once and again: para Mauricio
Com essa história do grupo do Rô, este semestre, estar trabalhando os contos de fada, me lembrei que minha mãe sempre conta o quanto eu gostava de ouvir a história do Patinho Feio (fosse contada por ela, fosse contada pelo disquinho da Disney, lembram? Era uma coleção de histórias, que vinham num livrinho ilustrado e traziam o disco, daqueles pequeninhos, que tinha que ser tocado em 78 rotações. E a narração era tãããão dramática!).
Aí fiquei pensando nessa história do Patinho Feio e por que raios ela me mobilizava tanto. Acho até que nem era pela relação entre beleza e feiúra; acho que o que me provocava mesmo era a questão da inadaptação.
De fato, acho que sempre me senti um pouco (às vezes um muito) inadequada - desajeitada para a vida, incapaz de compreender as regras do jogo, sobretudo quando elas me pareciam cruéis ou injustas. Para resumir em uma palavra: gauche.
Como reli recentemente o Peter Pan, está ainda vívida a proposta do autor de que o que tornava possível ao Peter não crescer era a sua capacidade de esquecimento, que lhe fazia viver cada traição ou injustiça com a mesma surpresa e incompreensão.
O fato de ter me mudado de casa e de escola tantas vezes ao longo da vida também tiveram efeitos sobre essa sensação. Afinal, eu estava sempre recomeçando...Mas desde cedo também reconheci o quanto de liberdade havia nesses recomeços: essa vertigem da possibilidade de, mais uma vez, me despedir de mim.
É pouco provável que seja coincidência que meus escritores e autores prediletos tanham também seu tanto de gauches - Drummond, Clarice, Caio, Walter Benjamin...Autores tensos, inquietos, cujos textos revelam o imenso esforço para transbordar os limites da linguagem.
Provavelmente, em meus tempos de criança, a história do Patinho Feio me alimentasse as esperanças de que um dia fosse possível deixar de me sentir inadaptada: de um dia encontrar "a minha turma", identificando-me por completo, descobrindo "minha verdade".
Durante o magistério, eu lia um livro do Rubem Alves, chamado "Como nasceu a alegria". Nesse livro, ele conta a história de uma flor que havia sido machucada e, por isso, tornara-se diferente. Mas, ele aponta em sua apresentação, ao contrário da história do Patinho Feio, o problema não se resolve com o fim da diferença: mudam os olhos de quem vê a diferença...
Hoje em dia, não me agrada mais a história do Patinho Feio. Não pela questão que propõe, mas pelo modo de resolvê-la. Ao invés da identificação completa que suplanta a diferença (quando ele encontra seus iguais), eu gosto mais é da liberdade que a inadequação me dá. Gosto da diferença que cria relevo, tensão, movimento: do que nos impele a transgredir os limites do que somos, na invenção de quem queremos ser.
Aí fiquei pensando nessa história do Patinho Feio e por que raios ela me mobilizava tanto. Acho até que nem era pela relação entre beleza e feiúra; acho que o que me provocava mesmo era a questão da inadaptação.
De fato, acho que sempre me senti um pouco (às vezes um muito) inadequada - desajeitada para a vida, incapaz de compreender as regras do jogo, sobretudo quando elas me pareciam cruéis ou injustas. Para resumir em uma palavra: gauche.
Como reli recentemente o Peter Pan, está ainda vívida a proposta do autor de que o que tornava possível ao Peter não crescer era a sua capacidade de esquecimento, que lhe fazia viver cada traição ou injustiça com a mesma surpresa e incompreensão.
O fato de ter me mudado de casa e de escola tantas vezes ao longo da vida também tiveram efeitos sobre essa sensação. Afinal, eu estava sempre recomeçando...Mas desde cedo também reconheci o quanto de liberdade havia nesses recomeços: essa vertigem da possibilidade de, mais uma vez, me despedir de mim.
É pouco provável que seja coincidência que meus escritores e autores prediletos tanham também seu tanto de gauches - Drummond, Clarice, Caio, Walter Benjamin...Autores tensos, inquietos, cujos textos revelam o imenso esforço para transbordar os limites da linguagem.
Provavelmente, em meus tempos de criança, a história do Patinho Feio me alimentasse as esperanças de que um dia fosse possível deixar de me sentir inadaptada: de um dia encontrar "a minha turma", identificando-me por completo, descobrindo "minha verdade".
Durante o magistério, eu lia um livro do Rubem Alves, chamado "Como nasceu a alegria". Nesse livro, ele conta a história de uma flor que havia sido machucada e, por isso, tornara-se diferente. Mas, ele aponta em sua apresentação, ao contrário da história do Patinho Feio, o problema não se resolve com o fim da diferença: mudam os olhos de quem vê a diferença...
Hoje em dia, não me agrada mais a história do Patinho Feio. Não pela questão que propõe, mas pelo modo de resolvê-la. Ao invés da identificação completa que suplanta a diferença (quando ele encontra seus iguais), eu gosto mais é da liberdade que a inadequação me dá. Gosto da diferença que cria relevo, tensão, movimento: do que nos impele a transgredir os limites do que somos, na invenção de quem queremos ser.
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