31 janeiro, 2010

Alguma poesia

Um pouquinho de poesia para acordar o domingo...


Baú de Guardados (música de Nà Ozetti, lá do blog da Alice Ruiz)

Trago, fechado no peito,
um baú de guardados.

Jóias, gemas e pérolas
que podem
ofuscar meus olhos.

Pedras, perdas, penas
que conseguem
represar meu rio.

Mas basta um som de flauta,
um dedilhar de piano,
o acorde de um violão,
o cristal de uma voz
e todas as comportas
se abrem
e me descobrem
levando de roldão
tudo que cabe
nesse cofre desvendado,
o coração.

Jóias, gemas, pérolas,
pedras, perdas, penas.
Brilhos que se confundem
no que sou.
Rolam nas águas e me levam
para perto, bem mais perto
de onde estou.

28 janeiro, 2010

Ultimamente



Ultimamente este não tem sido o espaço no qual sinto urgência de escrever.
Sinto muito; não é de propósito. Eu gostaria de poder escrever aqui, fluentemente, sem pressões, simplesmente porque este espaço tem sido uma ótima companhia (e me dá de presente ótimas companhias, também). Mas, ultimamente, as palavras dentro de mim desejam tatear outras coisas que não meu cotidiano. E as minhas mãos, quando tecem, é para inventar objetos, misturar ingredientes, fazer a casa habitada de aromas, e não narrativas no teclado do computador.
E em meio a tudo isso, quase sem mais nem menos, visitando a querida Veronika, uma ideia começou a tomar forma e aí nasceu o Contando os Dias. Um espaço de experimentação, ainda engatinhando, mas que me deu ânimo novo - para escrever, mas também para ler, pesquisar, olhar com olhos de ver, escutar com ouvidos de ouvir. Vamos ver por onde vai.
Não vou parar de escrever por aqui e vou tentar ser menos bissexta. Mas também vou cuidar dessas outras partes de mim, que exigem atenção. E aí vou descobrindo o que pode ser a nova "programação normal" destes Noturnos Imperfeitos.

25 janeiro, 2010

Pequeno Príncipe

Como o tema que o grupo do Rô trabalhou no semestre passado foi Príncipes e Princesas, eu fiquei super entusiasmada ao seguir um link do De(couer)ação e ir parar nesse site. O castelo propriamente dito vai ficar para uma outra ocasião - e uma camiseta verde do Rodrigo que fez um furinho vai ser perfeita para o teste :-). Mas a coroa de feltro eu me animei a fazer, embora confesse que não sei como ela fez para a parte que encaixa na cabeça parecer um corte só.

Adaptei então a ideia e o resultado foi um principezinho muito lindo e charmoso, de pijamas, e com o mesmo problema do princípe insone de Hora de Dormir :-) Aliás, foram necessárias váááárias histórias ontem à noite, até o menino se render ao sono.

Vejam que coisa mais querida:




Eita bagunça boa!

21 janeiro, 2010

Piada pronta

Só depois da consulta de hoje de manhã é que me dei conta: sabe um dos sintomas que mais me irritam e que tem aumentado nos últimos tempos - os meus lapsos de memória? Então. Esqueci de contar à médica...

18 janeiro, 2010

Enleares



Tanto tempo que ela procurava lembrar uns pedaços de seu passado, que lhe ajudassem a entender. Terapia, diários, hipnoses e as lembranças ainda escondidas, avessas a qualquer relance de lanterna. Ela estava sempre abandonada no presente, incapaz de puxar qualquer fio que a levasse de volta: solta. Mas uma soltura sem leveza, ao contrário do balão cheio de ar, que inspirava e ia longe colorir as nuvens. A soltura dela era mais pesada que corrente de metal, de maneira que por vezes ela se sentia como assombração, arrastando-se pelas madrugadas de insônia, quando esperava acordada pra ver se alguma memória riscaria o ar.

Mas aí o banho quente, a cor e o cheiro do shampoo novo, e o banheiro da casa dos pais, os banhos da volta do clube, o sábado de sol desmaiando na janela do box, e quando abriu os olhos ainda cheio de sabão teve que se esforçar por reconhecer aonde estava. O presente tão estranho, tão súbito em relação ao banho que tomava no passado, na toda-importância de usar banheiro e shampoo da mãe.

E depois a visita ao mar, a água na canela, a alegria de uma criança pequena na beira da praia e o quente do sol sem protetor sobre a pele, o alaranjado morno das cenouras cozidas que a avó preparava na volta da praia, a aspereza dos beliches das casas alugadas durante o verão, o fogão vermelho que borrava de antiguidade as lembranças vívidas.

Depois ainda o pão assando no forno, espalhando pela casa as histórias que a mãe contava; o primeiro namorado já esquecido, reencontrado num estranho; a solidão das tardes no apartamento; o compasso dolorido de um LP no repeat; a paixão proibida mal disfarçada e até o arrepio do antes-do-beijo no namoro de portão.

Quando viu, não precisava mais de esforço - misturava passado e presente como quem prepara bolo e fermentava tudo com seu despudorado abandono às lembranças. Os cheiros, os sons, as sensações, os pedaços de conversa, tudo bem sovado e descansando debaixo da sua pele. Leveza boa e saborosa, de quem está livre para voar.

Imagem: daqui.

13 janeiro, 2010

A cor do desejo

Então. Mil anos depois, volto só para registrar outro vídeo que dá barato. Aliás, dá muito, mas muito barato mesmo. Mas também, Ney Matogrosso é covardia, né? Com uma música dessa, então...

E essa letra, que fala de falta, de uma falta tão ardente, que junta oco e sede no mesmo desejar? Afe! Vou ali tomar uma água gelada e já volto ;-)



(Fica registrado o meu obrigada à Taísa, que dividiu o achado no mundo do Facebook!).