tem tempos em que o silêncio é fervura: pura incapacidade de fazer brotar as palavras no mesmo ritmo que o sentimento ebulindo, frenético. as palavras, desconexas, revirando a superfície quando pronunciadas. revolvendo a todo o tempo as profundezas, incapazes de pouso.
tem tempos em que o silêncio é cuidado. cerca que se constrói em torno do que é precioso, menos para guardá-lo do que para reconhecer seus contornos, admirar sua extensão, minuciar seus detalhes. as palavras, caladas, abismando um fosso ao redor do que importa.
tem tempos em que o silêncio é vazio. quase perder-se a si mesmo em meio ao fluxo, abafando o dissonante na ininterrupção. um silêncio difícil, de quem recusa parar de falar, e vai em frente, sempre em frente. e ainda adiante. tempos de oquidão. de persistência. de insistência. então - ainda por hoje - insisto.
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