10 setembro, 2008

Você é meu companheiro?


O conto que abre o livro Morangos Mofados, do Caio, é um diálogo que se prolonga ad infinitum. São duas pessoas - dois amigos? dois amantes? - perguntando-afirmando-duvidando-desejando: uma para a outra "você é meu companheiro?"

Outro dia eu lembrava também da linda argüição da Marilena Chauí ao trabalho da Ecléa Bosi (sobre o qual já comentei aqui), em que ela valoriza a dúvida da Ecléa em descobrir se, depois de tanto tempo, há companheiros entre os trabalhadores reunidos sob uma mesma classe: eles se identificam uns aos outros, mas serão companheiros?

Finalmente, me lembrei do ano passado, de uma situação que me fez olhar com mais cuidado para os significados de ser "companheiro".

A Paulinha e o Toninho têm o costume de chamar os cônjuges de "companheiros". Eu confesso que estranhava um pouco esse modo de dizer. Achava bonito, mas me intrigava: por que não marido? Ou namorido? Ou um desses termos que a gente usa hoje em dia para falar dessas uniões que, embora não sejam exatamente casamentos, ainda assim pretendem-se para toda a vida?

Sobre isso, vim a aprender no dia do casamento da Paulinha.

Uma semana antes, um luto completamente inesperado atingiu duas das pessoas mais queridas que eles - a Paulinha e o marido - têm no mundo. A morte se misturando à vida: a impossibilidade de estar com quem a gente ama numa hora de dor, pela exigência de acolher quem nos ama e veio conosco partilhar a alegria.

Casamentos, afinal, são celebração de vida. A vida nova que duas pessoas iniciam juntas, a vida de uma nova família, a promessa de eternidade que a gente cola ao amor - é vida plena.

E os lutos? Depende muito. Eles podem ser ocasião de raiva e ressentimento. Mas também podem ser celebração da vida, que foi vivida. Não é caso de recusar a tristeza e a saudade, apenas de não perder a esperança - não desesperar, enfim.

No dia do casamento, estavam lá os dois amigos na Igreja. Amparando-se mutuamente, marcando presença num momento irrepetível da vida da Paula e de seu companheiro. Para além da própria dor, a esperança na boniteza da vida e das promessas de encontro. Na alegria e na tristeza, não é mesmo assim que a gente promete?

O casamento da Paulinha foi um dos mais bonitos aos quais já fui. Não porque tudo estivesse perfeito, (embora estivesse!) mas porque estava lá muito expresso todo o amor que cercam a ela e ao marido. O casal de amigos na Igreja corporificava o amor e a esperança, a certeza de que eles já começavam a vida nova tendo como companheiros amigos que sabiam ser companheiros - um para o outro, uns para os outros.

Para além dos nomes que a gente queira dar a quem divide a vida com a gente, o que importa mesmo é a resposta que se dá a esta questão fundamental: você é meu companheiro? Resposta que se dá a cada passo, a cada apoio, a cada significado que a gente vai dando juntos para o imprevisível da vida.

Imagem: http://organicfields.net/tipika/blog/U6_2.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário