30 abril, 2008

Quando o amor acabou

(...) em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba”. (Paulo Mendes Campos)

Começara com um renovado impulso de mergulhar nas palavras – procurando novos autores, novos livros, novas maneiras enfim de reter o fluxo da vida transformando-os em prosa ou poesia. E bebia as palavras como se fossem a mais pura verdade, espantada com o novo mundo que ia se abrindo, dentro dela, à medida que as palavras escorriam pelo seu interior.

Com essas eternidades correndo nas veias, veio em seguida a vontade de escutar música o mais alto possível. Ouvia a mesma voz por horas a fio, tecendo delicadezas por dentro para dar corpo à impossibilidade de amar.

Veio ainda o desejo sempre insatisfeito de rearrumar os móveis, rearranjar as roupas, jogar fora tudo o que estava sobrando. Abrir espaço, desprender-se, tornar-se livre de todas as coisas que haviam inventado para viver e que agora haviam se tornado entulho no meio do caminho. Ela quase podia ver – com seu novo olhar de quem descera ao fundo com os olhos bem abertos para não perder nenhum detalhe – os sentimentos que nutriam um pelo outro encaixotados, empoeirados, empilhados à espera de uso no meio da sala, do quarto, do banheiro e até da cozinha.

As coisas aconteciam rápido, enxurrada, levando e lavando com uma violência em tudo contrária à pasmaceira à qual estavam habituados. Pelo imprevisto da irrupção, ela não tivera forças para se conter e, quase sem escolha, foi se deixando tragar.

Havia escolha. Mas ela não resistiu.

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