17 maio, 2008

Primeira Vez

Sofia estava irremediavelmente apaixonada: pensava sem parar no objeto de seu amor, falava dele a quem não perguntasse e tinha o tempo todo colada à cara a expressão de quem vira passarinho verde.
Em toda a sua vida, aquele consistia, sem dúvida, o maior acontecimento. Ela ficava olhando Tiago de longe e derretia a cada vez que ele olhava de volta. Quando se encontravam, ficavam separados pelo abismo da ausência de assunto – parecia que o máximo de curiosidade que tinham em relação ao outro era saber se estavam bem. E sempre estavam, o que dificultava perguntas posteriores.

Naquele dia 12 de junho, Sofia chegou à escola com o coração disparado; dentro da pesada mochila, um cartão cuidadosamente feito à mão (“cartão comprado não diz nada”, ensinou a mãe), em cartolina vermelha e purpurina dourada. Dentro, a simplicidade de um “gosto de você”.

Entrou na escola correndo, para ter tempo de se preparar – escondeu-se por entre as árvores do parque para poder vê-lo chegar sem ser vista. Mas bateu o sinal e nada de Tiago chegar. Sofia se arrastou até a sala com a maior vontade de chorar.

Tiago só chegou na hora do recreio, tendo numa das mãos uma mãe mal humorada e na outra um presente embrulhado.

Sofia esperou que a mãe fosse embora e, então, juntando a coragem mais corajosa, chamou Tiago para conversar debaixo de uma árvore, tão longe quanto possível dos olhos de colegas e professores. Como sempre, descobriram que estavam ambos muito bem. Silêncio.

“Pensei que você não fosse vir hoje”, miou Sofia. “Tive que resolver um assunto primeiro”, desfiou Tiago, com o ar mais sério do mundo, em seguida estendendo para ela o presente que trouxera embrulhado. Sofia sorriu sem jeito e apanhou o presente – um conjuntinho de sachês perfumados, em formato de corações.

“Também tenho algo para você”, disse ela, com o coraçãozinho na boca. Entregou a ele o cartão de vermelho e purpurina. Desta vez foi ele a sorrir sem jeito.

“Eu também” ele disse, com os olhos grudados nos pés. Sofia sentiu o coração transbordar de uma alegria morna e desta vez seu sorriso teve jeito. Foi ela quem estendeu a mão a ele e os dois saíram andando juntos, como se nunca mais fossem se separar e como se tivessem esperado todos os seus longos cinco anos de idade para viver um momento como aquele.

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