08 julho, 2009

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Era aquela lua vermelha que lhe tornava assim tão aguda. Ela era silêncio. E uma dor rasgada lhe habitava o corpo. “Agora sou pássaro”, pensou baixinho, abrindo os braços antes que o pensamento se completasse. O corpo sabia mais do movimento de liberdade que transfigurava a Mulher. Ela estava doente de ser prisioneira e lutava com desespero para não ser quem era. Fazia o exercício do ilimitado e nunca então esbarrava tanto em limites. A dor moradora de seu corpo às vezes dormia, outras sonhava ser prazer, mas na maior parte do tempo apenas latejava. Doendo-doendo-doendo. Incansavelmente dor.


“Agora sou flor”, pensava, seca, tentando segurar a vida entre os dedos. Mas se era botão, arrancavam-na. E se já era flor, fazia-se outono e logo estava no chão. Durante a queda bailarinava, mas apenas até estilhaçar-se, seca e opaca.


A Mulher estava aos pedaços sob a lua tão vermelha quanto o líquido que escorria dentro dela, tão vermelha quanto o fogo que ardia dentro dela, tão vermelha quanto os seus olhos secos de não chorar. Mulher aos pedaços. Seca. Árida. Nem pássaro nem flor.


Palmilhava o chão sem pressa, sem onde ir. Tudo era silêncio sob a lua vermelha.


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