Num dos intervalos dessas madrugadas de trabalho, topei com o blog da Cris. Ela perdeu o marido três meses antes do filho nascer e começou a escrever este blog para transformar a falta em presença para o filho, Francisco. É tudo lindo - ela, o que ela escreve, o amor deles: força e delicadeza transbordando a morte.
Num dos posts ela comentava sobre a música "Quando papai vai viajar", gravada pelo Grupo Curupaco, num CD com o estranhíssimo nome de "O vôo do Pterodáctilo". A música também é linda: doce-doce ao falar de saudade.
Depois de ligar para algumas pessoas em Belo Horizonte, finalmente consegui um dos últimos CDs da primeira edição (segundo me informaram, uma reedição deve chegar ao Instituto Kairós no próximo mês. Mas também encontrei uma entrevista com o Paulo Tatit em que ele dizia que vai licenciar o CD para o selo Palavra Cantada).
Chegou faz uma semana e Rô e eu já ouvimos várias vezes. E, talvez porque o Edu tenha estado viajando, ele sempre me pede para ouvir "Quando papai vai viajar":
Quando papai vai viajar/coração chora baixinho./Sei que amanhã quando acordar, longe, sem o seu carinho/vou me lembrar de você.
Com o coração chorando baixinho, me lembrei de quando meu pai viajava. Vira e mexe ele fazia pequenas viagens, para testes e lançamentos de balões (ai, gente, nem adianta perguntar que raios de balões eram esses; no meu caso, filho de peixe, peixinho não é, e não entendo nada física).
Como as viagens eram pro interior do Vale do Paraíba, me lembro dele trazer bonecas de personagens do Sítio do Picapau-Amarelo. Não eram bonecas para brincar e sim para pendurar na parede. Bonecas estranhas, de palha, mas que à distância do tempo têm cheiro de nostalgia: têm cheiro do trabalho de mulheres, de mãos que colhem e trançam a palha, e que figuram o mundo no que produzem de bonito.
A cada dia que passar/ Sem ter você comigo/Qualquer estrela que brilhar/Trazendo o seu sorriso/Vou me lembrar de você.
Porque lembrei dos balões, lembrei também das visitas que fazíamos ao INPE. Lembrei da sala de trabalho do meu pai, abarrotada de papéis, uma imensa bagunça impressa naquelas impressoras matriciais antigas, nos papéis enormes, com aqueles furinhos destacáveis do lado que registraram a maior parte dos desenhos da nossa infância.
E os vãos dos dedos dos meus pés se lembraram do gelado de quando entrávamos numa salinha e meu pai nos deixava caminhar em uma nuvem de nitrogênio líquido: festa e diversão garantidas.
Da alegria de toda manhã/Do bom dia, gosto de maçã/ Noite fria cobertor de lã/ Saudade não tem fim/ Não demoro espere/ por mim.
Saudade pode ter fim? Depende. Mas sei que, por mais tempo que passe, o ato de voltar apaga qualquer demora.
("Quando papai vai viajar", Paulo Santos e Ana Lúcia Braga)
Num dos posts ela comentava sobre a música "Quando papai vai viajar", gravada pelo Grupo Curupaco, num CD com o estranhíssimo nome de "O vôo do Pterodáctilo". A música também é linda: doce-doce ao falar de saudade.
Depois de ligar para algumas pessoas em Belo Horizonte, finalmente consegui um dos últimos CDs da primeira edição (segundo me informaram, uma reedição deve chegar ao Instituto Kairós no próximo mês. Mas também encontrei uma entrevista com o Paulo Tatit em que ele dizia que vai licenciar o CD para o selo Palavra Cantada).
Chegou faz uma semana e Rô e eu já ouvimos várias vezes. E, talvez porque o Edu tenha estado viajando, ele sempre me pede para ouvir "Quando papai vai viajar":
Quando papai vai viajar/coração chora baixinho./Sei que amanhã quando acordar, longe, sem o seu carinho/vou me lembrar de você.
Com o coração chorando baixinho, me lembrei de quando meu pai viajava. Vira e mexe ele fazia pequenas viagens, para testes e lançamentos de balões (ai, gente, nem adianta perguntar que raios de balões eram esses; no meu caso, filho de peixe, peixinho não é, e não entendo nada física).
Como as viagens eram pro interior do Vale do Paraíba, me lembro dele trazer bonecas de personagens do Sítio do Picapau-Amarelo. Não eram bonecas para brincar e sim para pendurar na parede. Bonecas estranhas, de palha, mas que à distância do tempo têm cheiro de nostalgia: têm cheiro do trabalho de mulheres, de mãos que colhem e trançam a palha, e que figuram o mundo no que produzem de bonito.
A cada dia que passar/ Sem ter você comigo/Qualquer estrela que brilhar/Trazendo o seu sorriso/Vou me lembrar de você.
Porque lembrei dos balões, lembrei também das visitas que fazíamos ao INPE. Lembrei da sala de trabalho do meu pai, abarrotada de papéis, uma imensa bagunça impressa naquelas impressoras matriciais antigas, nos papéis enormes, com aqueles furinhos destacáveis do lado que registraram a maior parte dos desenhos da nossa infância.
E os vãos dos dedos dos meus pés se lembraram do gelado de quando entrávamos numa salinha e meu pai nos deixava caminhar em uma nuvem de nitrogênio líquido: festa e diversão garantidas.
Da alegria de toda manhã/Do bom dia, gosto de maçã/ Noite fria cobertor de lã/ Saudade não tem fim/ Não demoro espere/ por mim.
Saudade pode ter fim? Depende. Mas sei que, por mais tempo que passe, o ato de voltar apaga qualquer demora.
("Quando papai vai viajar", Paulo Santos e Ana Lúcia Braga)
cara... vou me casar dia 09/11/2013 e estou querendo fazer uma homenagem aos pais, meu e de minha esposa, hoje falecidos. Não consegui achar o CD, MP3, download, enfim... mandaria esta música no meu email??? loiolalls@hotmail.com... agradeço de coração!!! Bons momentos!!!
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