no meio de um domingo, o amigo morreu de repente: sem nenhum sinal, sem nenhum aviso. a família reunida na sala e o coração falseou, escorregando entre uma e outra batida, desacertando o passo.
numa terça-feira, alguém que me era tão caro, tão caro que me atava ao que na vida é perfeição se descobriu frágil: sem sinal ou aviso. o coração tropeçando as batidas, o sangue se perdendo no caminho, braços e pernas falhando no susto de saber-se mortal.
na sexta-feira, o professor se foi num sobressalto: sem sinal e sem aviso, o coração (de novo ele) desistindo de bater, feito soluço que interrompesse a respiração.
quando eu era pequena, achava que as pessoas só morriam velhas. ou de acidente: o mau encontro antecipando o natural das coisas. depois, à medida que a lista dos meus mortos aumentava, fui descobrindo que morre-se velho e novo, triste e feliz, solteiro e casado, quando a vida acaba e quando começa, sem filhos e com filhos, estando eles grandes e ainda na barriga, na lua de mel e nas bodas de ouro. morre-se. feito pássaro apanhado em pleno vôo.
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