28 junho, 2011

para o livro das epígrafes

(via Veronika).

valer la pena, juan yanes
En el borde, en el límite, en la frontera, en el riesgo, en la inseguridad, en la incertidumbre, en donde empiezan las cosas que no han sido dichas, los fenómenos que no tienen nombre, las formas que no han sido definidas, los objetos que todavía nadie ha nombrado. Sólo vale la pena vivir donde empieza el vértigo. 
***

A vertigem inebriante à beirada do abismo, tontura e cansaço do esforço que levou até ali. Como se na fundura morassem todas as palavras conhecidas, e elas esperassem nosso salto para se revelarem outras. Na base do poço, o que sabemos virado em ainda não? Engano meu: em pleno vôo, a iminência do infinito.

27 junho, 2011

dia 31

Finalmente, o desafio musical chega ao fim. Por isso, nada melhor que grupo Rumo cantando "Essa é pra acabar". Para terminar com bom humor, "antes tarde que mais tarde":

E nem é uma questão só de entender

Vocês também têm mais o que fazer

Ficando por aqui

A coisa é enfadonha

Acaba o repertório

E a gente fica com vergonha

Voltamos, então, à nossa programação normal!


26 junho, 2011

na estrada

O vôo emaranhado na antena do caminhão. Caminhão-pipa: o sonho dos meninos domesticado na literalidade da imagem. Me assombro. E logo a ideia me ultrapassa.

dia 30

na categoria "trilha sonora de infância", Fire Inc. (!), na cena final de Ruas de Fogo - filme que passava toda santa Sessão da Tarde. "Tonight is what it means to be young" é tudo de bão nessa vida: praticamente uma passagem de volta aos anos 80 ;-)

25 junho, 2011

dia 29

na categoria "musiquinha delícia", Regina Spektor, cantando Us. Docinha, docinha, que é para o sábado de sol terminar iluminado.

21 junho, 2011

dicionário

abro a caixa de ferramentas. página a página procurando aquela capaz de abrir a porta. do outro lado, a esperança de um espelho que me revele diferente de mim: aquilo que ainda não sou, apenas intuo. mexo e remexo as páginas. menos confiando descobrir a palavra certa, assim a esmo, e mais na ocupação das mãos. encontrando respiro no ar fresco levantado pelo desfolhar: bem-me-quer-mal-me-quer figurado. tem dias que o bem-me-quer resulta em arranjos de pétalas com alguma beleza; tem dias que o mal-me-quer aprofunda o silêncio. hoje, por exemplo, as pétalas amontoadas em desordem e a porta fechada. hoje, eu ainda igual a mim mesma.

18 junho, 2011

dia 28

e, complementando, na categoria "para acordar gente grande", Palavra Cantada com sua "Pé de Nabo". Praticamente uma lição de vida ;-)

dia 27

na categoria "pra ninar gente grande", a doçura da voz da Ceumar, cantando Dindinha. A letra é do Zeca Baleiro, que é mestre na delicadeza de arranjar palavras de modo preciso e bonito. Adoro!

Dindinha parece mesmo cantiga infantil, cheia de rimas e ensinamentos que só com o tempo a gente entende em todas as consequências. Tão bonita e certeira...


16 junho, 2011

dia 26

é a música que toca em Pontes de Madison, num radinho de pilha que faz a voz de Billie Holiday vir direto do passado. é uma música linda, que fala de urgência e de presente. por causa dela, paguei o preço mais caro num cd importado, apenas para para descobrir que a versão era diferente é que não era nem de longe tão bonita quanto essa. uns anos depois, a supresa: a música nessa versão, encontrada numa banquinha das Americanas por R$7,90. o misterioso sentido de justiça do universo.

o Zizek não gosta das Pontes de Madison. acho que é o Zizek, posso ter me confundido. mas não, não me confundi: ao falar da relação entre o indivíduo e um Outro (outra pessoa, uma instituição, o Estado...) que sabe, Zizek comenta sobre a reversão final de A era da inocência e pensa se essa não seria uma forma de redimir As Pontes de Madison: que ao fim do filme ficássemos sabendo que o marido, simplório e caipira, sempre soube do que ocorreu entre ela e o fotógrafo:

[...] Esse é o enigma do conhecimento: como é possível que toda a economia psiquíca de uma situação se altere radicalmente, não quando o herói fica sabendo diretamente de algo (um segredo há muito reprimido), mas quando ele é informado de que o outro (que ele imaginava ignorar) também sabia o tempo todo e só fingia não saber para manter as aparências - existe coisa mais humilhante que a situação de um marido que, depois de um longo caso secreto de amor, fica sabendo de repente que sua mulher sabia de tudo há muito tempo, mas guardou segredo por educação ou, o que é pior, por amor a ele?" (Slavoj Zizek, Bem vindo ao deserto do real. São Paulo: Boitempo, 2003, p.83).

(o texto é sobre outra coisa - é sobre a fantasia totalitária de poupar os indivíduos de toda dor, inclusive a de saber que o outro sabe algo que ele próprio não deve saber, justamente para não sofrer. mas não há possibilidade ética de prevenção de todo o sofrimento e de toda dor, porque é esse mesmo pressuposto que está equivocado na medida em que ele é oposto à ideia de vida).

(para partir é preciso coragem; para ficar, também. mas partir também pode ser covardia; e ficar, também).

mesmo antes de casar, no fim do filme eu também me agarrava à porta do carro como a uma certeza puída, e molhava o mundo com as minhas dúvidas. esperando que dessa vez a mulher criasse pernas para ir embora. esperando que dessa vez o nó atado doesse menos ao se apertar tão firme. a fita vhs que a Ana me deu, porém, teimando em permanências.

So love me tonight
Tomorrow was made for some
Tomorrow may never come
For all we know

o Zizek tem razão. o Clint Eastwood também:

não tem forma pra tanta contradição.
e uma rima nunca é uma solução.

12 junho, 2011

dia 25

Hoje vamos de novo de Chico Buarque e Telma Costa, cantando as confusões do amor, com sua bagunça de roupas entrelaçadas no armário, de corpos misturados, de enleios de sonhos e esperanças e planos, de fratura com o tempo do relógio e do cotidiano. Tantas desordens. Tanto presente.

Dizer eu te amo é estar assim, enraizado no agora? Sem veículo, sem rumo, sem pernas, sem vergonha. Sem possibilidade de partir.

Chico, então. Na categoria "resta um".

11 junho, 2011

apetência

Tudo começou assim: há uns dez dias, comprei um mangá chamado Gourmet. E devorei em dois dias, porque as histórias são curtas, a gente quer saber o que vai acontecer com o protagonista, e além do mais é leitura saborosa por demais!

São dezoito cenas, que parecem curtíssimas, mas só porque a narrativa é tecida por desenho e palavras. Fosse possível colocar em palavras tantas minúcias, certamente o livro daria um romance ;-) Fato foi que o protagonista parece sempre com fome, e os pratos que ele encontra pelo caminho são ao mesmo tempo tão simples, mas tão adequados... que eu lia e só pensava em ir até a Liberdade e comer, comer, comer... Cada história traz a visão e a descrição do prato, em detalhes. Juro para vocês que dá para sentir o cheiro da comida sendo preparada, os cheiros dos pequenos restaurantes onde ele entra...

Por conta de tudo isso, fiquei morrendo de vontade de comer comidas japonesas. Só que a gente anda com uma certa escassez aqui no bairro de lugares onde comprar ingredientes com variedade e a preços honestos. Depois que o hortifruti que ficava onde era a CAC fechou (a gente passou um final de semana por lá e o terreno estava todo aplainado!), ficamos sem opção. Até abriu uma lojinha bem bacana e não muito cara na Heitor, mas nem sempre eles têm as coisas. De todo modo, foi até lá que fomos sábado passado, para comprar coisas para fazer Udon e também algumas conservinhas para comer com goham.

Semana passada, então, o final de semana teve goham com conservinhas e guiozas, o udon delicioso do Edu e ainda sobrou caldo prum lamen no domingo à noite.

Eu achei que toda essa comilança tivesse acabado com a minha gulodice pós-mangá. Mas eu estava enganada (inclusive, depois de tanta comilança, dá para dizer que eu estava redondamente enganada :-P). Por isso, hoje aproveitamos a manhã ensolarada para ir à Liberdade, passear, comer bolinho de legumes delicioso na barraquinha da Batchã mais fofa desse mundo, namorar panelas elétricas de arroz e, claro, abastecer o freezer com pão chinês e moti bem fresquinho (aprendi no final do ano passado, com a moça da feira que me vendeu o moti para o ano novo: quando ele está bem fresquinho, é só congelar e tirar uns vinte minutos antes de preparar!), comprar conservinha de nabo, umeboshi, obentô pro almoço. E é tão gostoso passear por lá sem pressa, namorar vitrines de comidas, sentir o perfume de comida que começa a sair dos lugares mais pequenininhos e inusitados...

É engraçado que não é uma fome só de comida. É uma fome de revisitar sabores conhecidos, de saborear as misturas do doce com o amargo com o azedo, de reencontrar um passado que nem é meu... uma fome de satisfazer a alma, como se possível fosse.

Deve ser por isso que o personagem está sempre com fome, mas também sempre cheio. Aprendi essa semana, com a médica, que o adoecer nunca dá espaço para que duas dores coexistam: uma sobrepuja a outra. Vai ver que ter fome sobrepuja outras faltas. Vai ver estar cheio reativa faltas que latejavam em silêncio. Porque saudade não faz ponhóinhóim na barriga, mas dói também. E nem toda voracidade do mundo é capaz de disfarçá-la.

E para não ficarmos sem música, hoje, dia 24, numa não-categoria (já que só lembrei da música ao escrever o post) vamos de Titãs, "Comida". Que a gente quer inteiro, e não pela metade.

10 junho, 2011

dia 23

na categoria "à espera", não temos música de elevador e nem de aeroporto, porque não é dessa espera vazia que se trata. na categoria "à espera" temos Adriana Calcanhoto, cantando Vambora, que é canção de aveludar por dentro, ideal para quando a gente quer recuperar a memória que fica guardada nos cantos da casa, nas prateleiras de livros, nos cheiros repentinos. ideal para quando as batidas do coração parecem suspensas pela esperança de que a porta se abra e a vida mude num repente.

09 junho, 2011

dia 22

Na categoria "paixão nova", hoje vamos de The National, presença obrigatória no mp3 ultimamente. Como bem definiu a Bia, "é Interpol com letras que fazem sentido" :-)

Num show, eles começam a tocar Conversations falando que é uma música sobre "canibalismo, mas principalmente sobre amor". E para provar que esse blog ainda é cultura, já que a música e o vídeo tratam de toda essa temática zumbi, deixo aqui o link para o verbete Zombies, no Dicionário Filosófico de Stanford. Porque zumbis são coisa séria, sabem? Uma coisa, tipo assim, cerebral.

Mas, falando um pouco sério, se antes nossas distopias pintavam um futuro em que seríamos pilhas ou replicantes, não deixa de ser sintomático que hoje elas passem tanto pela ideia de uma humanidade zumbi, devastada por uma epidemia. Coisa séria mesmo.

E eu já contei que adorei Zumbilândia? E que Shawn of the dead também é o máximo?

Para terminar o post nonsense no clima: Brrrrrainnss-brrrainnsss-brrainnnns!!!

08 junho, 2011

dia 21

na categoria "virundum clássico", Ney Matogrosso cantando divinamente "Um homem pra chamar Dirceu".




07 junho, 2011

dia 20

na categoria "para serenar o coração", Emiliana Torrini. Para respirar fundo, fechar os olhos e fazer de conta que os pés tocam o macio da grama coberta de orvalho, que o corpo se arrepia ao vento fresco do dia amanhecendo, que os ouvidos ficam plenos de silêncios e água correndo, fria e límpida pelo leito de um rio. Música para serenar o coração. E lavar a alma.

06 junho, 2011

dia 19

na categoria "poesia ao rés-do-chão", Chico Buarque cantando essa crônica doce e saborosa sobre os amores suburbanos, feitos na urgência do sofá, à sombra do horário da última condução e a despeito das vigilâncias das (más) línguas.

05 junho, 2011

dia 18

na categoria "cabeludos dos anos 80", Bon Jovi, cantando "Living on a prayer". Lindo-lindo-lindo! Diretamente da época em que eu assistia cliptrip para vê-los e tinha posters do Jon Bon Jovi espalhados pelo quarto. Ah, a adolescência... Ah, os anos 80..

Acho que esse desafio musical tá desenterrando várias memórias musicais. Porque confesso que fazia tempos que não pensava nem em Dalto, nem em Skid Row (coloquei 18 and life na categoria "cabeludos..." no facebook), muito menos em Duran Duran. Mas estou curtindo bastante: é ótima desculpa para fuçar no youtube, em busca do tempo perdido. Menos espontâneo, mas mais saboroso que madeleines ;-)

04 junho, 2011

dia 17

Na categoria "melhor pior música", Dalto, cantando Jezebel. Deliciosamente labreguento, ainda carrega memórias queridas, de noites em claro com ela, regadas a Coca Diet, um pouco de vinho Canção mas sobretudo muita poesia.

dia 16

Na categoria "melhor versão", On the rocks cantando "Bad Romance". Procurando o link, ainda acabei descobrindo que, depois do sucesso que eles fizeram no youtube, os caras conseguiram recursos para fazer esse clipe chiquésimo e super produzido aí de baixo. Adoro!

Então, bom sábado para vocês, ao som de Lady Gaga :-)

03 junho, 2011

dia 15

Essa música inaugura uma categoria - "rainy days and mondays". Eu tinha uma fita cassete, cheia de musiquinhas que, como ela, eram cheias de doçuras e dorzinhas mansas; a fita servia para as viagens São Paulo - São José, nos primeiros tempos de graduação. Naquele tempo em que eram necessárias várias fitas de noventa minutos para qualquer viagem mais comprida :-)

Então, hoje vamos de Carpenters.

02 junho, 2011

dia 14

Essa é uma categoria especialíssima: "coisas pelas quais vale a pena viver". Sabe, daquelas coisas tão bonitas que você respira fundo e pensa, "bom, é tanta beleza que a vida ganha cor e sentido?". Então. A voz do Milton Nascimento cantando Cais provoca essa sensação, entre o sublime e o místico (como bem notou o marido).

E Cais... bom, Cais é perfeita pra quando a gente precisa se despedir da gente mesmo - "eu quero mais/ tenho o caminho do que sempre quis/ e um saveiro pronto pra partir/ invento o cais/ e sei a vez de me lançar". Que de vez em quando o jeito é mesmo reunir forças e se atirar ao mar.

01 junho, 2011

dia 13

na categoria "poema cantado", poema de Hilda Hilst musicado por Zeca Baleiro e cantado pela Angela Roro. O cd inteiro é lindo (Ode descontínua para flauta e oboé. De Ariana para Dionísio), mas a pungência da Angela Roro me fez decidir pela Canção V.

Os dez cantos fazem parte do livro Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão. É um dos meus livros prediletos nessa vida - inclusive, o nome do blog tem a ver com um poema que está na primeira parte do livro (Dez chamamentos ao Amigo).

Eu já tinha falado do cd aqui, logo que o ganhei. Continuo achando que os poemas, enquanto falam de amor e ausência, falam também dessa potência da palavra: capaz de tornar o mundo habitável, preenchendo de sentido o vazio ao jorrar umas intensidades inventadas por sobre as pedras nuas e os caminhos de terra batida.