09 julho, 2008

Wall.E (cuidado: spoilers!)


Hoje fomos assistir Wall.E. Não foi a primeira vez que o Rodrigo foi no cinema, mas ele estava realmente animado - e nós também, já que somos loucos pela Pixar.

Por isso, antes de falar do filme, vou falar só um bocadinho da Pixar. Quem já assistiu ao DVD de Curtas sabe que nos extras tem um documentário ótimo sobre a história deles: basicamente ele eram visionários, necessariamente assim mesmo, no plural, porque o que eles queriam fazer não era trabalho prum homem só. É impressionante notar como eles foram lentamente construindo as ferramentas, as técnicas, numa época em que computadores eram imensos e caríssimos e rodavam um ínfimo do que rodam hoje.

Uma história que eles contam nesse documentário é, para mim, reveladora do caráter dos caras. Eles faziam os curtas para apresentar em um congresso de computação gráfica (se não me engano). Quando eles chegaram a fazer o da lampadinha, eles já haviam apresentado uns três nesse congresso. Bão! Aí começa o filme. E o povo de-li-rou. O curta não estava terminado, por falta de tempo, mas ninguém parecia perceber. Eles foram aplaudidos por mais de 10 minutos. Porque, afinal, além das histórias, os caras que estavam lá sabiam (ou ao menos mensuravam) o trabalho que tinha dado fazer aquilo lá, ? Era de cair o queixo...

Acaba o curta e um cara super tchop-tchuras vem conversar com John Lasseter e, em certa altura, diz "Posso te fazer uma pergunta?". Pânico! A única coisa que John pensava era "ele vai me perguntar a equação do movimento X e eu não sei". Então, com ares de criança curiosa, o tal cara pergunta: "A lâmpada é o pai, não é?". E John, aliviado, pensa "agora sim. agora é sobre a história e as personagens e não sobre a tecnologia. Agora acertamos".

Wall.E
não é nem de longe só um filme "bonitinho" (embora seja muito, muito bonitinho). Primeiro porque, e esta é a razão de nós amarmos a Pixar, os caras são artistas mesmos - as histórias são boas, os roteiro são bem acabados (do tipo que não tem nada fora do lugar), as sacadas são muito inteligentes...O Rodrigo é viciado nos filmes da Pixar e a gente assiste junto: feliz e com prazer (tá, de vez em quando enche o saco, mas aí a gente ouve o Marlim, pai no Nemo, falando de "controvérsia emocional" e acabou o mau-humor...).

Mas para além da qualidade da história contada, o jeito que eles escolheram para contar também é lindo.

Sou de uma geração que viu a idéia de desenvolvimento e de futuro melhor desaparecer. Basta falar de dois filmes emblemáticos: Exterminador do Futuro, em que as máquinas inteligentes tentariam nos dominar, subvertendo inclusive as fronteiras entre passado, presente e futuro, e Matrix, que pintava um futuro no qual não passaríamos de pilhas.

No presente-armadilha em que estivemos presos por um longo tempo (saímos?), a desconfiança na razão não via possibilidade nas máquinas senão de uma rebelião contra nós: Exterminador do Futuro e Matrix são filmes em que a ciência de volta contra nós - a inteligência artificial não é melhor do que a humana e nos conduz à destruição.

Wall.E já se passa em uma época diferente: esse nosso tempo, cheio de ambiguidades, mas em que a gente já foi capaz de reconhecer a própria culpa pela destruição do planeta e da vida na Terra.

Arrisco dizer também que Wall.E pode ser diferente porque foi escrita por um grupo de pessoas que, trabalhando em equipe, puseram a (alta)tecnologia à serviço de uma ação muito humana que é essa de "contar boas histórias".

Em Wall.E, foram os seres humanos os responsáveis por transformar a terra num lixão. E são os robôs, capazes de emoção e sentimento, que promovem a reversão do quadro. A tecnologia, assim, não é vilã, mas um pequeno espaço possível para a mudança.

Mas é bom notar: os robôs provocam, mas não tomam a responsabilidade pelo primeiro passo - são os homens que precisam fazer isso. E também não há milagres na recuperação da vida na Terra, só a passagem do tempo, um "respiro" para que a vida volte a ser possível.

Tem mais um monte de coisa boa no filme: as personagens, a trilha sonora...Mas eu fico por aqui para não ficar como os últimos posts, imeeeeeensos.

Wall.E é um filme otimista. E imensamente doce...Eu chorei um monte no final :-) Porque não há nada como uma história bem contada para emocionar a gente...

* Comentário do Edu
(Ele escreveu no comentário, mas eu gostei tanto que resolvi tirar de lá e publicar aqui!)
Ok, eu chorei também. Só um pouquinho. Chorar, mesmo, só em dois filmes: "Johnny vai à guerra", de Dalton Trumbo, e ... ET, vocês sabem de quem. Ah, e num filme de cachorro que eu num lembro o nome...
Wall.E é sensacional! As resenhas que eu tenho visto o comparam muito com um filme mudo, coisa que o diretor assume, no estilo de Buster Keaton e Chaplin. Mas eu acho que, na verdade, é um musical! Tem até um (spoiler alerta!) balé espacial caprichadíssimo, clichê a não poder mais, com direito a um casal correndo em plano-contraplano e tal e que mesmo assim, ou por isso mesmo, você acredita que é a primeira vez que isso tá acontecendo no universo.
E tem exército Brancaleone, tem a Sigourney Weaver, a matadora de aliens, tem Gene Kelly, e tem, acho que o primeiro filme que mostra a humanidade assustadoramente alienada e, mesmo assim, trata-a com certo carinho e esperança. E tem o começo e o fim:
O engraçadérrimo curta que abre o filme - daqueles de se torcer de rir! - e a bela sequência dos créditos finais: essa é a que parece passar, sorrateira, a mensagem do filme: a de precisamos fazer o futuro com arte.


Imagem: http://breath-away.blogspot.com/2008/06/as-oscilaes-dos-tomates-animados.html

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