26 abril, 2011

maré

Parar para escrever não tem sido nada fácil. Já perdi a conta de quantas vezes cliquei em Nova Postagem, provocada pela vontade de colocar em palavras uma impressão, uma experiência ou mesmo a dificuldade de reservar um tempo para deixar a maré baixar e ficar à espreita do que emerge.

Escrever exige de mim um respirar mais lento. Um pouco de silêncio ou um pouco de música recém-descoberta em loop. É que tem música que ressoa tanto que amplia o silêncio, delineia  melhor os cantos por dentro da gente. A de hoje é essa aqui:



Quem me deu o filme foi o Mauricio. E estou morrendo de saudade do Mauricio. Mas me lembrei das músicas porque reencontrei a Monika no feriado e essa foi uma das coisas que ouvimos. Ouvimos também  (e contamos) histórias, desejos, cotidianos, descobertas... Reencontrei também a Mércia e a Tarsila, queridas e companheiras, tão suaves que demandavam a maciez do silêncio para não acordar as dores ainda cicatrizando.

E então a chuva e o frio e o cinza. A morte e a dor tão próximas dos que amamos. É do silêncio, portanto, que escrevo. Do vazio cavado à força, por dentro de um tempo roubado ao do relógio. Deveria estar trabalhando, terminando a declaração do IR, respondendo mensagens. E no entanto paro e escrevo para tentar segurar o mar com as pontas dos pés: o esforço inútil esquecido na brincadeira de cavar buracos na areia, de ver os pés se cobrindo de areia molhada - ampulheta sem redoma.

Por três vezes nas últimas semanas cruzei desconhecidos que pouco depois reencontrei - num outro andar, algumas ruas adiante, em frente ao mesmo elevador... Engraçado, né? A desconfiança de que as coincidências são pequenos sinais de alguma ordem oculta que governa o mundo...

Tão vendo? Desaprendi de escrever. Começo e não sei terminar. Espero a maré baixar, começo,  apenas para me abandonar no excesso de água e sal. Não vou me debater para não me afogar. Vou confiar, como o Quintana, que continuarei vindo "à tona de todos os naufrágios".

Então acho que por enquanto é isso: essas letras um tanto borradas, ainda úmidas e rescendendo à maresia. Um barulho indistinto que nem é silêncio, nem é conversa: é só o eco da saudade doída que a gente ameniza levando a concha aos ouvidos.