29 setembro, 2011

lua em libra

adoro a ideia de encontro. encontro como o momento oportuno, em que é possível olhar o outro nos olhos e reconhecê-lo. como a cheia do rio, que inunda e torna fértil e depois dela, a gente fica ao menos um pouquinho mais capaz de florir nas primaveras. encontro como a coincidência que ampara, que faz crer numa ordem qualquer - mundana ou celeste. como a sombra fresca na qual o refúgio é possível. encontro como bolha de sabão - ilusória proteção, nem por isso menos bonita. encontro como o momento em que a gente se abeira do outro e não duvida da coragem, então salta.
gosto tanto da ideia de encontro que às vezes até esqueço que o encontro também pode ser colizão. a freada brusca sulcando o peito quando à frente: um muro de descaso. a coincidência virada em fatalidade - a hora errada, o lugar errado, a pessoa errada. os caquinhos de vidro, o pó levantado e a gente tonto, torto, em meio à confusão.
a boniteza e a violência do encontro. a delicadeza e a intensidade do encontro. que da vida a gente não escapa nem quando sai ileso.

25 setembro, 2011

sem palavras

tem tempos em que o silêncio é fervura: pura incapacidade de fazer brotar as palavras no mesmo ritmo que o sentimento ebulindo, frenético. as palavras, desconexas, revirando a superfície quando pronunciadas. revolvendo a todo o tempo as profundezas, incapazes de pouso.
tem tempos em que o silêncio é cuidado. cerca que se constrói em torno do que é precioso, menos para guardá-lo do que para reconhecer seus contornos, admirar sua extensão, minuciar seus detalhes. as palavras, caladas, abismando um fosso ao redor do que importa.
tem tempos em que o silêncio é vazio. quase perder-se a si mesmo em meio ao fluxo, abafando o dissonante na ininterrupção. um silêncio difícil, de quem recusa parar de falar, e vai em frente, sempre em frente. e ainda adiante. tempos de oquidão. de persistência. de insistência. então - ainda por hoje - insisto.

06 setembro, 2011

uma fonte em meio à mata

o que é um nome? uma conversa do pai com sabor de pescaria, uma lembrança querida, uma vontade de filiação, o signo do deslocamento antigo. uma forma de sedução: a pequena história dividida na doçura dos começos, quando os sorrisos sempre amplos e os olhos sempre lumes. um luto, quando desaparece aquele que, semi-encerrando uma linhagem, era capaz de escrevê-lo, a pinceladas grossas no papel de arroz. uma esperança, na ponta do nome dos filhos, identificando-os no mesmo movimento que os mistura em laços mais largos e ancestrais. um encontro: a imprecisão do significado desimportante frente à descoberta de me aproximar de você, os pés descalços no macio da terra molhada, os pelos arrepiando-se com o sopro da sombra e a sede satisfeita em goles largos da água limpa. abundante. sempre fresca.