11 dezembro, 2008

Ternura

Por fim, ontem foi muito gostosa a contação de história. Principalmente porque tinha o “coelho da cartola” do tal do bolo de lobo fofo :-)

Cheguei e as crianças já estavam me esperando na roda, todos lindos. E o Rô, abriu um baita sorriso quando me viu, mas nem veio correndo me abraçar, como de costume. Ficou lá na roda, para ouvir a história.

Ele não tinha visto nem a caixa, nem os fantoches de papel e, portanto, estava tão curioso quanto as outras crianças. Ele só sabia do bolo, mas tínhamos combinado dele não contar pros amigos.



Enquanto decidíamos se eu ia contar na roda ou se íamos fazer de um outro jeito, para que eles não pudessem olhar dentro da caixa, eles ficavam me chamando. O P.G. ficava “Fabiaaana; Fabiaaaná!” e ao ouvi-lo, o U. também começou a me gritar. A A.M., que é uma doçura de menina, me olhava desconfiada mas com os olhos sorrindo. Como eles são queridos! Ainda nesse meio tempo, o F. Veio conversar comigo, me explicando que aquela caixa era um presente de aniversário. Aí perguntei de quem era o aniversário e ele me explicou, paciente, “de ninguém...”.

Bom. Aí fui começar a história. Me apresentei, expliquei para eles que a história que eu ia contar, a minha mãe contava pra mim, mostrei a minha edição do livro (toda detonada, precisando reencadernar). E comecei a história. Mal tinha falado o nome, eles começaram: “Eu tenho esse livro!”, “mas a chapeuzinho é vermelho!”, “será que tem lobo nessa história?”, “ah, tem, e ele vai comer a chapeuzinho!”.

Alguns palpites mais, respondidos, e continuamos. Como a história é bem ritmada, até que eles ficaram mais atentos do que eu esperava. A maior questão mesmo é segurar os palpites, porque eles ficam pirando na continuação da história!


Aí, apareceu o lobo, a Chapeuzinho perdeu o medo, e na hora em que o lobo fala lo-bo umas vinte e cinco vezes, eles me ajudaram, fazendo coro: lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo... E então chegou o momento do coelho da cartola: quando a Chapeuzinho manda ele parar, e ele vira um bolo de lobo fofo, tirei da caixa o bolo de chocolate, todo colorido e com vela em cima! A cara deles!!! Eles ficaram boquiabertos e começaram a bater palmas. E aí claro que as últimas páginas foram esquecidas, porque eles levantaram e se amontoaram em volta do bolo. Aí todos foram lavar as mãos – e nessa hora o Rô virou pra mim, super dono das regras do espaço dele, “não pode comer de mão suja, viu?”.

Fui cortando e distribuindo o bolo, tentando driblar as tentativas de sedução, ali no meu ouvido: “Fabiana, primeiro eu, tá?” (e nem era o Rô). Nisso, a A. M. recusou uns três pedaços que ofereci a ela (mas não saía do meu lado). Aí, eu resolvi tentar: “A. vou te contar um segredo: esse bolo de lobo eu fiz com chocolate!”. Resolvido o problema! Ela começou a rir e aceitou o pedaço... As outras crianças entraram na fantasia, mas estavam contentes da vida, comendo perna, orelha, barriga e olho de lobo. Tão bom quando a gente enfrenta o medo e o transforma em bolo de chocolate...

Sei que o Rô estava felicíssimo. E hoje de manhã, pediu para contar e me contou a história umas três vezes. Aí, em um dado momento, parou e me disse: “mãe. Eu 'tou chateado”. Perguntei por que e ele me explicou: “é que eu queria que você fosse de novo na escola, contar a história da chapeuzinho, pra gente comer de novo o bolo do lobo!”.

Já na segunda-feira, em que fui de manhã na aula de capoeira para a qual os pais foram convidados, tinha percebido como eles ficam felizes de terem os pais no espaço deles. É uma explosão de alegria! Tão bonito!

Essas visitas são muito marcantes, ainda mais com essa partilha de histórias...A proposta fechou o ano – que já foi tão intenso e bonito para esse grupo – com chave de ouro. Foi muito emocionante.

* ontem à noite, também rolou o primeiro encontro do grupo do Rô sem ser em festa de aniversário: alguns amigos se encontraram numa pizzaria. Aí, a mãe da L. me contou que foi contar a história da D. Baratinha (que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha). Ela levou uns apetrechos para contar a história e disse que nunca imaginou que eles iam pedir para ver quanto dinheiro ela tinha na caixinha! Mas eles pediram e ficaram muito desconfiados ao ver que estava vazio. Ela apelou para a imaginação “tem um monte de dinheiro, sim, olhem!”, mas eles parece que não acreditaram não...Falei que era um público difícil: eles não deixam nada barato!

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