Na última semana de julho, fizeram aniversário minha mãe e minha avó. E eu fiz na primeira semana de agosto. Três gerações de leoninas.
Sempre tive a impressão de que as mulheres da minha família eram muito fortes e bravas. Às vezes até demais para mim, que tentava escapar ao destino, saía pela tangente, sempre achei que era mais virginiana (meu ascendente) do que propriamente leonina. Ao invés dos brilhos e dourados, eu queria mesmo era a discrição, a timidez e a suavidade.
Minha avó se casou cedo, aos 18 anos. Aos 19 estava grávida, aos 25 já tinha 4 filhos. Sua juventude gravada nas fotos espalhadas pela sua casa: cintura fina e sobrancelhas grossas.- cara de brava.
Aos 40, os filhos criados não moravam mais com ela. Então, como não tinha terminado nem a 4ª série, ela voltou a estudar, terminou a escola, fez Magistério e entrou na faculdade de Assistência Social. Muitas das suas amigas mais queridas são desse tempo de faculdade - mesmo mais velha, minha avó sempre teve o espírito jovem.
Quando passávamos as férias em Londrina, eu e minha irmã tínhamos um certo medo dela - ela brigava, punha de castigo, ameaçava passar pimenta nas minhas unhas roídas...Depois, quando aos meus 11 anos fomos morar com ela durante dois anos, a impressão se desfez em parte. Descobri que além de brava, ela é cheia de doçuras. Ela ouvia a gente, farejava problemas à distância e sempre esperava o nosso tempo de criar coragem e dividir as preocupações. Ao mesmo tempo em que era difícil conversar com ela (por causa do medo de sua brabeza), era impossível não conversar com ela, porque seus conselhos e compreensão faziam falta.
Em janeiro quando estive lá com o Rô - doída e triste com uma porção de coisas - não quis que minhas dores se sobrepusessem à alegria de reencontrá-la. Mesmo assim, antes de eu voltar, ela me disse poucas palavras, mas que me deram a certeza de que ela me vira e me ouvira. Brabeza nenhuma: puro mel.
Em janeiro quando estive lá com o Rô - doída e triste com uma porção de coisas - não quis que minhas dores se sobrepusessem à alegria de reencontrá-la. Mesmo assim, antes de eu voltar, ela me disse poucas palavras, mas que me deram a certeza de que ela me vira e me ouvira. Brabeza nenhuma: puro mel.
Minha mãe se casou aos 21, já grávida de mim. Terminou a faculdade, foi para São José, fez mestrado. Aos 30 anos, com duas filhas, estava separada - num tempo em que isso nem era comum. Depois, foi fazer parte do doutorado fora do país, deixando minha irmã e eu com os meus avós. Tempo de saudade, mas ela inventava presenças: o telefonema de toda semana e as cartas que chegavam sempre, em papéis de carta especialmente comprados para nós, recheadas de notícias e de adesivos fofos.
Tivemos nossas fases de brigas - duas leoas na mesma casa, não é nada fácil... Mas ao mesmo tempo, ela sempre esteve presente do jeito que sabia estar. Lembro de uma amiga minha que me dizia que eu era mimada, só porque de vez em quando eu ligava para minha mãe no trabalho e dizia: "Mãe, estou com um deseeeejo de comer coxinha". E ela então passava no shopping e trazia coxinhas e fogazzas para o nosso lanche.
Nos finais de semana, ela cozinhava, preparando o cardápio da semana. Imaginem, no auge da minha fase de adolescente dorminhoca, ela esperaria no máximo até umas 9h da manhã para ligar o rádio e começar a cozinhar, singing along com seu vozeirão. Eu em geral acordava brava, mas hoje em dia adoro ir visitá-la e ficar com ela na cozinha.
Quando vim para São Paulo, a gente parou de brigar. Em grande parte porque a saudade pôs as coisas em perspectiva. Senti bastante a falta dela, sobretudo do convívio mais cotidiano, das conversas no jantar ou dos passeios em que a gente fofocava livremente sobre a vida.
Minha mãe para mim sempre foi a encarnação da alma leonina: na exuberância da altura e das roupas coloridas, na voz alta, forte e clara, nas decisões "decididas"...
Uma outra coisa que me fazia sentir o signo como herança eram os signos dos homens que essas leoas escolhem como companheiros: meu avô, sagitariano; meu pai, sagitariano; meu marido: sagitariano. Por mais que eu tente me afastar daquilo que nelas eu credito ao signo - a brabeza ou a forma extremamente assertiva de se colocar no mundo - tais coincidências me deixam a impressão de que é inútil fugir.
Depois de tanto tentar escapar do que em mim é dureza, agressividade e paixão, fui descobrindo quão necessárias são todas essas coisas, nem que seja de vez em quando. Depois que o Rodrigo nasceu, então, céus! Me sinto cada vez mais leonina (e aquele papo de que depois dos 30, a depender da trajetória, é o ascendente que mais aparece, para mim não passou de balela: com o Rodrigo desorganizando tantas certezas que eu tinha, a virginiana em mim foi espantada para um cantinho bem pequeno!).
Mas já percebi que minha parte em toda essa herança está na ferocidade com que luto para escapar dessas identidades enrijecidas. Posso acolher com carinho minhas características de leoa agora porque posso igualmente experimentar o montão de possibilidades que estar viva me dá - independente do signo sob o qual nasci:
"Vai ser coxo na vida é maldição para homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou." (Adélia Prado).
Tivemos nossas fases de brigas - duas leoas na mesma casa, não é nada fácil... Mas ao mesmo tempo, ela sempre esteve presente do jeito que sabia estar. Lembro de uma amiga minha que me dizia que eu era mimada, só porque de vez em quando eu ligava para minha mãe no trabalho e dizia: "Mãe, estou com um deseeeejo de comer coxinha". E ela então passava no shopping e trazia coxinhas e fogazzas para o nosso lanche.
Nos finais de semana, ela cozinhava, preparando o cardápio da semana. Imaginem, no auge da minha fase de adolescente dorminhoca, ela esperaria no máximo até umas 9h da manhã para ligar o rádio e começar a cozinhar, singing along com seu vozeirão. Eu em geral acordava brava, mas hoje em dia adoro ir visitá-la e ficar com ela na cozinha.
Quando vim para São Paulo, a gente parou de brigar. Em grande parte porque a saudade pôs as coisas em perspectiva. Senti bastante a falta dela, sobretudo do convívio mais cotidiano, das conversas no jantar ou dos passeios em que a gente fofocava livremente sobre a vida.
Minha mãe para mim sempre foi a encarnação da alma leonina: na exuberância da altura e das roupas coloridas, na voz alta, forte e clara, nas decisões "decididas"...
Uma outra coisa que me fazia sentir o signo como herança eram os signos dos homens que essas leoas escolhem como companheiros: meu avô, sagitariano; meu pai, sagitariano; meu marido: sagitariano. Por mais que eu tente me afastar daquilo que nelas eu credito ao signo - a brabeza ou a forma extremamente assertiva de se colocar no mundo - tais coincidências me deixam a impressão de que é inútil fugir.
Depois de tanto tentar escapar do que em mim é dureza, agressividade e paixão, fui descobrindo quão necessárias são todas essas coisas, nem que seja de vez em quando. Depois que o Rodrigo nasceu, então, céus! Me sinto cada vez mais leonina (e aquele papo de que depois dos 30, a depender da trajetória, é o ascendente que mais aparece, para mim não passou de balela: com o Rodrigo desorganizando tantas certezas que eu tinha, a virginiana em mim foi espantada para um cantinho bem pequeno!).
Mas já percebi que minha parte em toda essa herança está na ferocidade com que luto para escapar dessas identidades enrijecidas. Posso acolher com carinho minhas características de leoa agora porque posso igualmente experimentar o montão de possibilidades que estar viva me dá - independente do signo sob o qual nasci:
"Vai ser coxo na vida é maldição para homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou." (Adélia Prado).
Imagem: http://www.contandohistoria.com/cervoeoleao.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário