27 julho, 2012

encontro

Ontem, por acaso, encontrei um livro de Shaun Tan. Que virou meu presente de aniversário antecipado, tão encantada fiquei com as histórias e as ilustrações.

E então, hoje, descobri esta animação, bem agridoce. Pra gente já ir enchendo a dispensa com provisões para enfrentar agosto.

20 julho, 2012

escribir

"Le conté sobre la novela nueva. Le dije que al comienzo avanzaba a pulso seguro, pero que de a poco había perdido el ritmo o la precisión. Por qué no la escribes de una vez, me aconsejó, como si no me conociera, como si no hubiera estado conmigo a lo largo de tantas noches de escritura. No lo sé, le respondí. Y en verdad no lo sé.
Lo que pasa, Eme, pienso ahora, un poquito borracho, es que espero una voz. Una voz que no es la mía. Una voz antigua, novelesca, firme.
O es que me gusta estar en el libro. Es que prefiro escribir a haber escrito. Prefiro permanecer, habitar ese tiempo, convivir con esos años, perseguir largamente imágenes esquivas e repasarlas con cuidado. Verlas mal, pero verlas. Quedarme ahí, mirando" (Alejandro Zambra. Formas de volver a casa. Barcelona: Anagrama, 2011: p.55).

13 julho, 2012

o gosto do cloro*

Nas minhas lembranças de criança, as infinitas tardes passadas na piscina, do clube ou do prédio. Entre amigos, brincadeiras e conversas, no final do dia todas as luzes cintilando arco-íris - os olhos vermelhos, o corpo tostado e exausto. Era bom.
Quando fazíamos aulas de natação, era diferente. A escola imensa, várias piscinas. O fim de tarde raspando a noite, e a gente ali, a obedecer as instruções: não me lembro de nenhuma-nenhuma-nenhuma. A memória de tudo isso só nos músculos. O que lembro é só do gosto da sopa de caneca, pra esquentar a parada abrupta e o vento tomado no trajeto do portão até o apartamento. Depois de nadar e esquentar e esfriar, esquentar de novo. Bom.
Uma vez, numas férias, a menininha bem pequena descobria a própria respiração. Extasiada, chamava insistente a mãe para ver as bolhas mágicas debaixo d'água. A mãe nem-te-ligo, distraída na conversa. E todo aquele espetáculo submerso se desvelando sob os olhos da filha. Tão bom.
Quando voltei a nadar, foi mais por necessidade que por vontade - as costas fracas sucumbindo ao próprio peso, doendo dores intensas, que nem as agulhas do acupunturista conseguiam dar jeito. A água a me salvar do sangue fervendo poças em torno da agulha. Eu chegava cedo, 6h30 da manhã, e me lançava na água, ainda adormecida. Era bom aquele silêncio de braçadas, vai-e-vem, de luz suavizada pelo verde dos óculos... o corpo aprendendo a deslizar, mobilizando forças para vencer a voragem do afogamento. Muito bom.
Ultimamente, nadar é me enfrentar comigo mesma. Meu corpo que envelhece. Minha memória falha, que confunde as instruções do professor em meio à série de exercícios. Meu joelho dolorido. Minhas dificuldades em reunir as pequenas correções de cada aula em um novo movimento, bonito e confortável. É me sentir aprendendo - de novo ou finalmente - com a fluidez da água. É me sentir pedra, dura e pesada. É me sentir plena de ar: suave, leve. Sim, é bom.

* título da delicadíssima graphic novel de Bastien Vivès (São Paulo: LeYa/Barba Negra, 2012).

08 julho, 2012

bonsai

"Escrever é como cuidar de um bonsai, pensei então, e penso agora: escrever é podar os ramos até tornar visível uma forma que já estava ali, escondida; escrever é cercar com arame a linguagem para que as palavras digam, de uma vez, o que queremos dizer; escrever é ler um texto não escrito, tal como observa Marcelo Pellegrini em um poema que naquele tempo constituía, para mim, uma inquietante música de fundo: Para ler o que quero ler / Teria que escrevê-lo / Mas não sei escrevê-lo / Ninguém sabe escrevê-lo." (Alejandro Zambra, em texto traduzido aqui).

06 julho, 2012

volta e meia

 o mundo gira e eu volto a esse poema.

Teoria do Mundo (Marcos Visnadi)

O mundo acaba a cada
vez: que alguém morre ou se
estraçalha uma bala de
fuzil num corpo
inerme, ou a conta não
é paga e te expulsam ou
te prendem. O mundo acaba
várias vezes.

Se uma árvore cai no
meio da floresta e ninguém
ouve faz barulho? Ela é menos
árvore?

Depois, esquilos saltam
do tronco o mundo renasce:
na matéria decomposta, nos novos
rumos da carne. Em quem encontra
a árvore morta e
chora, diz "Ai
esta árvore".

Ai esta Terra. Que
gira e deixa a gente
tonto. Chacoalha de si
tantos tipos de árvores.

Às vezes,
chacoalha também
algum tipo de monstro.

A gente gira junto.
Não podemos fazer de outro modo.
De girar e girar, de repente é que
a gente se encontra. E o mundo,
que tinha acabado,
reabre suas comportas.

A manhã, meu bem, é uma volta.

05 julho, 2012

no museu

os quadros, tão vívidos, me dão inveja. ou ao menos uma espécie de inveja: entre a admiração e a vontade de chegar ali, perto daquela conquista. na tela se fixa, além da imagem, a força da pincelada, a alquimia das cores, a pressa ou o cuidado, a fúria ou a delicadeza - uma parte do estado de espírito de quem derramou a própria urgência na trama branca.
as palavras, frente a essa experiência de ver, um pouco inodoras, insípidas e incolores. o arranjo da forma posto no mundo sem vestígios daquele que riscou as letras no caderno, a traçados leves e apressados ou em ponta de lápis firmemente apertada - as páginas seguintes a ecoar a escritura.
no tóxico da tinta que inebria se preserva o pintor. na seiva que escorre das entrelinhas, abranda a sede infinita do leitor.
no silêncio colorido do museu, me impaciento com as palavras, premidas entre o bonito e o útil. e fico querendo saber o mundo com os olhos e as mãos.

03 julho, 2012

coragem

pra responder ao chamado dessa lua indecorosa e se jogar na vida, com um tanto de coragem e outro tanto de alegria. pra já começar a reunir forças para atravessar agosto.



* o clipe do R.E.M. vi lá na Dani. O da Robyn foi dica da Bia e da Júlia.

02 julho, 2012

sísifo

linda, linda essa imagem da incapacidade de esquecer: I have buried you/ every place I've been (...) You keep ending up/ every place I've been.