27 agosto, 2015

tempestivo

Momento-quando. Acho que essa é uma das imagens mais fortes que aprendi com o Caio Fernando Abreu. É quase uma categoria: o nome preciso daqueles instantes que caem do fluxo arrebatador das coisas de todo-dia. É uma paralisia: a suspensão do correr do tempo. Por vezes um respiro. Por outras, uma impossibilidade de continuar (e, acreditamos, mais dia, menos dia, será necessário continuar). Ele pesa, porque o corpo parado impõe resistência a tudo o que continua a vazar pelas comportas do cotidiano. No momento-quando, não dá para simplesmente se abandonar à correnteza.
O momento-quando é uma espécie de agosto - o que temos que atravessar, mas cuja travessia não dá para apressar. Mas, à diferença de agosto, o momento-quando nem sempre é seco. Daí o risco de que permanecer no interior dele dê tempo a deitar raízes. O que dificulta tudo: para seguir adiante, será necessário não apenas esperar setembro, mas também arrancar-se - com mais ou menos força, a depender de quanto se tenha deixado ficar. A gente talvez nunca saia inteiramente de alguns momentos-quando. Ficam uns pedaços nossos lá dentro, para sempre perdidos. Tantos mais pedaços quanto mais fundas as raízes. Ficam uns pedaços dele dentro de nós - aqueles que arrancamos no esforço de retomar o movimento. Os momentos-quando de uma vida configurando um mapa de escarpas pontilhadas, cartografia da memória. Cartografia vertiginosa da memória.