10 fevereiro, 2009

Isadora

"Nomes se dão às doenças, na imensidão da dor.
Nomes se dão às crianças, na imensidão do amor"
(André Abujamra)


Acordou assustada daquele sonho. Não que o sonho fosse mau: sonhara que estava parindo, dor e gozo misturados, o bebê pequeno e olhos bem abertos. "É uma menina!", alguém disse, e cruzou seu pensamento que ela nem saberia cuidar de uma menina. O medo logo passou quando o bebê veio ao seu colo, ainda unidas pelo cordão pulsante. O bebê olhou-a fixamente enquanto ela tentava adivinhar-lhe o nome: Isadora. "Você é Isadora, não é?". Era.
Acordou sobressaltada, fazendo contas de cabeça, a última menstruação, o período fértil, os seios doloridos, o inchaço, seria possível? Assustou-se com a dúvida. Assustou-se com a certeza: cedo ou tarde, viria Isadora.
Levantou-se, fez café, saiu pra trabalhar, almoçou com os amigos, carregando aquilo por dentro. No caminho de volta, a farmácia; na manhã seguinte, o teste, e a certeza afinal. Isadora não viria; ainda não. A lágrima escorreu ao mesmo tempo que o sangue.

2 comentários:

  1. Que texto lindo.
    A lágrima e o sangue esconderram, mas, tenho certeza, a Isadora não. :)
    Bjos

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  2. Adorei este blog, voltarei sempre para ler...

    Beijos

    http://donnasimonita.blogspot.com/

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