29 junho, 2009

Mauricio


Tem pessoas que a gente ama e pronto, sem precisar de explicação ou justificativa: ama porque sim.

O Mauricio é um dos meus amigos mais queridos (como quem lê o blog já deve ter percebido, tamanha a frequência com que ele aparece por aqui) e é uma dessas pessoas a quem simplesmente amo. Nos conhecemos há pouco mais de treze anos, quando tínhamos cara de muito novinhos (e éramos!).

Foi para o Mauricio que dei "O Inventário do Ir-Remediável" de aniversário, no meio de uma aula lotada na famigerada sala... 14? (mas, felizmente, não carrego a culpa por ter apresentado o Caio a ele, já que ele só foi gostar mesmo quando leu "Os dragões não conhecem o paraíso", que tinha emprestado da Ana). Foi com ele que troquei inúmeras mensagens, em tempos de aulas e também de férias (que, naquela época, duravam um tempão), além de bilhetes durante as aulas, cartas de fim de semestre e dedicatórias e adendos nos trabalhos finais. Foi também pra ele que dediquei minha tese, querendo fazer jus à intensidade (e, sobretudo, à importância) de nosso diálogo.

Embora não precise de explicação ou justificativa, não me faltam motivos para amá-lo tanto: pela paciência que tem comigo, pela inteligência límpida e sensível, pelo humor delicioso, pelo bom gosto, por tudo que me ensina, pelas séries de TV divididas, porque ele é lindo e gostoso, porque divide comigo a paixão pelo Caio e pelo Foucault, porque é uma das pontas desse triângulo amoroso essencial entre ele - Ana Lucia e eu... Também porque ele não me rifa apesar de meus furos em suas festas de aniversário (como a do último sábado), apesar de eu sempre atrasar a entrega de seu presente (e, em muitos anos, entregar o presente dele só no meu aniversário) e apesar das minhas loucuras, inseguranças e besteiras.

Tem pessoas que a gente ama porque sim: é bater o olho, se reconhecer e pronto! Mas mesmo sabendo dessas sem-razões do amor, é bom quando a gente vai encontrando e renovando os motivos para continuar a amar, quando a gente vai adensando a memória compartilhada (que um dia o Mauricio me disse que era a amizade) até o ponto em que fica difícil separar certos momentos da vida e pedaços nossos da história do outro. Mauricio, meu querido amigo: pra você, o meu carinho infinito...

Imagem: Ann Tarantino

3 comentários:

  1. Uma vez eu vi uma pessoa muito importante para a Fabiana dizer que não sabia o que ela tinha ido fazer nas Letras. Eu confesso que aquilo me doeu, e me doeu pelas duas, pela Fabiana, pelas Letras. Aí a minha raiva, com o nariz todo empinado, disse dentro de mim (porque a minha boca, num dos seus raríssimos momentos de lucidez, ficou paradinha): “e eu não sei porque é que ela deixou as Letras”. Lesada, eu não juntei àquela minha raiva a certeza de que ela nunca deixou as Letras porque ela transpira sentimentos de uma forma excessivamente literária e, portanto, aquela fala tola que eu presenciava só podia ser feita a partir da superfície, apenas massageando a pele macia da Fabi. Era preciso mergulhar por aqueles olhos grandes adentro para saber que o suposto divórcio era mera formalidade. Eu não vou negar que aquele afastamento formal também me entristeceu um pouco. Eu, tão tola quanto o outro. Não podia compreender uma espécie de Fabiana-sem-literatura. Eu pensava não dominar o código que tornasse legível essa sentença. Na verdade não era o código que eu não dominava, era a sentença que era falsa. Eu, que nunca arredei pé da literatura no trabalho, sou tão menos literatura que a Fabi. Tão imensamente menos. E só estou dizendo isso porque acabei de ler sobre o amor dela pelo Mauricio, que é de pedra, de fogo, sem peso. No amor da Fabiana pelo Mauricio pulsa baixinho uma literatura sem arritmia, compassada e eterna. E isso é cadência criada por ambos. Quando o Mauricio não acabou o mestrado, eu também fiquei triste. Não nego também. E preocupada. Ele entrou na conchinha e girou o trinco pelo lado de dentro. A gente não queria bater na porta para não chateá-lo, então ficamos sentadas no chão, em frente da concha, esperando ele sair. Me lembrei de como o conheci: eu estava falando para alguém, que eu já não me lembro mais quem era, que um plano-seqüência do “Um olhar a cada dia”, do Angelopoulos, era lindo de morrer, e o Mauricio, que estava de passagem, e não conhecia nem a mim nem ao meu esquecido interlocutor, se meteu na conversa e disse: “Esse filme é chato demais!” Ele estava de calça preta e com uma camiseta branca estampada de preto que eu acho que era do “The Smiths”, e, como sempre, com uma mochila preta pendurada no ombro esquerdo. Garramos prosear e nunca mais largamos. Ele, infinitamente mais assíduo do que eu, nunca se esquecia de ler o combinado, de levar o combinado, de fazer o combinado, e eu, sempre atrapalhada com tudo, vivia deixando ele na mão. Um dia eu soube que ele entrava nos meus e-mails para ver se o que ele havia me mandado tinha chegado, isso e outras coisinhas mais.... E eu sei porque. Era porque ele sempre me mandava e-mails imensos, e eu não olhava, e como ele me perguntava no dia seguinte se eu tinha visto e eu tinha vergonha de dizer que não, eu mentia e dizia que não tinha chegado nada dele. Ele, que não é bobo nem nada, desconfiou. Passou a checar escondidinho depois de me enviar algo. No dia seguinte ele me perguntava, e eu respondia: “não, não chegou nada seu”; e ele dizia: “então mando de novo”. Não sei ao certo por quanto tempo ele me viu mentindo e me perdoava, sistematicamente me perdoava. Eu confesso que eu não sei porque é que eu merecia tanto perdão. Mas sei que, agora, também não deixo mais ele ir embora de mim. Agora tem que ficar para sempre. E mesmo que ele se tenha ido da Sociologia, e a Fabiana das Letras, e eu, a covarde de plantão, tenha ficado agarrada às mais iniciais decisões, somos mesmo um ménage à trois. Nós somos uma perversão.

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  2. Eita, minha querida, que o Rodrigo agora ficou olhando pra minha cara pra ver se entende que raios a mãe dele tá fazendo, olhando pro computador, sorrindo e chorando, tudo ao mesmo tempo.
    Nós somos isso mesmo: perversão das boas! Todo o meu amor.

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  3. "Tem pessoas que a gente ama porque sim: é bater o olho, se reconhecer e pronto! Mas mesmo sabendo dessas sem-razões do amor, é bom quando a gente vai encontrando e renovando os motivos para continuar a amar."

    Adorei!

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