04 junho, 2012

alongamento

na vida-fluxo, a impossibilidade de parar desgasta os músculos e dormir é apenas breve intervalo sem sonho. na vida-fluxo, sentir sem distração já é interromper: mesmo seguindo a correnteza, dar às braçadas uma direção.
às vezes, porém,  o corpo escapa para as margens e encontra alívio na beirada. o estiramento da luta constante ansiando pelo repouso. braços e pernas se alongam. sem o risco do afogamento, a alma se alonga também: relembra o horizonte, o céu, as nuvens. e também as pedras, a terra, os pássaros. rememora o ar quando entra sem esforço.
escrever é cravar as unhas nessas precárias bordas - inventar o repouso onde ele é difícil, amarrar as redes em pleno espaço.

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