aproximou-se de mim já refrigerante morno em copo de plástico - as paredes inúteis para conter o líquido e a espuma, o tenso limite entre controle e transbordamento.
a experiência ainda difícil nas frases interrompidas pelas lágrimas. que carregou, em segredo, uma festa. que seria o primeiro filho, bem-vindo. que de repente tudo borrou em marrom e vermelho e a felicidade escorreu, por entre os dedos e as pernas. que talvez tenha esperado demais. que ainda sente vazar a ferida aberta pelo medo.
eu tentei dizer coisas como: embora ninguém fale, isso é comum e por isso mesmo não é sinal de que é tarde demais. e nem de menos. que ser mãe já é esse abismar-se diante da vida. que mesmo quando a gente não crê, a vida é milagre pois há improváveis sementes que brotam no tronco da árvore enquanto outras dormem para sempre no fundo da terra mais fértil. que o filho sonhado já começa a virar verdade nesse enfrentamento com o próprio desejo e com os próprios limites. que haverá novamente o tempo da graça.
tentei dizer tudo isso, mas não quis espantar com certezas as bolhas frágeis das dúvidas. então, só falei com os braços.
Cacete, como você escreve bem!
ResponderExcluirObrigada, Raquel! Adorei a reação tão visceral :-) Beijos.
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