24 março, 2014

(mais) bobagenzinhas

depois que assisti "Ela", fiquei imaginando qual voz no sistema operacional teria mais chances de me fazer ficar apaixonada. a não ser em casos muito especiais, raramente pensamos na voz das pessoas que nos cercam. eu, pelo menos, nunca tinha pensado. até um namorado me dizer que a primeira coisa que chamou a atenção dele foi o tom doce e suave da minha voz (o que era uma ilusão, como ele logo percebeu quando conheceu todas as outras modulações). ou até uma amiga comentar sobre a voz grave e masculina do meu marido, ao telefone - dessa vez não era ilusão: é verdade mesmo.
fato é que "Ela" incita nossa imaginação a esse respeito, já que a voz é o mais concreto e "físico" daquele "ser" que não é corpo.
logo que assistimos o filme, disse pro Edu que queria um sistema operacional com a voz do Nathan Fillion. mas aí a Bia descobriu essa banda, e o Nathan Fillion perdeu um tiquinho de seu espaço... acho que quero um com a voz grave desse moço aí (que, nesse vídeo, na verdade só aparece lá na última música).


21 março, 2014

bobagenzinhas

para começar o final de semana se impressionando com o cuidado da Disney não só com as boas versões (e vale mesmo a pena brincar de explorar cada uma delas!), mas até mesmo com a continuidade de timbres das cantoras das diversas línguas!


num tom mais alternativo, vale dançar com os meninos (doidinhos) do Ylvis:




05 março, 2014

pra inaugurar a quaresma

(pensamentos em três tempos, na quarta-feira de cinzas de 2014).

- Quando eu era pequena, adorava ouvir as histórias em disquinhos, ainda que bem no meio, às vezes no melhor da história, tivesse que virar... A gente tinha duas coleções - uma da Disney, e outra que chamava Taba. Essa era minha preferida - com seus diferentes universos, as músicas deliciosas. Já comentei que adorava a do Marinheiro Marinho,  uma pequena lição de inconformação. A segunda em preferência era a do Bom-Dia Todas as Cores, sobre um camaleão que queria muito agradar. Mas uma que eu também adorava era a do Sapo Vira Rei Vira Sapo, também da Ruth Rocha (acho que em livro chama "A volta do Reizinho Mandão"). Era uma lição sobre autoritarismo, sobre como a lei pode ser absurda, sobre desobediência civil. E era uma lição importante para uma geração como a minha, que nasceu quando a ditadura já ia "acabando". Mas ultimamente a história toda ganhou atualidade, infelizmente não pelo trabalho da memória...


- E aí leio a coluna da Eliane Brum, de novo tão precisa ao cutucar nossas feridas; de novo tão relacionada às reflexões que estou propondo na minha disciplina optativa este semestre, em seu apelo para que escutem o louco.

- Passei uma parte do feriado lendo K, do Bernardo Kucinski, que a Cosac acaba de republicar. É lindo e duro, muito duro. E foi bem interessante ler depois de ter lido, em janeiro, Poder e Desaparecimento, da Pilar Calveiro. Pois o desvendamento desse mecanismo de poder, que intencionalmente faz desaparecer - e não apenas por encobrimento, mas para produzir um tipo bastante específico de terror e medo - é um tema comum a ambos os livros. Talvez também comum a ambos seja a crítica incisiva à uma espécie de transe em que parte da esquerda se lançou, levando muitos jovens em direção à morte por um tipo específico de alienação. (No texto de Calveiro, isso aparece ao longo das reflexões; no de Kucinski, aparece condensada na carta que encerra o livro).
Embora se trate de algo absolutamente distinto, em parte dos relatos de sobreviventes da Shoah há a manifestação da determinação em sobreviver para contar, para narrar o horror, para testemunhar o absurdo; pois o sentido sacrificial de purgação era dado pelo outro lado, o dos nazistas (daí a recusa de parte dos sobreviventes do termo Holocausto, que reafirmaria tal sentido). E é como se entre a esquerda latino-americana se passasse o inverso - como se o poder desaparecedor tivesse consciência de seu sentido pragmático (embora em alguns casos também houvesse a crença da purgação necessária em nome de um projeto nacional, da ordem ou do enfrentamento dos inimigos internos), mas os que foram tragados no sorvedouro acreditassem que, em sua ausência, a história se encarregaria de esclarecer os sentidos do sacrifício de suas vidas. Deixaram tarefa aos vivos, que não têm como "recuperar" os sentidos de coisa alguma: podem somente tentar atribuir sentido a partir do presente. O problema está em que por vezes esse sentido se ausenta, espirra nas mãos ensaboadas e aí é tênue a linha que separa o labor do luto da tentação do juízo - em especial quando a possibilidade efetiva de julgamento está, como em nosso caso, interditada.

- "E no entanto é preciso cantar/mais que nunca é preciso cantar/ é preciso cantar e alegrar a cidade".