28 abril, 2008

Porque eu amo o Caio


(Essa carta eu encontrei este fim-de-semana. Foi o Maurice que me deu, antes mesmo de sair o livro com as cartas que ele escrevia, a tanta gente...E é tão bonita, que não resisti a dividi-la com vocês. Uma carta do Caio, escrita num agosto que parece não ter existido dentro dele. Pelo menos não naquele ano).

"Sampa, 08 de agosto de 1984
Luciano, mano

(...) Luciano Alabarse: eis que estou ótimo. (...) Tem uma felicidade mansa por dentro, devagarinho. A casa bonita. Os dias bonitos. A roseira bonita. E pessoas novas (tem coisa melhor que gente?) E trabalhos novos (breve a cores). Guardo o meu amor por dentro. É precioso. Pensar nele faz com que tenha vontade de cuidar de mim mesmo- então é bom. Guardando, guardando, feito jóia. Precioso, delicado. Meus dias têm sido claros. Lembro de um velho samba-canção: "Eu não peço nem quero/ para o meu coração/ nada mais que uma linda ilusão". Supersábio.

Joguei I Ching lindo hoje, bem na hora da minha Revolução Lunar, 14 graus de Capricórnio. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz - se não tiver, a gente inventa. (...)

Hoje estou pensando que ter amado meio torto durante tanto tempo talvez esteja me conduzindo a algo mais claro? É uma dúvida que te coloco. E sinto coisas tão boas, Luciano, ondas de energia claras que me sobem Kundalini acima - e então penso que está certo assim, na nossa sede infinita (Drummond) acreditar e levar porrada mas voltar a acreditar e cair do cavalo e não deixar de acreditar e se desenganar e se arrebentar mas continuar acreditando que, de alguma forma, há alguma resposta de humano para humano. E que amar o humano do outro e aceitar e amar teu próprio humano, e que esse é o único jeito, o único way-out possível: procurar no humano do outro a saída do nosso próprio humano sem solução. E na minha memória, amar os pés nus do meu amor na minha blusa roxa. Ou o beijo na boca na escadaria. E pouco importar que tudo tenha sido ou continue sendo fantasia ou carência, porque é assim que as coisas são, e é através disso - e só disso, venusiano total - que posso crescer, e não me importo nem um pouco de voltar e acreditar e de ficar todo aceso e mais delicado para olhar as coisas, qualquer coisa.

Na minha lápide, quero alguma coisa mais ou menos assim: "Caio F. - que muito amou". And that's it.".

And that's it.


Fonte da imagem: http://arrozcomtodos.blogs.sapo.pt/85133.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário