aí, desbravando caminhos, e absoluto desespero ao me dar conta dos meus limites diante do tamanho da empreitada.
Minha experiência do mestrado foi absolutamente diferente da deste doutorado: desde o início eu tinha uma questão clara, que me mobilizava, me dava vontade de pensar e pesquisar; eu tinha a bolsa FAPESP, que me obrigava a cumprir prazos e a efetivamente trabalhar; eu não tinha filho; eu participava de vários grupos e seminários de discussão...Em outras palavras, eu vivia o clima da pesquisa intensamente e o processo todo foi muito prazeroso, assim como o resultado.
Este doutorado já começou um tantinho diferente, já que mal tive tempo entre a defesa do mestrado e a entrega do projeto (na verdade, fiz as duas coisas no mesmo dia). Não tive distância, nem muito menos novas referências sobre as quais apoiar as questões que eu começava a pensar.
Engravidei do Rô já no primeiro semestre do doutorado e assim, a atenção e a energia que deveriam ser postas na pesquisa, se deslocaram para a preparação dessa pessoinha tão querida que tinha me escolhido para ser mãe dela. Primeiro trimestre: fiquei quase inútil por causa dos enjôos. E o terceiro trimestre eu fiquei quase inútil por causa de um repouso mal indicado e a pressa do Rô, que adiantou 3 semanas. Depois do nascimento do Rô, quatro meses de simbiose total, em que qualquer coisa além de cuidar dele era impensável.
Depois, teve o trabalho lá em Osasco, que eu adoro, mas que dividia as minhas energias com os cuidados com o Rô. Naquela época, ele ficava 4 horas no berçário e era esse o único tempo que eu tinha para trabalhar. Eu não queria deixá-lo mais tempo lá, mas também não conseguia trabalhar em casa. E assim o tempo foi passando, meu prazo correndo, eu ia fazendo a pesquisa, mas como se fosse suficiente "seguir adiante", sem voltar aquele passo para a construção de um bom problema de pesquisa.
Desde o início do ano passado que eu estava escrevendo esse texto de qualificação. É, esse mesmo que eu entreguei há três semanas. Mais de um ano para escrevê-lo e mesmo assim só escrevi porque precisava entregar, pois sabia desde o começo que não estava bom.
No ano passado, em agosto, apresentei uma parte do texto que estava escrevendo em um seminário e aí ficou muito claro o erro da estratégia de seguir caminhando adiante: nada é interessante por si só, né? O que dá interesse pras coisas são as questões com as quais a gente constrói tensões, problemas...É o recorte, a entrada...Eu estava lá, com uma montanha de coisas que não me diziam nem me provocavam nada. Porque, naquela altura, eu não tinha mais nada a ver com aquilo, mesmo.
Mas e como é que a gente reconhece essas coisas? Onde a gente arruma coragem pra abandonar um doutorado, mesmo que a pesquisa não seja exatamente o que a gente quer? Como é que eu ia arrumar coragem para admitir que, à diferença da minha mãe, e de tanta gente eu não dava conta de filho, casamento, doutorado, trabalho?
Não que no meu dia-a-dia eu não admitisse: afinal, eu continuava lá, no melhor estilo equilibrista, passando mal para não abandonar o Rô, resolver o casamento, não desapontar muito o trabalho...E o doutorado, a coisa que era mais minha e que dependia única e exclusivamente de mim lá - abandonado.
Mas depois desse seminário do ano passado, eu resolvi que ia cuidar do meu doutorado, sim. Ainda tentei equilibrar um pouco as coisas, mas o resultado foi - um pé torcido, gripes e dores de garganta, costas travadas duas vezes, casamento de perna pro ar...É. Não dá mesmo. Quatro meses que pareceram um imenso e interminável agosto, por dentro e por fora.
Então, depois de muitas conversas e tentativas de pensar o que era possível fazer, percebi que seria preciso parar de trabalhar até a entrega da tese, assumindo todas as consequências (principalmente econômicas) desta decisão. E assim estamos.
Nesses seis meses, as coisas caminharam. Obviamente não a ponto de superar os três anos de abandono, mas andaram sim. Eu tenho uma questão mais clara. Não tenho ainda a melhor estratégia, mas a questão tá clara, tá no corpo. É uma questão que me dá vontade de pesquisar, de pensar...Me mobiliza.
Estou contando toda essa longa história porque na semana passada foi minha qualificação, né? E foi muito duro, de vários pontos de vista. Mas ao mesmo tempo foi muito bom.
Se fosse no ano passado, essa qualificação teria me desorganizado inteiramente; teria me feito abandonar tudo e chorar minhas mágoas por um longo tempo. Mas agora, que pelo menos encontrei uma direção, foi ótimo ter referências, ouvir coisas que me fizeram por em perspectiva o que venho tentado pensar - apontando: isso não é novo, isso é bacana, isso não está nenhum pouco claro...É muito bom quando aquela indefinida sensação de que algo não está encaixando ganha nome, corpo e forma!
Lógico que é difícil ouvir que as coisas não estão claras e maduras como poderiam. Mas ao mesmo tempo é tão bom poder compartilhar a preocupação sobre o que vai dar ou não para fazer, poder dimensionar melhor a encrenca...
Não sei. Pode ser meio masoquista da minha parte, mas putz! fiquei tão aliviada de saber que minha insatisfação não era devida a nenhuma absurda exigência de excelência de mim em relação a mim mesma e sim porque tem trabalho a ser feito...
Durante a pesquisa do mestrado, eu praticamente só ouvi elogios. Ouvi ponderações, levei uns puxões de orelha, claro. Mas ouvi principalmente elogios. Me senti tão perdida! A ponto de sempre sublinhar as falhas e lacunas da dissertação porque, afinal, alguém tinha que apontá-las, já que elas sem dúvida existem. E eu lá, com aquele peso enorme de identificá-las para poder fazer diferente da próxima vez.
Para mim, muito mais importante é essa generosidade de ajudar o outro a reconhecer o que é bom, o que pode ser melhor e o que é ruim; o que é suficiente e o que não é; o que está claro e o que não está. Sem referências, a gente passa mais tempo correndo atrás do próprio rabo do que chegando em algum lugar.
E eu agora realmente tenho um lugar aonde quero chegar.
Minha experiência do mestrado foi absolutamente diferente da deste doutorado: desde o início eu tinha uma questão clara, que me mobilizava, me dava vontade de pensar e pesquisar; eu tinha a bolsa FAPESP, que me obrigava a cumprir prazos e a efetivamente trabalhar; eu não tinha filho; eu participava de vários grupos e seminários de discussão...Em outras palavras, eu vivia o clima da pesquisa intensamente e o processo todo foi muito prazeroso, assim como o resultado.
Este doutorado já começou um tantinho diferente, já que mal tive tempo entre a defesa do mestrado e a entrega do projeto (na verdade, fiz as duas coisas no mesmo dia). Não tive distância, nem muito menos novas referências sobre as quais apoiar as questões que eu começava a pensar.
Engravidei do Rô já no primeiro semestre do doutorado e assim, a atenção e a energia que deveriam ser postas na pesquisa, se deslocaram para a preparação dessa pessoinha tão querida que tinha me escolhido para ser mãe dela. Primeiro trimestre: fiquei quase inútil por causa dos enjôos. E o terceiro trimestre eu fiquei quase inútil por causa de um repouso mal indicado e a pressa do Rô, que adiantou 3 semanas. Depois do nascimento do Rô, quatro meses de simbiose total, em que qualquer coisa além de cuidar dele era impensável.
Depois, teve o trabalho lá em Osasco, que eu adoro, mas que dividia as minhas energias com os cuidados com o Rô. Naquela época, ele ficava 4 horas no berçário e era esse o único tempo que eu tinha para trabalhar. Eu não queria deixá-lo mais tempo lá, mas também não conseguia trabalhar em casa. E assim o tempo foi passando, meu prazo correndo, eu ia fazendo a pesquisa, mas como se fosse suficiente "seguir adiante", sem voltar aquele passo para a construção de um bom problema de pesquisa.
Desde o início do ano passado que eu estava escrevendo esse texto de qualificação. É, esse mesmo que eu entreguei há três semanas. Mais de um ano para escrevê-lo e mesmo assim só escrevi porque precisava entregar, pois sabia desde o começo que não estava bom.
No ano passado, em agosto, apresentei uma parte do texto que estava escrevendo em um seminário e aí ficou muito claro o erro da estratégia de seguir caminhando adiante: nada é interessante por si só, né? O que dá interesse pras coisas são as questões com as quais a gente constrói tensões, problemas...É o recorte, a entrada...Eu estava lá, com uma montanha de coisas que não me diziam nem me provocavam nada. Porque, naquela altura, eu não tinha mais nada a ver com aquilo, mesmo.
Mas e como é que a gente reconhece essas coisas? Onde a gente arruma coragem pra abandonar um doutorado, mesmo que a pesquisa não seja exatamente o que a gente quer? Como é que eu ia arrumar coragem para admitir que, à diferença da minha mãe, e de tanta gente eu não dava conta de filho, casamento, doutorado, trabalho?
Não que no meu dia-a-dia eu não admitisse: afinal, eu continuava lá, no melhor estilo equilibrista, passando mal para não abandonar o Rô, resolver o casamento, não desapontar muito o trabalho...E o doutorado, a coisa que era mais minha e que dependia única e exclusivamente de mim lá - abandonado.
Mas depois desse seminário do ano passado, eu resolvi que ia cuidar do meu doutorado, sim. Ainda tentei equilibrar um pouco as coisas, mas o resultado foi - um pé torcido, gripes e dores de garganta, costas travadas duas vezes, casamento de perna pro ar...É. Não dá mesmo. Quatro meses que pareceram um imenso e interminável agosto, por dentro e por fora.
Então, depois de muitas conversas e tentativas de pensar o que era possível fazer, percebi que seria preciso parar de trabalhar até a entrega da tese, assumindo todas as consequências (principalmente econômicas) desta decisão. E assim estamos.
Nesses seis meses, as coisas caminharam. Obviamente não a ponto de superar os três anos de abandono, mas andaram sim. Eu tenho uma questão mais clara. Não tenho ainda a melhor estratégia, mas a questão tá clara, tá no corpo. É uma questão que me dá vontade de pesquisar, de pensar...Me mobiliza.
Estou contando toda essa longa história porque na semana passada foi minha qualificação, né? E foi muito duro, de vários pontos de vista. Mas ao mesmo tempo foi muito bom.
Se fosse no ano passado, essa qualificação teria me desorganizado inteiramente; teria me feito abandonar tudo e chorar minhas mágoas por um longo tempo. Mas agora, que pelo menos encontrei uma direção, foi ótimo ter referências, ouvir coisas que me fizeram por em perspectiva o que venho tentado pensar - apontando: isso não é novo, isso é bacana, isso não está nenhum pouco claro...É muito bom quando aquela indefinida sensação de que algo não está encaixando ganha nome, corpo e forma!
Lógico que é difícil ouvir que as coisas não estão claras e maduras como poderiam. Mas ao mesmo tempo é tão bom poder compartilhar a preocupação sobre o que vai dar ou não para fazer, poder dimensionar melhor a encrenca...
Não sei. Pode ser meio masoquista da minha parte, mas putz! fiquei tão aliviada de saber que minha insatisfação não era devida a nenhuma absurda exigência de excelência de mim em relação a mim mesma e sim porque tem trabalho a ser feito...
Durante a pesquisa do mestrado, eu praticamente só ouvi elogios. Ouvi ponderações, levei uns puxões de orelha, claro. Mas ouvi principalmente elogios. Me senti tão perdida! A ponto de sempre sublinhar as falhas e lacunas da dissertação porque, afinal, alguém tinha que apontá-las, já que elas sem dúvida existem. E eu lá, com aquele peso enorme de identificá-las para poder fazer diferente da próxima vez.
Para mim, muito mais importante é essa generosidade de ajudar o outro a reconhecer o que é bom, o que pode ser melhor e o que é ruim; o que é suficiente e o que não é; o que está claro e o que não está. Sem referências, a gente passa mais tempo correndo atrás do próprio rabo do que chegando em algum lugar.
E eu agora realmente tenho um lugar aonde quero chegar.
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