09 fevereiro, 2009

Carta para além dos muros*


Tinha pensado em vários temas para escrever, mas aí o final do dia bateu forte e fiquei assim, sem nenhuma vontade de coisa nenhuma. Ainda tenho que ler mais um pedaço de um livro chaaaaaaaato e coisas chatas me cansam. Me cansam porque fico desconcentrada, quero levantar toda hora, invento coisa para adiar o inevitável e aí acabo me enrolando mais ainda.

Esse livro que estou lendo - pra pesquisa - é chato porque não tem UM ÚNICO parágrafo em que o autor coloque suas próprias ideias! Cada parágrafo tem em torno de três notas de página para sustentar as afirmações que ele faz. Além disso, era para ser um trabalho de história econômica, mas de história não tem nada. Não tem agente, não tem Estado, não tem resistência. E por mais que o autor tenha dito desde o começo que a intenção não era fazer uma história como fazem os historiadores, mas marcar alguns traços estruturais da constituição de nosso mercado de trabalho, eu tenho sérias dúvidas da compreensão que se pode ter da estrutura quando só se olha para os trabalhos produzidos todos numa certa época e, portanto, que dividiam um certo filtro.

E ler esse livro me deu certeza ainda maior de que na tese (1) vou me disciplinar para reduzir o número de notas de rodapé ao mínimo possível e (2) vou escrever um trabalho que tenha entre 150 e 200 páginas. Se passar disso, peço ajuda pro querido Maurício Ayer na hora de passar a tesoura, sem dó nem piedade.

Mas mudando de alhos para bugalhos e respondendo finalmente à pergunta da Fabíola, estou estudando as políticas de emprego no Brasil para entender as novas formas de sujeição do trabalho, que provavelmente entram em cena no final dos anos 1990, início dos 2000. E, como somos um país eternamente em vias de desenvolvimento, não dá para pensar nossas políticas sem ter a Organização Internacional do Trabalho como referência, por isso estava analisando vários documentos relativos aos esforços de regulamentação do trabalho e, principalmente, do desemprego. Minha intenção é fazer uma genealogia das políticas de emprego entre nós (e é aqui um dos lugares em que o Foucault entra), e também estou trabalhando com a noção foucaultiana de "governamentalidade", em especial quando ele toma o neoliberalismo - em suas vertentes alemã e norte-americana - como uma forma específica de racionalidade governamental.

Não tenho intenção de ficar falando disso aqui no blog; talvez um pouquinho no Margens. Mas a verdade é que provavelmente vou vir aqui, sim, chorar minhas mágoas. E provavelmente também vou ficar sem assunto, vou sumir sem dar satisfação.

Apesar disso, embora tenha gente que sofra bastante em final de tese, eu realmente acredito que no meu caso o pior passou - tive crises terríveis, pensei em largar tudo umas quantas vezes...Mas depois que o quebra-cabeça encaixou, faço com muito gosto. Claro que é sempre difícil a experiência se se confrontar com os limites do próprio pensamento num dado momento, mas também é prazeroso, então...A dor e a delícia, né?

E uma dos temas sobre o qual pensei em escrever foi dessa espécie de esquizofrenia de ser leonina com ascendente em virgem. Eu nem acredito em horóscopo, mas sei que sou dada a extremos - o mesmo que tenho de explosividade tenho de gosto pela disciplina; ao mesmo tempo que gosto de quando a vida dá aquela desarrumada, logo me vejo louca pra delinear uma nova ordem... Sei lá. É só porque nos últimos finais de semana tem me dado fissura de arrumação - trocar móveis de lugar, comprar coisinhas para organizar melhor o espaço (inclusive, agora meus brincos ficam lindinhos e acessíveis em uma fôrma de gelo, dentro da gaveta!), limpar, liberar, reciclar. Acho que é uma coisa de energia mesmo: tô no meio do movimento, afinal...e precisando construir clarezas.

Fora isso, as coisas por aqui andam bem. Rodrigo cada vez mais lindo e querido: semana passada deixou a chupeta e ganhou o BuzzLightyear. Na verdade, tínhamos combinado que ele ganharia o Buzz de Natal e então o Buzz levaria a chupeta dele para o espaço, para morar na constelação das chupetas...Mas o Buzz que ele queria estava esgotado, onde tinha custava os "óio da cara" e, além de tudo, os brinquedos tinham pequenos defeitos. Compramos um Buzz mais simples e a cara de decepção do Rô foi de cortar o coração. De todo jeito, sentimos que ele não estava exatamente topando a estória de trocar a chupeta, ainda mais por aquele Buzz sem graça.

Mas na terça passada, a gente perdeu a chupeta dentro de casa. Procuramos, procuramos, e nada da bendita. Na hora de dormir, foi aquela reclamação, né? Mas eu falei pro Rô: "Filho, a gente vai conseguir. Eu estou aqui com você". Deitamos juntos, ele rodou, falou, reclamou até que dormiu. Fui levá-lo na escola, voltei para casa para trabalhar e fiquei pensando: "quer saber? estou pronta para tirar essa chupeta". Porque é óbvio que quem dependia dela éramos mais eu e o Edu do que o Rodrigo, né? Combinei com o Edu e, na hora de buscá-lo, conversei sério com ele, que eu não tinha achado a chupeta em nenhum lugar. E que eu tinha dinheiro para comprar outra mas, se ele preferisse, podíamos ir da escola para a loja, comprar o Buzz novo. Mas só tinha dinheiro para uma das coisas, e nós compraríamos o que ele decidisse. O rosto dele se iluminou e ele disse que queria ir buscar o Buzz. Fomos, compramos, ouvimos o Buzz falando a madrugada inteira, e o Rô estava tão agitado que foi dormir quase às 11h da noite. Ainda assim, foi muito bacana.

E esse era outro assunto sobre o qual eu ia escrever: sobre a importância de, de vez em quando, ao invés de andar apenas para frente, andar pros lados, andar em círculos, andar de volta pra trás. Andar sem pressa. Sem preocupação excessiva com o rumo ou a chegada. Ia falar disso em relação à diferença que percebo no humor do Rô quando saímos correndo para ir à escola, meio no atropelo, no carro etc. em relação a quando vamos ou voltamos caminhando. Nós dois, de mãos dadas, prestando atenção ao trânsito, mas também às flores, às pedras, aos passarinhos. Voltando para rever algo que pareceu interessante... O tempo se distende, a gente se distende. Pronto. Uma bobagem assim e a vida ficou mais larga.

Também tem outro sentido, tentar andar sem pressa. Na educação dos pequenos, andar sem pressa é não ter medo dos retornos e "recaídas", não achar que só porque os serzinhos alcançaram um degrau, têm que permanecer ali. É dar liberdade de ir e voltar. Porque eles crescem dando voltas em torno da gente, dando voltas cada vez maiores e longas - desde que tenham a certeza de que estamos ali, de que podem ir-voltar e nós vamos estar com os braços abertos.

E agora chega, que pra quem estava com falta de palavras, já falei demais.

* Título de uma série de crônicas publicadas pelo Caio Fernando Abreu.
Imagem: http://kairos800.blogspot.com/2008/11/lulu-santos-e-herclito.html

Um comentário:

  1. ah...... adorei o penúltimo parágrafo.

    passei um memê pra vc... no diário da thais.

    beijo

    ResponderExcluir