Muitas das lembranças mais carinhosas que tenho do meu pai incluem um violão. Ele costumava tocar e cantar, desde as músicas das Arcas de Noé (e eu tenho ainda fitas cassete com os LPs da Arca gravados, só porque elas guardam a letra miúda e muitas vezes ilegível dele), até seus rocks.
Uma das músicas que ele cantava para mim era "Leãozinho", do Caetano Veloso, e eu demorei muito tempo para perceber que a música não tinha sido feita para mim. Porque quando ele cantava, era como se fosse. Era como se a música fosse minha, feita só para mim, uma pequena leoazinha: o leãozinho do papai.
Da última vez que nos encontramos, ele me deu um violão. Um violão que não aprendi a tocar direito, mas que me acompanhou durante todos os meus anos de faculdade, embalou festas, tornou as casas onde morei mais habitáveis. Até que numa das mudanças, o violão se perdeu.
Fiquei triste, sobretudo porque o que violão mais guardava eram as inúmeras músicas que ele cantou para mim naquelas férias, com a desculpa da afinação. Estavam gravados na madeira, uns ecos de corda e voz que tornavam a falta dele menos intensa.
Ainda que as músicas que ele cantava não fossem, afinal, feitas especialmente para mim, ali, ao lado, dele, cantando com ele ou apenas o escutando cantar, eu me sentia feliz, porque sabia que ele estava me dando e dividindo comigo uma parte dele.
Não eram só as músicas que viravam minhas. Era o pai que ficava mais meu.
Quando canto para o meu filho, tentando repetir a delicadeza do presente e o aconchego da intimidade, é parte do meu pai que divido com ele: as partes dele que ficaram em mim.
Uma das músicas que ele cantava para mim era "Leãozinho", do Caetano Veloso, e eu demorei muito tempo para perceber que a música não tinha sido feita para mim. Porque quando ele cantava, era como se fosse. Era como se a música fosse minha, feita só para mim, uma pequena leoazinha: o leãozinho do papai.
Da última vez que nos encontramos, ele me deu um violão. Um violão que não aprendi a tocar direito, mas que me acompanhou durante todos os meus anos de faculdade, embalou festas, tornou as casas onde morei mais habitáveis. Até que numa das mudanças, o violão se perdeu.
Fiquei triste, sobretudo porque o que violão mais guardava eram as inúmeras músicas que ele cantou para mim naquelas férias, com a desculpa da afinação. Estavam gravados na madeira, uns ecos de corda e voz que tornavam a falta dele menos intensa.
Ainda que as músicas que ele cantava não fossem, afinal, feitas especialmente para mim, ali, ao lado, dele, cantando com ele ou apenas o escutando cantar, eu me sentia feliz, porque sabia que ele estava me dando e dividindo comigo uma parte dele.
Não eram só as músicas que viravam minhas. Era o pai que ficava mais meu.
Quando canto para o meu filho, tentando repetir a delicadeza do presente e o aconchego da intimidade, é parte do meu pai que divido com ele: as partes dele que ficaram em mim.
nossa.
ResponderExcluiresse vídeo me trouxe altas memórias. :-)
eu também tenho uma estória parecida, meu pai era músico e tocava muito pra mim. no meu caso, era a música "gatinha manhosa" que eu tinha certeza que ele tinha composto pra mim. demorou muito pra eu descobrir que não era...
lembranças, lembranças.
bjinhos