02 dezembro, 2008

Confort Food


Um dos meus programas prediletos da Nigella é um em que ela faz várias "confort foods", isto é, aquelas comidas que a gente tem vontade de comer quando o coração aperta e agosto se instala por dentro (ajudou, Fabíola? "agosto por dentro" é essa tristezinha que nos acomete de vez em quando, doendo muito e parecendo que vai durar pra sempre). Eu fico confortada só de ver aquele risoto maravilhoso, cozinhando lentamente e que deve ser tão bom quanto canja de avó. Claro que a imagem da Nigella também ajuda um pouco, né, que eu sou apaixonada confessa: acho ela linda, linda, linda e adoro vê-la se deliciando com doces e comidas boas!

Teve uma época na minha vida, pouco antes de mudar uma porção de coisas, em que eu usei muito a cozinha como espaço de alquimia: tinha desejo de coloridos, matava a fome só de ver as cores fortes, sentir os cheiros invadindo a casa... Acho que brincava de transformar o cru em cozido só para transformar por dentro o que precisava, sem ter que pôr em palavras.

Talvez por isso mesmo eu goste tanto do livro Kitchen, da Banana Yoshimoto. São três contos, todos muito bonitos e delicados, todos de alguma maneira lidando com a morte e com a inconformação. Já perdi a conta das vezes que li.

O primeiro conto, "Kitchen", é sobre solidão e encontro, sobre medo e aceitação. E mesmo sendo tão marcado pela morte, é leve... quase infantil na forma da narrativa. Podia ser um conto de fada. Excetuando que, ao invés de princesa, a mocinha vira chef. E que o príncipe, ao invés de decidido, tem mesmo vontade é de fugir.

Foi por causa desse conto que eu, que sempre gostei de Udon, elegi essa comida como a minha preferida quando preciso de "confort food" - ela é quente, tem macarrão, caldo de frango, omeletinhos, pode ser colorida com cenoura ralada e muita cebolinha, e ainda tem kamaboko (massinha de peixe, que pode ser cor de rosa ou pode ter recheio de gobô, que eu amo!). O Edu faz um Udon delicioso e reconfortante.

Em um dado momento do conto, Mikage (a mocinha) está loooonge e faminta e decide ir até um restaurante, comer Udon. E é tão gostoso, tão quente, tão suficiente para fazê-la esquecer de todas as suas dores, que ela decide pegar um táxi e ir até uma cidade distante levar um pouco para o Yuichi. Várias trapalhadas depois, ela consegue entregar a ele e eles comem juntos. E mesmo que contado assim pareça bobo, o amor deles é tão cheio desses pequenos cuidados, na proporção inversa da capacidade deles de expressá-lo em palavras, que a cena acaba sendo tocante.

Outra comida que adoro é o risoto de pêra e gorgonzola que a Monika faz. Não é só o risoto, claro, é a conversa durante a preparação, o vinho, os cheiros, o barulho de pratos sendo postos à mesa... A celebração da possibilidade de dividir tanto, com que tanto já é dividido.

E vocês? O que comem quando a vida pesa?

Imagem: http://www.platinumkoi.co.za/special/japan2006.htm

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