16 junho, 2012

um abraço

aproximou-se de mim já refrigerante morno em copo de plástico - as paredes inúteis para conter o líquido e a espuma, o tenso limite entre controle e transbordamento.
a experiência ainda difícil nas frases interrompidas pelas lágrimas. que carregou, em segredo, uma festa. que seria o primeiro filho, bem-vindo. que de repente tudo borrou em marrom e vermelho e a felicidade escorreu, por entre os dedos e as pernas. que talvez tenha esperado demais. que ainda sente vazar a ferida aberta pelo medo.
eu tentei dizer coisas como: embora ninguém fale, isso é comum e por isso mesmo não é sinal de que é tarde demais. e nem de menos. que ser mãe já é esse abismar-se diante da vida. que mesmo quando a gente não crê, a vida é milagre pois há improváveis sementes que brotam no tronco da árvore enquanto outras dormem para sempre no fundo da terra mais fértil. que o filho sonhado já começa a virar verdade nesse enfrentamento com o próprio desejo e com os próprios limites. que haverá novamente o tempo da graça.
tentei dizer tudo isso, mas não quis espantar com certezas as bolhas frágeis das dúvidas. então, só falei com os braços.

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