Se te pareço noturna e imperfeita/ Olha-me de novo. Porque esta noite/ Olhei-me a mim, como se tu me/ olhasses. E era como se a água Desejasse/ Escapar de sua casa que é o rio / E deslizando apenas, nem tocar a margem. Te olhei. E há tanto tempo/ Entendo que sou terra. (Hilda Hilst)
31 julho, 2008
Das várias maneiras de evitar um doutorado
30 julho, 2008
Lágrimas de Crocodilo
E ontem, enquanto eu fazia o jantar, Rô decidiu que queria ver o "DVD do tio Maurice" (que eu mesma ainda não consegui sentar para ver). Tem Alligator e o Rô amou!
Aí, hoje durante o almoço, ele me contou sua versão da história: "Tinha um dinossauro, que comeu o menino, aí jogou na privada o filho do jacaré. E tinha um dino...ceronte também".
Depois, eu estava comentando sobre o blog e ele me disse: "mãe, eu também tenho um blog. De madeira".
Brincando com a Bia de escrever o nome na lousa, ele foi ditando: Ro-dri-go *-mino. Aí, quando era a vez de escrever o nome da Bia, mais que depressa ele ditou: Bia *-mina!
Às vezes, quando a gente coloca o DVD, a gente erra e deixa em inglês. Aí comentamos com ele, que está em inglês e que será necessário pôr em português. Aí, ontem no banho, eu tinha avisado para ele não colocar as mãos de sabão no rosto e ele foi lá e enfiou o sabão no olho. Falei para ele: "-Rô! Pára de ser português!". Ao que ele respondeu, sem nem passar recibo: "- É você que é inglês!"
Ele está um coiso de sem-vergonha. Mas o mesmo tanto de carinhoso (só comigo, né?): beijo, abraço, carinhos... É ver o tal Complexo de Édipo ao vivo e a cores!
Imagem: http://contoseoutrascoisas.blogspot.com/2008_04_01_archive.html
Semana Mundial de Aleitamento Materno
O tema da semana este ano é APOIO, para destacar a importância do suporte à mulher que está amamentando. Há várias formas de apoiar a amamentação: confiar na capacidade do leite materno em nutrir o bebê, ajudar a criar um ambiente tranquilo, ajudar a resolver problemas como fissuras, pega incorreta etc. Às vezes, a escuta atenta ou uma conversa podem ser suficientes!
Eu já estou por aqui preparando o post de sexta.
27 julho, 2008
Antes da chuva
(Clarice Lispector)
Todas as vezes em que as crianças ficavam muito agitadas, quase a ponto de enlouquecer os adultos, minha avó perguntava: -"vocês estão adivinhando chuva?". Talvez por isso eu seja capaz de reconhecer tão bem a sensação estranha de agitação e ansiedade que me acomete quando o tempo vai se fechando, armando uma tempestade que nunca chega, e tudo parece ficar suspenso: não são presságios, nem anúncios de tragédias - é antes da chuva.
Nem por isso deixo de sentir os efeitos do tempo suspenso. (Gosto mais é das tempestades de verão, que caem de repente, generosas, lavando tudo.). Já essas chuvas doloridas, feitas de expectativa e chumbo, essas me doem por dentro. Me tornam excessivamente consciente da vida a ponto de parecer insuportável.
E então, quando a primeira gota cai e atinge o chão, o alívio. O respiro. A vida que pode enfim seguir adiante.
Sempre gostei de conhecer os ciclos do meu corpo. De saber exatamente em que período do ciclo estou, não por me lembrar de cor as datas, mas por reconhecer os movimentos do que sinto - o recolhimento de antes de menstruar; o súbito alívio da menstruação, destravando por dentro as portas fechadas; a explosão de alegria dos dias férteis.
Antes da menstruação, muitas vezes é como antes da chuva - secura e aridez, intensidades que parecem que vão durar para sempre. Tudo fica tão mais agudo, que a única vontade é de me esconder, para não me ferir. Talvez também para não ferir, já que estou entre as coisas que se tornam agudas - minhas palavras, meus gestos afiados.
E uma estranheza em relação a tudo, como se as formas do dia-a-dia fossem grades. Uma imensa vontade de escapar. E a sensação igualmente imensa de que escapar é inútil.
Suspensa, na expectativa de que algo que não sei bem o que é aconteça - talvez um telefonema, ou uma carta, ou uma presença súbita para fazer essa vida descarrilar. Mas nada acontece.
Até que chorar volta a ser possível - chove, enfim - e o que antes era areia se torna brinquedo: pesquisa de novas formas. A primeira gota de sangue, e o rio volta a correr por dentro.
Quando li pela primeira vez este livro da Clarice Lispector - Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres - reconheci imediatamente essas sensações, tão femininas (o que obviamente não quer dizer que os homens não as entendam também, a partir de outros códigos). Reconheci, embora isso não me torne menos sujeita a elas: é também antes da chuva.
Imagens: ilustração de Patricia Metola, http://tipika.blogspot.com/
24 julho, 2008
Antecipação de Agosto
Em casa
Âmbar (Adriana Calcanhoto)
Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim
Tudo ligado
Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico
Que vazasse dos prédios
E banhasse a Lagoa até São Conrado
E ganhasse as Canoas
Aqui do outro lado
Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos
22 julho, 2008
Libertários e não-sexistas
Como eu sabia que toda aquela confusão era por causa do brinco que o Rodrigo estava usando, dei risada e expliquei que era menino, e que ele tinha cismado de usar brinco. Ela ainda perguntou se a orelha era furada e eu expliquei que não, que era brinco de colar, só para ele ver como era.
De fato, já fazia uns três dias que o Rô estava usando aquele brinco, causando um certo furor quando saía...As pessoas ficavam confusas dele parecer moleque e usar brinco; aí ficavam achando estranho de perceber que era num orelha só, e quando viam que era menino mesmo, olhavam torto para mim e para o Edu.
Explicada a confusão, a moça comentou: - "Eu adoro essas atitudes libertárias e não-sexistas!".
Se teve um coisa que sempre foi clara na minha cabeça é que identidade de gênero não tem nada a ver com a direção do desejo. Uma mulher é uma mulher gostando de homens ou de mulheres. Assim como um homem é um homem gostando de homens ou de mulheres. Por isso, não passa pela minha cabeça que - por querer experimentar coisas que podem ser pensadas como femininas, meu filho estará anunciando qualquer preferência sexual.
Outra coisa que também acho é que o que cabe ou não nesses contornos que a identidade de gênero define pode ser mais flexível porque as coisas são bastante diferentes hoje em dia e (pra mim) é quase uma violência insistir em limites muito estritos.
Um exemplo bobo: quando o Rô era menor, ele dormia bem na hora em que eu preparava o almoço. E, à noite, quem geralmente cozinha é o Edu. Um dia, ele não dormiu na hora de costume e me viu colocando avental. Levei uma bronca: - "Mamãe, é do papai!". Para ele, cozinhar virou sinônimo de coisa masculina e eu estava transgredindo a regra.
Quando eu soube que estava grávida de um menino, fiquei muito animada. Tenho lembranças muito presentes de quando eu era pequena e ia brincar na casa do meu vizinho, o Arthur: eu era completamente louca pelos brinquedos que ele tinha. O posto de gasolina! A direção, com câmbio e buzina e som de acelerador! Aquela mão verde, que abria e fechava, lembram? E o robô do R2D2? O quarto dele era uma festa contraposta à sem-gracez do cor de rosa e dos babados do quarto que eu e a minha irmã dividíamos...
Quando meus pais decidiram se separar, como se não estivesse aceitando bem tudo aquilo, fui mandada para a terapia; ludo-terapia, na verdade. Eu gostava de ir porque lá era cheio de brinquedos. Eu tinha dois prediletos - a cesta de compras, cheia de frutas e verduras de mentira e o forte apache, de playmobil. Eu amava aquele forte! Os cavalos, as roupas azuis...
Apesar de gostar de todas essas coisas, eu nunca tive dúvidas de que eu era menina. E gostava igualmente das minhas bonecas de pano, Barbies, fogão-panela-jogo de chá.
Quando deixo o Rodrigo usar brinco, sei que ele só está querendo experimentar como é se enfeitar, se arrumar, se olhar no espelho. Tanto é que, depois dessa vez, às vezes ele me pede para colar um brinco e dez segundos depois já tirou e sumiu com ele.
Outro exemplo bobo: quando me vê usando lápis, ele pede para usar também. Sabem o que ele quer fazer com o lápis? Barba e bigode. Aí, quando eu faço a pintura, ele ri feliz, "Agora eu sou grande!".
O Rô tem cozinha, com panelas, liqüidificador, pratos, fogão. Comprei porque ele adorava pegar as minhas enquanto eu estava cozinhando. Na escola dele, tem uma casinha completa, em que as crianças adoram brincar. O Rô tem também um sampinha - um sling para crianças. Ele adora carregar o Amigão dentro do sling, pra cima e pra baixo.
Cozinhar, estar no espaço da casa, cuidar... Serão atividades essencialmente femininas? Feminino e masculino têm essência?
Se eu criar o meu filho-menino como um machão, não vou estar condenando-o ao sofrimento, num mundo em que é comum que marido e mulher precisem trabalhar para sustentar uma casa e a proposta de um homem-provedor há tempos parece ter se tornado inviável? Se hoje se espera que as tarefas com a casa e os cuidados com as crianças sejam divididos, o que vai ser dele se acreditar que isso é "coisa de mulher"? Num tempo em que as possibilidades de negociação são tantas, o que vai ser dele se ele só souber "ser homem" de um único jeito?
Lembro que, durante o magistério, ouvi alguma coisa sobre a predominância de mulheres na Química se dever à sua atividade de cozinhar - alquimia pura - ao passo que na Física predominavam os homens, pois suas brincadeiras lhes deixavam mais familiarizados com a relação espaço-tempo. Não sei era verdade, nem sei se ainda hoje é assim. Mas não é difícil crer que haja relação entre as experiências que fazemos e nossos interesses ou maiores habilidades.
Por isso, ao invés de restringir as experiências do Rô, prefiro acreditar que ele terá mais repertório e mais possibilidades de escolha se puder experimentar um leque maior de coisas. Sem medo de que isso o confunda quanto à sua identidade: ele é menino e sabe que é.
Se isso se chama ser libertário e não-sexista, não sei. Prefiro chamar de respeito e de amor porque não faço nada disso para levantar bandeira - e sim para dar ao meu filho a liberdade de descobrir quem ele quer ser.
Imagem: http://manik33.blogspot.com/2007/08/entendendo-o-i-ching-yin-e-yang.html
21 julho, 2008
Reconhecimento
O álbum inteiro é maravilhoso.
Bem que, ainda quando a gente namorava, o Edu tinha me contado sobre o bom gosto dela para música. Achei que era corujice de pai, mas não: tudo verdade.
20 julho, 2008
Chegada
Crônica de uma separação
Existe um conto do Caio Fernando Abreu que, segundo uma amiga minha, é um dos mais fortes textos de despedida. Começa assim: “Quando Ana me deixou...”.
O Eduardo Galeano tem um conto curto, quase um poema, que também é muito bonito e termina dizendo “Não levo nem uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi”.
Lembrei-me desses textos por algumas razões óbvias e por outras tantas um pouco menos claras. Ontem à noite conheci uma pessoa interessante, que também gosta de escrever coisas. Conversamos um pouco sobre a palavra e como ela nos ajuda a elaborar e fixar a nossa experiência no mundo. Ele me contou de sua recente separação e de como ainda é difícil falar, de como ainda não faz parte dos planos dele nomear todas os diversos sentimentos que ficaram dos treze anos vividos naquela companhia.
A personagem do Caio, que nos desfia o longo rosário até que o “quando” do momento do adeus se tornasse “depois”, também não põe palavras no lugar dos sentimentos: ninguém sabe de Ana. Ela ficou guardada naquele lugar à parte das coisas que significam. A vida continua, nós (quase) sempre sobrevivemos, ainda que reste o assombro de descobrir o limite, a finitude.
Essa pessoa que conheci me contou que, embora nunca tivesse se considerado um romântico, não se refez ainda do assombro do fim. Mas não se trata de romantismo. Para sempre, aquele que parece estar posto desde o início de um relacionamento, faz parte de nossa adolescência mesmo. Mas o para sempre, dia a dia escolhido e renovado, cotidianamente alimentado e desejado – esse é condição de crescimento do amor. Um grande amor não se constrói se o fim estiver colocado: amanhã.
Octávio Paz fixou a verdade “o amor é uma das respostas que o homem inventou para olhar de frente a morte”. O fim nos rouba um pouco a ilusão da eternidade, nos lembra de que somos filhos do tempo.
Finitude e silêncio. Era disso que queria falar. É que ainda não aprendi a delicadeza de preservar o vivido/sentido no vazio do inominado. Eva enlouquecida, quero recriar o mundo cheio de ausência dando nome a tudo o que ficou: aquilo foi egoísmo, aquilo outro imaturidade, isso foi bom, aquilo ali bonito. Como se fosse possível preencher a ausência com razão e palavra.
Se você não estivesse ausente agora, se suas mãos estivessem aqui, ao alcance de meus olhos e gestos, eu as tomaria entre as minhas próprias e ficaria com você em silêncio. Reinaugurando o tempo da confiança e da delicadeza. Atualizando o mito da permanência. E pedindo, sim, para durar.
Só para constar: um ano e meio depois desse texto, a "pessoa interessante" e eu estávamos casados. E assim vamos, no esforço diário de empurrar a linha do "para sempre" mais adiante.
Felicidade de Marido
19 julho, 2008
Meu pai (4)
É sempre assim, desprevenida, que me assalta a lembrança: meu pai já não pode ver.
Há alguns anos sua visão borrou, manchou até tampar de vez. E ele deixou de ver.
Meu pai olhava e via o mundo. Adorava ler, dirigir, trabalhar. Sempre teve o orgulho masculino, agravado pela origem gaúcha e o pai militar, da independência: mas precisou aprender a precisar.
Meu pai não dá a ninguém o espetáculo do sofrimento: não deixa que lhe vejam doer. As histórias que ele me conta e que me contam dele dizem que ele é forte, bem humorado, "alto astral". Dizem que é preciso estar atento para notar sua cegueira, pois ele se porta como os que vêem.
Desconfio que, astuciosamente, ele nos cegue com seu entusiasmo, só para guardar a certeza íntima de que - a despeito de tudo - ele vê mais longe do que nós.
Será que sua cegueira é luminosa? Ou será escura, como os olhos fechados? Será que sua cegueira são olhos abertos para dentro? Ou serão retinas fatigadas, um desvio do olhar da contemplação do passado, presente e futuro?
Quando escrevo sobre meu pai, é querendo que as palavras lhe alcancem. Que cortem o espaço, lançando na direção dele um fio, uma corda. Luz no escuro da distância em que a gente se perdeu. Voz que oriente o caminho de volta.
Escrever sobre ele é tateá-lo, na esperança de que possamos nos ver.
Todos os nomes
Quando pequena, na casa dos meus avós, era Fabiônica que me chamavam porque, qual um robô treinado para desmontar as coisas, eu mexia em tudo, tentando entender como o mundo funcionava. Depois, fiquei Fá, feito nota musical.
Na pré-escola, um dos meus amigos mais queridos - o Leonardo - gostava tanto de mim que, quando sua mãe teve gêmeas, ele pôde escolher o nome de uma delas e ficaram sendo Fabiana e Fabíola. Meu nome duplicado na ternura infantil.
Na escola, sempre Fá ou Fabi. No colegial, com mais duas Fabianas na sala, "Fabi Garden".
No prédio, "Fá-do-1", para fazer diferença da "Fá-do-8". Nossa homonímia definida por duas mulheres nascidas no mesmo dia, formadas na mesma coisa. Até que eu me mudei de lá, até que ela adoeceu e partiu cedo, e o prédio ficou sem suas Fabianas.
Depois, na faculdade, de surpresa um apelido que pegou: Bibi. Bibi fiquei sendo. Bi, também, na boca de amigos mais próximos e queridos. Biba e Biboca, no carinho do Vinicius. Bibi Queen no humor do Rodriguinho. Tia Bibi, na saudade dos meus sobrinhos.
Fabiana, naquela época, só na boca da Ju, que sempre me quis difícil e inteira.
Na voz de um ex-namorado que não deixou saudade alguma, Fábi.
No trabalho, há muito tempo, Fabí. Só mais ultimamente, Fabi Jardim ou "Fabi-da-Metodologia", para que não confundam com a Fabi T.
Quando conheci o Edu, fiquei seduzida com o fato dele sempre me chamar de Fabiana: ele não me abreviou, não me simplificou, não precisou de adjetivos, não aparou arestas, não teve preguiça, nem parou pela metade. Como a Ju, me aceitou inteira, por mais difícil que fosse; me quis inteira, por mais difícil que fosse. E então fui livre para me desdobrar nas infinitas possibilidades presentes nas modulações de quando ele pronuncia meu nome.
18 julho, 2008
Variadas
- (E na hora que eu fui sair, Rodrigo tentou uma chantagem emocional: - Mãe, fica aqui comiiigo. Eu sou seu amor, não o tio Maurice". Posso com isso?).
- E a gente percebe quando a fama de estar esclerosando nos precede quando, ao trocar pela terceira vez o nome do Pedro (chamando-o de Daniel), ao invés de levar bronca, escuta algo que quer dizer mais ou menos "a Bi é café com leite"...
- Não que não seja merecido, né? Vamos ver as dessa semana: perdi a lente de contato dentro dos olhos. Duas vezes. Saí de casa com um brinco de cada par e só me dei conta umas três horas depois. Falei tanta besteira que até o Rodrigo aprendeu a dizer "ato fáio". E, claro, chamei o Pedro de Daniel três vezes.
- Experimentei finalmente as maquiagens da Everyday Minerals. É muito bom. O corretivo é muito eficiente (eu comprei o multi-task) e a base fica ótima, natural e sequinha (usei a Soft Peach com acabamento matte). Isso porque eu ainda tinha passado um creminho por baixo. E, olha, até eu que não entendo lhufas de maquiagem, com os pincéis consegui passar a base bem decentemente - do ponto de vista do resultado, né, porque fiz uma certa bagunça de pó pelo quarto. Gostei muito do resultado: natural e bonito...O Maurice, que viu a "produção", comentou que a minha pele estava ótima!!!
- Respondendo à pergunta da Tati, querida: o site da Everyday Minerals te dá três opções de acabamento, né? Matte, Semi-Matte e Gloss. A cor da base é a mesma, o que varia é o acabamento que pode ficar fosco (=matte), mais ou menos fosco (semi-matte) ou mais brilhante ou iluminado (=gloss). Quem tem pela oleosa, é melhor usar o matte ou semi-matte. Já quem tem a pele mais seca pode usar o acabamento gloss. A Thais tinha me perguntado mesmo como é que eu tinha feito para escolher entre tantas opções. Como eu não conhecia, resolvi não arriscar muito e só escolhi as bases que eles indicavam para pessoas do meu tom de pele.
- Saudades de ti também, viu, minha amiga?
Para ouvir bem alto
How good it can get, do Wallflowers.
* Mais uma: Slow Hands, também do Interpol.
Interpol é o tipo da coisa que vale a pena ouvir muito alto mesmo: é minha banda (ainda se usa esse termo?) predileta para quando ao invés de fugir, a gente quer mesmo é mergulhar inteira no sentir.
17 julho, 2008
Ansiedade
A-do-ro o Dexter. Ele é tudo de bom nessa vida. A personagem da série, né, que vem sendo humanizada. A do livro dá medo, muito medo...
Imagem: http://www.ew.com/ew/gallery/0,,20207076_20207079_20212195_5,00.html
Memória da Pele
O beijo foi tão real, mas tão real, que fiquei na dúvida se era a memória da pele ou um momento "Ghost" (já que eu costumava sonhar por semanas com esse moço, só para descobrir em seguida que ele estava com problemas).
Papos
- Olha, mãe, ele está de pijama! Viu? Rárárá...
Ainda na padaria:
- Mãe, você tem olho azul!
- Não, Rô, meu olho é castanho.
- É azul. E o meu é azul, igual o seu.
- Rô, o nosso olho é castanho, filho.
(Nervoso): - É A-ZUL!
- Rodrigo, já não te basta ser japonês loiro, agora você também quer ter olho azul?
- Mas meu olho é A-ZUL! A-ZUL de japonês...
Com a irmã, assistindo o desenho do Batman:
- Bia, eu não estou gostando mais desse. Eu PRECISO assistir "Vida de Inseto", combinado? (fazendo sinal de "jóia").
Edu pergunta se ele quer bolo, no café da manhã:
- Eu não gosto de bolo porque sou o homem-aranha.
Dá um tapa na Júlia:
- Ai, Rô, por que você fez isso?
- Porque eu sou o homem-aranha-nunca-bate-só-apanha!
Querendo subir no beliche, para acordar a irmã:
- Bia, vou subir.
- Toma cuidado, senão você cai.
- Não! Eu sou o homem-aranha e tenho pelinhos na ponta do dedo para grudar...
- Mãe. Eu vou ficar aqui, trabalhando com você (pegando lápis e papel e sentando na cadeira ao lado do computador; isso depois de tentar trancar a porta da cozinha, para eu não poder chegar no escritório e ser obrigada a ficar com ele na sala).
16 julho, 2008
Raquel
Sábado foi o chá de bebê dela. No salão de festas do prédio em que a gente se conheceu. Eu saí de lá faz 13 anos! Foi tão gostoso rever o prédio, algumas pessoas daquela época...
(O difícil foi fazer o Rodrigo entender que raios de festa é um chá de bebê. Ele viu uma torta redonda de frango chegando e virou pro primo: "Olha, Diego, o bolo do seu aniversário!". E como eu tinha dito que a festa era para os dois nenéns que estavam na barriga, o Rodrigo teve o seguinte papo com a Rá: "Tem dois bebês na sua barriga? Eu também estava na barriga da minha mãe. Mas eu saí! Agora eu sou grande...").
Quando a Rá e eu nos conhecemos eu tinha uns 14 anos e ela uns 11, já que ela é da idade da minha irmã. Aquele prédio era cheio de crianças, de maneira que a gente brincava muuuito lá embaixo. Porque eu tinha 14 anos, mas era tão moleca quanto hoje e me divertia à beça brincando de Monstro, Pega-pega na borda da piscina, Tubarão e mais um monte de coisas gostosas...
Eu adorava ir na casa da Rá, porque os pais dela são muito legais. Bater papo com a Vera e o Roberto era realmente interessante: eu aprendia, me divertia, curtia mesmo...Do mesmo jeito, acho que a Raquel gostava de ir lá em casa para bater papo com a minha mãe - que sempre gostou e admirou a Raquel, desde a menina que ela era, até a mulher que se tornou.
Com a Rá, dividi muitas das dores e delícias de crescer. Conversas e mais conversas, longas, "lá embaixo". Muitas delas debaixo do abacateiro, que continua lá, no mesmíssimo lugar. Tomara que ainda hoje acolhendo crianças e adolescentes-jogadores-de-baralho...
Sei que, quando saí de São José, foi na Raquel que a Mariana encontrou outra irmã: mais presente, com quem era mais fácil conversar e dividir as dúvidas e inseguranças dos namoros adolescentes. Por isso, sou imensamente grata a ela, por poder ter sido para a Mari a irmã que eu não era mais, e que talvez nunca conseguisse ser.
Foi muito bom ver a Raquel. Na sala da minha mãe: ela, a Mari e eu conversando. Como antes, só que agora. Nós e nossos filhos, nossas histórias, as lembranças de nossos amigos que sumiram pela vida. É tão bom encontrar gente com quem estamos em casa.
Dá um quentinho por dentro...
15 julho, 2008
Chegaram!
Só experimentei os gloss, que no quesito hidratação são bárbaros. O difícil mesmo foi escolher a cor pelo site, né? Uma eu acertei, mas a outra...Como o nome é "cor de boca", achei que era mais puxado para o rosa, e não era. É meio cor de nada. O jeito vai ser usar com outro por cima...
Mas é tudo tão bonitinho: os potinhos com tampa cor-de-rosa, os potinhos pequenininhos do kit de amostra. Adorei!
Assim que experimentar, dou notícia.
Mas se alguém quiser um "review" de alguém especialista no assunto, recomendo o Vende na Farmácia? Por coincidência, o post de hoje é sobre o assunto...
Sobre novos começos
Largar desse cais
Ir sem direção
Seguir os ventos que clamam por mim
Tecer minhas teias
Com minhas mãos
Sugar das entranhas desse chão meu fim
Digladiar com os dois de mim
Ser o São Jorge de meu dragão
Dividir meus segredos com a noite
Minhas verdades com os céus
Trilhar as estradas
Que não trilhei
Romper as portas trancadas por mim
E assim minhas mãos saberão de meus pés
E assim renascer e assim renascer
(Letra e Adapt.: Altay Velloso para o tema "O Cisne", de Saint Saenz)
14 julho, 2008
Recuperação da Delicadeza
Hoje só a voz no Ney Matogrosso, numa canção que aprendi primeiro com o Caio Fernando Abreu ("Depois daquele agosto", em Ovelhas Negras):
Soneto (Chico Buarque)
Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio
Em comum, o que estes contos têm é serem histórias de encontro. Encontros que acontecem depois de um longo caminho percorrido, em que cada um sofreu e doeu e dilacerou e encontrou forças para continuar mesmo que com as mãos gastas e a alma puída. São encontros que acontecem entre pessoas que passaram a se julgar ou incapazes para o amor ou pouco dignas dele. E então se encontram e se ensinam a viver ("o amor é sobretudo intensidade; não nos presenteia com a eternidade, mas com a vivacidade", Octavio Paz).
E aí lembrei do Drummond de "Campo de Flores", que eu coloquei aqui um dia, mas sem muitas explicações porque foi bem no meio da escrita da qualificação: "Mas, porque me tocou um amor crepuscular,/há que amar diferente. De uma grave paciência/ ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia/ tenha dilacerado a melhor doação".
O que sempre me seduziu neste poema - além da lembrança da voz sexy do meu professor de Brasileira I quando o recitava - era este esforço de recuperação da delicadeza que se tornava possível devido a um encontro. Sabe? Quando a gente encontra alguém que vale tanto a pena que as mesmas asperezas que protegem passam a incomodar? Quando a ironia cotidiana parece faca afiada demais? E então a gente encontra força e coragem para amansar as palavras, as mãos, a voz e todo o corpo?
"Hoje tenho um amor e me faço espaçoso/ para arrecadar as alfaias de muitos amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,/ e ao vê-los amorosos e transidos em torno,/ o sagrado terror converto em jubilação".
Abrem-se espaços insuspeitados dentro da gente - "se você se entrega e vê, mesmo de longe"(Caio também, em algum conto do Inventário do Ir-remediável). E nesse breve instante em que as possibilidades cintilam, a gente pode aprender a graça de dizer "sim". De se colocar fora do tempo, de não ter medo dos clichês (- "Você parece mel. - E você parece um girassol".), de fazer borrar os limites do que entendemos por nós mesmos...
São todas histórias que doem um pouco. Mas são lindas e cheias de esperança. Precisa mais?
Desajeito
Vale a pena!
11 julho, 2008
Pirlimpimpim
Fiquei muito emocionada e comprei, lógico.
"Gente que vontade de louca de me dividir! - Vem comigo; - Fica aqui. Realidade e ilusão, todo mundo bem podia ter os dois no coração" (Real ilusão, de Daltony Nobrega, na voz da Aretha).
Ô saudade!
Imagem: http://salvejorgeben.blogspot.com/2007/10/lbum-pirlimpimpim-1982.html
De novo o papo "mulherzinha"
A Thais me escreveu, perguntando das maquiagens. Vou contar aqui o que disse para ela, tá?
No dia em que fui fazer o remédio do Rodrigo, comprei um lipbalm da Florestas. Eu tenho um problema grave de ressecamento dos lábios no inverno: racha tudo e dói demais. Eu estava usando o Ceralip, da La Roche Posay, que é o único que ajudava a segurar a onda.
Aliás, depois lembrei que, quando o Rô nasceu, a minha irmã me passou a Lansinoh dela (salvadora da amamentação da Mari, que teve muita rachadura). Por sorte, não tive muita rachadura, mas em um dado momento, percebi que ela podia ser usada nos lábios e resolvia as fissuras que era uma beleza! Mas aí uma amiga teve filho e rachaduras no seio e eu não ia ficar com a pomada só para usar nos lábios, né?
Bom. O lipbalm da Florestas é ótimo: embalagem pequenininha, fácil de usar, e eficiência equivalente à Ceralip, com a vantagem que é natural, orgânica e um terço do preço!
Eu também comprei uma base anti-idade e uma máscara para cílios da linha Tracta, da Farmaervas. Em princípio, eles fazem fitoterápicos e fitocosméticos. Mas não tem informações quanto a ser orgânico ou desprovido de componentes químicos. Eu fiquei de pesquisar os componentes na base de dados Skin Deep, mas ainda não fiz (desculpem!).
E lá no Vida Verde, eu descobri um blog ótimo, chamado Mamãe passou açucar em mim. É o blog de uma pesquisadora e traz muitas informações sobre produtos químicos, indústria farmacêutica e até sobre as regulações envolvidas em cada um dos tipos de "dermocosméticos" que existem por aí. Ela também é uma das fundadoras do projeto Millebolleblu, que faz produtos de higiene para bebês e crianças e ainda roupas lindas de algodão orgânico. Vale a pena, para a gente entender um pouco mais que mundo é esse. Recomendo especialmente o post do dia 7 de julho de 2008.
Outro site bacana para quem quiser pesquisar mais sobre o assunto é o Beleza Inteligente, que traz vários artigos que nos ajudam a nos localizar nesse mundo.
Quando disse que esse mundo está cada vez mais complicado de se viver, eu me referia ao fato de que a gente está sujeito a tantas fontes de informação, que muitas vezes é difícil tomar decisões que sejam boas. Primeiro, porque os critérios que definem uma boa decisão variam de acordo com o que queremos: se eu estivesse muito mais interessada nos resultados imediatos, por exemplo não estaria nem aí para o fato de que os produtos que uso tem ingredientes que podem fazer mal no longo prazo, por exemplo. Ou aplaudiria de pé a tecnologia ultra-moderna de remoção de manchas, mesmo que ela não seja inteiramente saudável...
Eu ainda nem fui na dermatologista (só a semana que vem), mas sei que vou ter que ter muito tato para conversar sobre as outras possibilidades de tratamento porque ela já me acha um pouco louca por amamentar até hoje. Agora, imaginem o que vai acontecer se eu chegar lá pedindo uns produtos orgânicos, né? Eu sei que o modelo de tratamento que ela tem é o de uso de medicamentos, então não dá para chegar lá questionando tudo. Porque se fosse para ser assim, eu nem deveria mais ir e pronto. Por outro lado, acho que também é bacana expor a ela minhas preocupações, porque quem sabe isso também começa a dizer de uma nova demanda...
Ah! E o Edu me deu de presente de aniversário (é só em agosto, mas demora a chegar, então...) um kit da Everyday Minerals - e eu pedi também o kit de amostra. É maquiagem mineral, orgânica e lindinha! Quando chegar, eu conto como é usar...Eu pedi muitos gloss, porque é o que mais uso. Mas também várias bases em efeito mate. Como é mineral, não entope os poros (segundo as várias resenhas que vi sobre o assunto da maquiagem mineral).
Era isso!
* Quase esqueci: não percam o post do dia 9 de julho da Thais no Vida Verde, que tem dicas preciosas de maquiagens e produtos - todos importados, infelizmente. Mas de repente a gente se organiza para testar e faz um plano de negócios para abrir uma importadora!
10 julho, 2008
Alquimia
- um bolo de chocolate
- pão integral feito em casa
- suflê de espinafre
- casa com cheirinho de comida
- mãos e corações quentinhos
- filhote dormindo depois de tudo esparramado e feliz.
:-)
09 julho, 2008
Wall.E (cuidado: spoilers!)
Por isso, antes de falar do filme, vou falar só um bocadinho da Pixar. Quem já assistiu ao DVD de Curtas sabe que nos extras tem um documentário ótimo sobre a história deles: basicamente ele eram visionários, necessariamente assim mesmo, no plural, porque o que eles queriam fazer não era trabalho prum homem só. É impressionante notar como eles foram lentamente construindo as ferramentas, as técnicas, numa época em que computadores eram imensos e caríssimos e rodavam um ínfimo do que rodam hoje.
Uma história que eles contam nesse documentário é, para mim, reveladora do caráter dos caras. Eles faziam os curtas para apresentar em um congresso de computação gráfica (se não me engano). Quando eles chegaram a fazer o da lampadinha, eles já haviam apresentado uns três nesse congresso. Bão! Aí começa o filme. E o povo de-li-rou. O curta não estava terminado, por falta de tempo, mas ninguém parecia perceber. Eles foram aplaudidos por mais de 10 minutos. Porque, afinal, além das histórias, os caras que estavam lá sabiam (ou ao menos mensuravam) o trabalho que tinha dado fazer aquilo lá, né? Era de cair o queixo...
Acaba o curta e um cara super tchop-tchuras vem conversar com John Lasseter e, em certa altura, diz "Posso te fazer uma pergunta?". Pânico! A única coisa que John pensava era "ele vai me perguntar a equação do movimento X e eu não sei". Então, com ares de criança curiosa, o tal cara pergunta: "A lâmpada é o pai, não é?". E John, aliviado, pensa "agora sim. agora é sobre a história e as personagens e não sobre a tecnologia. Agora acertamos".
Wall.E não é nem de longe só um filme "bonitinho" (embora seja muito, muito bonitinho). Primeiro porque, e esta é a razão de nós amarmos a Pixar, os caras são artistas mesmos - as histórias são boas, os roteiro são bem acabados (do tipo que não tem nada fora do lugar), as sacadas são muito inteligentes...O Rodrigo é viciado nos filmes da Pixar e a gente assiste junto: feliz e com prazer (tá, de vez em quando enche o saco, mas aí a gente ouve o Marlim, pai no Nemo, falando de "controvérsia emocional" e acabou o mau-humor...).
Mas para além da qualidade da história contada, o jeito que eles escolheram para contar também é lindo.
Sou de uma geração que viu a idéia de desenvolvimento e de futuro melhor desaparecer. Basta falar de dois filmes emblemáticos: Exterminador do Futuro, em que as máquinas inteligentes tentariam nos dominar, subvertendo inclusive as fronteiras entre passado, presente e futuro, e Matrix, que pintava um futuro no qual não passaríamos de pilhas.
No presente-armadilha em que estivemos presos por um longo tempo (saímos?), a desconfiança na razão não via possibilidade nas máquinas senão de uma rebelião contra nós: Exterminador do Futuro e Matrix são filmes em que a ciência de volta contra nós - a inteligência artificial não é melhor do que a humana e nos conduz à destruição.
Wall.E já se passa em uma época diferente: esse nosso tempo, cheio de ambiguidades, mas em que a gente já foi capaz de reconhecer a própria culpa pela destruição do planeta e da vida na Terra.
Arrisco dizer também que Wall.E pode ser diferente porque foi escrita por um grupo de pessoas que, trabalhando em equipe, puseram a (alta)tecnologia à serviço de uma ação muito humana que é essa de "contar boas histórias".
Em Wall.E, foram os seres humanos os responsáveis por transformar a terra num lixão. E são os robôs, capazes de emoção e sentimento, que promovem a reversão do quadro. A tecnologia, assim, não é vilã, mas um pequeno espaço possível para a mudança.
Mas é bom notar: os robôs provocam, mas não tomam a responsabilidade pelo primeiro passo - são os homens que precisam fazer isso. E também não há milagres na recuperação da vida na Terra, só a passagem do tempo, um "respiro" para que a vida volte a ser possível.
Tem mais um monte de coisa boa no filme: as personagens, a trilha sonora...Mas eu fico por aqui para não ficar como os últimos posts, imeeeeeensos.
Wall.E é um filme otimista. E imensamente doce...Eu chorei um monte no final :-) Porque não há nada como uma história bem contada para emocionar a gente...
* Comentário do Edu
(Ele escreveu no comentário, mas eu gostei tanto que resolvi tirar de lá e publicar aqui!)
Ok, eu chorei também. Só um pouquinho. Chorar, mesmo, só em dois filmes: "Johnny vai à guerra", de Dalton Trumbo, e ... ET, vocês sabem de quem. Ah, e num filme de cachorro que eu num lembro o nome...
Wall.E é sensacional! As resenhas que eu tenho visto o comparam muito com um filme mudo, coisa que o diretor assume, no estilo de Buster Keaton e Chaplin. Mas eu acho que, na verdade, é um musical! Tem até um (spoiler alerta!) balé espacial caprichadíssimo, clichê a não poder mais, com direito a um casal correndo em plano-contraplano e tal e que mesmo assim, ou por isso mesmo, você acredita que é a primeira vez que isso tá acontecendo no universo.
E tem exército Brancaleone, tem a Sigourney Weaver, a matadora de aliens, tem Gene Kelly, e tem, acho que o primeiro filme que mostra a humanidade assustadoramente alienada e, mesmo assim, trata-a com certo carinho e esperança. E tem o começo e o fim:
O engraçadérrimo curta que abre o filme - daqueles de se torcer de rir! - e a bela sequência dos créditos finais: essa é a que parece passar, sorrateira, a mensagem do filme: a de precisamos fazer o futuro com arte.
Imagem: http://breath-away.blogspot.com/2008/06/as-oscilaes-dos-tomates-animados.html
08 julho, 2008
Inverno
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois
Pouco antes de o ocidente se assombrar
(Adriana Calcanhoto)
Ai, que (às vezes) eu queria ter uma alma um bocadinho menos propensa a essas dores tão sentidas e portuguesas...
07 julho, 2008
Mulherzinha, perigos, minhocas na cabeça
Paulinha riu e comentou "Mas também, né minha amiga, a gente fez ciências sociais e tem mesmo um certo atraso nessa história. E não dava pra ficar usando sandalinhas franciscanas suja-dedão pra sempre, né?". Morri de rir.
E como dizia uma outra amiga minha, "contra fatos, não há argumentos". Então relaxei mais um pouco e fiquei de novo de bem com essa fase "mulherzinha".
Vai daí que estava visitando o Vida Verde e a Thais postou (no dia 30/06) sobre os produtos de higiene pessoal, linkando para uma base de dados bacana, com o grau de periculosidade de produtos de higiene e cosméticos que usamos: Skin Deep: Cosmetic Safety Database.
Eu já tinha visto referência a este site, no Síndrome de Estocolmo. E já tinha ficado preocupada. Dessa vez não foi diferente, pois dos produtos que uso cotidianamente, alguns têm fator de risco 8 (numa escala de 10)!
A bem da verdade, a grande responsável por essa minha progressiva incursão pelo mundo "mulherzinha" foi minha dermatologista. Vou contar o causo desde o começo.
Eu sempre fui muito branca e sempre tive uns rubores, especialmente quando ficava envergonhada, quando estava em lugares fechados e quando consumia álcool. Um moço lá da faculdade inclusive achava super legal essa minha característica, dizendo que "eu era a última mulher no mundo que ruborizava". Mal sabia ele que não era pudor, e sim uma predisposição à rosácea.
Já no início da gravidez eu tinha começado a ficar com a pele bem vermelha e com alguns pontos, que à primeira vista pareciam espinhas. Eu achei que era hormonal, e minha única preocupação foi a de prevenir manchas. Para isso eu usava um filtro solar, que para meu azar continha álcool e piorou o problema...Eu realmente não estava preocupada porque achava que tudo passaria depois do parto. Fora que eu não ia tomar remédios ou fazer tratamentos agressivos (como os tratamentos dermatológicos costumam ser, vamos combinar) estando grávida, né?
Quando eu já estava por volta do sexto mês de gravidez - bem no meio desse nosso inverno seco - eu tive uma irritação na perna e fui à uma dermatologista. Era só ressecamento, mas mesmo assim ela me receitou um hidratante e uma pomada à base de cortisona. Teimosa que sou, só usei o hidratante e ficou tudo bem. E mesmo eu tendo dito que iria esperar o parto para tratar o rosto, ela me receitou uns produtos. Só que para falar a verdade eu não senti a menor confiança nela e não fiz nada do que ela mandou :-)
Bom. Pari, o vermelhão (que naquela altura já estava com manchas roxas) melhorou um pouco, mas não passou. Depois dos seis meses do Rô, quando ele já não estava em aleitamento exclusivo, resolvi consultar uma dermatologista, outra. E foi ótimo, porque ela é uma fofa e de cara me inspirou confiança.
Foi ela que diagnosticou a rosácea, que me disse que eu tinha que parar de usar sabonetes, gels, coisas que tivesse ácidos etc. Além disso, eu tinha que observar quais situações e alimentos pioravam o vermelhão (calor, frio, seco, comidas picantes, alimentos cítricos, picos hormonais...). E como eu amamentava, me deu apenas uma pomada para usar em dias alternados e, claro, protetor solar.
Curiosa, fui pesquisando sobre rosácea e fiquei meio assustada, porque não tem cura. Ninguém sabe o que detona, não há remédio realmente efetivo, embora ácido azeláico melhore um pouco (no meu caso, perdeu a eficiência e começou a dar no efeito contrário) e um antibiótico melhore um pouco (descobri quando tive otite e por coincidência o tal antibiótico foi o indicado). Descobri também que o único tratamento que parecia dar resultados mais duradouros era o homeopático.
Além do tratamento indicado pela dermatologista, comecei então o tratamento homeopático também. E veio melhorando, realmente. Mas demorou bastante - é só pensar que o Rô já tem quase 3 anos...
Atualmente, os cuidados incluem: creme para prevenção de acne, protetor solar fator 30 (que eu alterno com um outro que também faz às vezes de base,) e creme em volta dos olhos (tá, esse não tem nada a ver com a rosácea e sim com o fato de que tenho 30 anos...); duas vezes por dia, lavo o rosto com um produto livre de sabonete e à noite uso outro creme para redução das manchas e o creme dos olhos.
Tudo isso para contar que, dos produtos que uso todo os dias, três estão listados no site. Um como risco 8, um como 6 e outro como 3.
E aí, como dois deles estão acabando, agora estou numa baita crise e já até marquei consulta com minha dermatologista. Porque estou com medo de comprar e continuar usando; mas estou com medo de parar de usar e perder o trabalho de tantos anos...
Andei olhando as alternativas, especialmente produtos orgânicos ou naturais, mas ainda não tive coragem de comprar nada.
E agora estou aqui, cheia de minhocas na cabeça e achando que realmente este mundo está muito complicado da gente viver nele.
Imagem: http://falarsobretudoemaisalgumacoisa.blogs.sapo.pt/3894.html
04 julho, 2008
Como se fora brincadeira de roda...
Um deles é Guilherme Augusto Araújo Fernandes, de Mem Fox. Choro todas as vezes em que leio até hoje. Acho lindo e singelo.
E pensando nesse livro foi que outro dia comecei a me lembrar...
Um dos primeiros livros de sociologia que li - sem que tivesse sido indicado pelos professores, entenda-se - foi o maravilhoso Memória e Sociedade: Lembrança de Velhos, da Ecléa Bosi. Foi uma revelação.
Eu estava no primeiro ano da faculdade e encontrei o livro por acaso. As bibliotecas ainda eram todas separadas, e a nossa ficava num espaço escuro, abarrotado. Encontrei o livro num dos carrinhos de devolução, achei o título interessante e parei para olhar. Li a orelha, uns trechinhos da arguição da Marilena Chauí e decidi levar.
Ainda que seja um trabalho defendido na Psicologia Social, o livro mudou completamente minha maneira de entender o que é a sociologia, o que é o trabalho de pesquisa e, principalmente, o que é uma pesquisa de campo. O livro é um registro muito bonito das lembranças e memórias dos velhos que falaram com Ecléa, e as análises que ela faz são tão delicadas - não pesam no texto, dialogam com os entrevistados, deixam clara a importância tanto de uma escuta atenta quanto de "bons" informantes, dispostos a narrar parte de sua história.
E logo em seguida, saiu o livro do Carlos Heitor Cony: Quase-Memória (recentemente republicado). Eu li, reli, treli aquele livro. Li tantas vezes e sempre com a mesma grata surpresa. É um livro que fala da relação de um menino e de um homem com seu pai, e das lembranças inventadas que a gente põe no lugar da falta que sente...
Como eu tinha gostado desse livro, o Padilha (meu padrasto) me indicou o do Mário Martins: Valeu a pena. Um livro de memórias, super gostoso de ler, cujo ghost-writer foi Franklin Martins, filho de Mário.
Minha empolgação com o tema da memória continuava. E então resolvi escrever um projeto de iniciação científica, para tentar comparar o livro do Cony com as lembranças do Mário Martins. Livros absolutamente diferentes em estilo, objetivo etc. Por fim, uma professora ofereceu a mim e à Ana uma bolsa de iniciação e meu projeto ficou deixado de lado.
Acho que também por essa época que decidimos fazer um trabalho de campo, em Antropologia III - sobre velhice. Lembro que era III porque a gente também estava fazendo Sociologia III e lendo Marx :-) De maneira que nossa leitura da velhice estava toda enviesada pela questão do valor pessoal ligado ao valor produtivo etc. e tal.
Mas não era só isso. A gente entevistou jovens e velhos, resenhou filmes, interpretou contos e livros...Foi um trabalho daqueles tão ambiciosos que a gente só faz mesmo nos primeiros anos de faculdade, quando é jovem e sem-noção.
Eu tenho as fitas até hoje: histórias de São Paulo quando o condutor do bonde eletrético ainda esperava pelos passageiros usuais atrasados, por exemplo, ou histórias tão grandes que as fitas não venciam a quantidade de coisas que havia a contar.
Eu sempre gostei de ouvir histórias. Criança séria e tímida, os livros foram meus primeiros amigos. Mas o que eu mais gostava mesmo era de "ouvir" histórias. Para mim, nada havia de mais gostoso do que as férias na casa dos meus avós maternos, em que os adultos - tios, primos, tias-avó, tios-avô - se reuniam em torno da mesa para relembrar as artes e experiências que tiveram como crianças, as brigas, as gostosuras, as viagens malogradas, os apertos e apuros que haviam consolidado nossa família como uma família.
A cozinha também eram um espaço mágico e sagrado, onde todas as mulheres da família se apertavam depois das refeições para arrumar a bagunça mas também, principalmente, para conversar. Era na cozinha que circulavam as informações sobre as crises, se dividiam alegrias, se negociavam saídas...
Mais tarde, na época em que morei em Londrina, eu corria com minhas lições só para poder desfrutar das conversas da minha avó e da D. Cida, sua ajudante. Naquela época, minha avó fazia salgados para vender e eu sentava lá na cozinha e ficava observando e escutando as duas conversarem, filosofarem, relembrarem namoricos e emoções de menina. Enquanto uma abria a massa e a outra cortava os círculos, enquanto uma colocava o recheio e a outra ia fechando as esfihas com os dedos levemente molhados em água, enquanto uma passava o pincel com gema e a outra arrumava as esfihas na assadeira, eu ia aprendendo a ser mulher, a ser esposa, a cozinhar e a tecer os fios da minha própria história.
Depois, com Walter Benjamin, eu aprenderia a importância do trabalho manual e da distensão que ele propicia para a atividade de narrar. A narração que possibilita a experiência, em contraposição às vivências que se sucedem linearmente sem significar. Narrar é peneirar os significados das vivências, é reter o que importa, é distinguir no fluxo do tempo as marcas que constroem o fio de uma vida.
Talvez o que mais me emocione na história do Guilherme Augusto Araujo Fernandes é sua disposição em ouvir, em não aceitar que as memórias se percam - ainda que ele não saiba muito bem o que é uma memória. É assim que as memórias são recuperadas - porque há alguém disposto a ouvi-las, a revive-las. Alguém que encontra pretextos para a conversa - esses pequenos ganchos nos quais as lembranças podem se ancorar: como um livro infantil, a necessidade de escrever em um blog ou a coincidência de ouvir falar da Éclea Bosi duas vezes no mesmo dia...
02 julho, 2008
Profissão de fé
Uma profissão de fé nas palavras. Eu assino em baixo.
Coisa comum na casa dele é a gente estar conversando, surgir uma controvérsia sobre o significado de alguma palavra e de repente ele some e reaparece com um imenso dicionário. Faz questão de mostrar que está certo, e quando está errado fica contente por se surpreender...
Como é português, adora usar palavras comuns em contextos diferentes - por exemplo "essa comida sabe bem", que não significa que a comida tenha sabedoria, obviamente, mas que seu sabor é bom.
Como é viciado em palavras cruzadas, seu repertório é infinitamente maior do que o meu e vira e mexe a gente aprende uma nova palavra.
É. Desconfio que meu avô tem bastante a ver com minha paixão pelas palavras.
Coração roubado
No caminho, Rodrigo arrancou uma folhinha que estava sob a pintura de um muro. Olhou e exclamou: "- Olha, mãe! É um coração!". E colocou a folha sobre o coração, todo lindo.
Aí resolveu guardar para não perder a folha e percebeu que seu bolso era pouco confiável. Disse a ele que guardaria na minha bolsa, já pegando a folha. Pra quê? O menino ficou bravo.
- "Mãe, você roubou meu coração!"
Roubei...Mas se roubei, Rodrigo, foi porque, foi porque te quero bem.
01 julho, 2008
You won't believe just how good it can get
How good it can get (Wallflowers)
Slow down
You’re breaking up
Use your words
Don’t yell so much
I don’t understand a word
That you’re saying
Now move in
Come up close
You look like
You’ve maybe seen a ghost
Tell me
Has someone gotten to you baby
Now open your arms
Pick up your head
Open your eyes
So you can see
What happens next
You won’t believe
Just how good it can get
We’ll make a lover
Out of you yet
The fog is so thick
I can’t see my hands
It got much worse
Soon as I got in
And I know you’re somewhere
Here in the water
It’s ten feet deep
And the river won’t stop
I’ll tell you what’s in it
When I make it across
You could make it too
If you let someone help you
But you gotta give in
And you gotta let go
Then you can begin
To come up slow
Like a desert rose
Take a deep breath
And hold it in tight
And put your face up
Right into the light
Can’t you feel that full moon
Shining down on you
Help is coming
From the great unknown
Just maybe not
When you needed it most
Cause’ I can see you already
Know that you’re leaving
But I wish you’d stay
And just let me in
Cause’ everything can change
But you gotta be ready
Cause’ you won’t know when
E essa eu punha no repeat algumas vezes, porque adoro. E saber que a voz é do Jakob Dylan, lindo e maravilhoso é só um bônus!
"Everything can change and you gotta be ready cause you won't know when. And you won't believe how good it can get!"
Oxalá!
Imagem: http://www.wallflowers.com/Content/Picture/PictureResults.aspx?category=7723
A gente percebe...
Isso mesmo. Hoje ganhei esse presente insólito, que tornou possível a minha permanência por mais algumas horas dentro da biblioteca.
Obrigada, moça!
Do Livro das Epígrafes
(Caio Fernando Abreu)