09 março, 2010

Gostosuras e alguns Espantos

Vontade de escrever não falta, mas o tempo anda escasso, pelo menos pelas próximas três semanas... É uma pena, mas pelo menos dá para preservar espaço para encontros, como o brunch que fizemos há dois finais de semana - cheio de comilanças, chazinhos e muito papo gostoso - ou o piquenique que começou há pouco tempo e já vai se firmando como des-compromisso delícia, que estende as bordas do tempo e torna os domingos ensolarados tão esticados quanto as toalhas reunidas no coreto e mesmo um café rapidinho, com alguém que até hoje eu só conhecia de trocar e-mails e que, além de ser um ótimo interlocutor, parece também ser cheio de doçuras.

E como a Neide dessa vez estava em terras cariocas, deixou pra Veronika a tarefa de fazer as fotos e a Veronika, por sua vez,  me incumbiu a tarefa de registrar aqui, com algumas fotos e pelo menos uma receita :-) Então, mesmo que já seja terça-feira, aqui vai o meu registro do nosso piquenique.

Enquanto esperava Edu e Rodrigo voltarem da visita à minha mãe (que gentilmente os acolheu para que eu pudesse estudar no sábado), acordei cedo e fui na quitanda comprar umas coisinhas que faltavam - em princípio, eu ia fazer duas receitas, ambas do livro Culinária vegetariana com sabor da Índia: pãezinhos de laranja com coco e muffins de maçã.

Pães de laranja com coco (receita no final do post)

Por fim, acabei levando apenas os pãezinhos de laranja, porque os muffins não renderam como eu achava, e eu não tinha conseguido ir comprar as forminhas - de modo que acabei fazendo em potinhos de cerâmica e... enfim, não rolou (mas eles ficaram bons!). Também levei uma geleia de jaboticaba, não muito doce, que veio de Caxambu, e suco de carambola.

Chegamos lá por volta do meio-dia e já tinha bastante gente animada, comendo e conversando, enquanto as crianças estavam todas se divertindo no parquinho (deviam estar felícissimas com o sol, depois de tanto frio e chuva!). Antes mesmo de chegarmos ao coreto, Rodrigo parou umas três vezes, para experimentar brinquedos, encontrar preciosidades em meio à grama ou observar as placas das árvores.

Eu e a Fátima, na certa refletindo sobre o próximo quitute a atacar!

Teve bastante gente que foi pela primeira vez e, como bem explicou a Veronika para o J., esse é mesmo o espírito: que as pessoas possam se incorporar à bagunça e à festa, que afinal o espaço é público e quem quiser chegar, que chegue...

Dessa vez, tinha mais gente na praça, eu achei. Mais crianças brincando, mais gente andando, mais gente passeando o cachorro. E a Fernanda, que foi professora de várias das crianças que estavam lá, apareceu com o marido e o seu Otto, cachorro lindo, gostoso e saltitante, fazendo a alegria da meninada.

Outro momento de muita emoção foi quando tentamos fazer uma fogueira...


Eu tinha comentado com o Rô, que tem um espírito lenhador e adora catar gravetos, que ia ensiná-lo a construir uma fogueira. Vejam bem: construir, não acender... E ele catou um montão de gravetos, maiores e menores, então, a uma certa altura, como ele estava meio cansado, decidi que ia montar uma com ele. Mais rápido que fogo, a notícia se espalhou e, de repente, tinha uma porção de criança em volta de mim, todo mundo muito animado pra fazer a tal da fogueira.

Até tentamos disfarçar, dizendo que depois de montar a fogueira eles iam ter que fazer fogo esfregando pauzinho ou pedra, mas aí o Rô e o C. decidiram que iam "entrevistar" as pessoas para ver quem tinha isqueiro e voilá! Espertos que são, pediram sem explicar pra que e eis que surgiu um isqueiro e então tivemos que acender a tal da fogueira. Ainda bem que os gravetos estavam úmidos e que a fogueira acabou ficando muito mequetrefe porque 1) não deu para fixar um eixo onde apoiar os gravetos (que funcionariam como uma espécie de pavio; 2) não tinha papel de pão, só guardanapos e 3) as crianças resolveram pôr bastante pedrinhas no meio da fogueira ;-) - E só estou explicando muito bem explicadinho pra ninguém duvidar das minhas habilidades de ex-escoteira!

Fato é que, mesmo sem acender, a fogueira foi divertida e eles ainda ficaram um tempo depois matutando como raios poderiam fazer para melhorar a arquitetura dela, pra ela acender direito! Espero que ninguém tenha feito xixi na cama depois de brincar com fogo...

Pão de minuto feito pela Monica, que também trouxe um antúrio lindo, em uma garrafa charmosíssima

Ah! Apesar de não ter foto, não posso deixar de falar do molho de sardinha que a Veronika levou que estava ma-ra-vi-lho-so (já estava de saída mas, depois que comi um pedaço de pão com o molho, tive que enrolar mais um bocadinho e comer mais um!), do pão com pistache que a Lucia levou, do bolo de cenoura que mais parecia um pudim, super gostoso, da garrafa linda e charmosa com iogurte feito pela Veronika... E com certeza estou esquecendo de muita coisa porque a "mesa" tem sido farta e a companhia também: farta e saborosa.

PÃES DE LARANJA COM COCO
Observações: fiz meia receita e rendeu cerca de quarenta pãezinhos; achei que o gosto do leite de coco some, não sei dizer o porquê... Tinha até esquecido que ia o coco; só lembrei ao falar da receita para a Lucia, que também achou que o coco não aparecia, mas depois - influenciada pelo conhecimento dos ingredientes - achou que dá pra sentir o coco no final :-)

1 quilo de farinha branca
2 xícaras de farinha integral
2 xícaras de suco de laranja
2 xícaras de leite de coco
1 tablete de fermento
1/2 xícara de óleo vegetal
3 xícaras de açúcar mascavo

Dissolva o fermento no suco de laranja, adicione o leite de coco, o óleo, a farinha integral e o açúcar mascavo. Numa tigela grande coloque esta mistura e vá adicionando a farinha branca aos poucos. Amasse bastante até todos os ingredientes estarem bem ligados. Forme pequenas bolinhas e deixe-as crescer até dobrarem de tamanho. Coloque-os numa assadeira untada. Asse em forno moderado pré aquecido até que fique com a casca dourada.

Receita do livro Culinária vegetariana com sabor da Índia, de Syamala Devi Dasi.

Pra terminar o post, vou só registrar os dois espantos do título, ambos acontecidos ontem.

Fui pra USP cedo e, no meio da elaboração da ideia de não ser mais estudante com vínculo formal, decidi variar de biblioteca e ir estudar na Educação. Tudo bem. Cheguei, deixei minhas coisas no guarda-volumes, entrei e ia procurando um lugar pra sentar quando surge um funcionário da biblioteca, todo preocupado. Aí ele me pergunta:
- Esses livros você trouxe com você?
- Sim.
- Ah, então sinto muito mas você não pode ficar dentro da biblioteca.
Eu, certamente com uma cara de absoluta incompreensão do que ele tentava me dizer:
- Mas...
- Não pode. Esse livro é daqui?
- Não. É de outra biblioteca.
- Pior ainda. As pessoas esquecem aqui os livros, a gente mistura ao nosso acervo e aí o livro fica perdido pra sempre.
- Mas...
Ele já me encaminhando pra porta:
- Temos acima uma ampla sala de estudos, onde você pode ler os seus livros, sem nenhum problema.
Então tá. Lá fui eu, em estado de choque, pra tal da sala de estudos, depois de ter sido expulsa de uma biblioteca por estar com livros. (E, por fim, tinha uma família de cigarras tão animadas próximas à janela onde sentei que acabei indo parar, depois de um tempo, na boa e velha (na verdade, nova) biblioteca da FLLCH).

O outro espanto nem chega a ser espanto, é mais curiosidade mesmo. Tenho o meu exemplar de "Vigiar e Punir" desde 1998, e o comprei num sebo. Aí, ontem, talvez por conta de toda a recente aventura com tribunais e júris,  pela primeira vez percebi que há uma dedicatória no livro. Infelizmente, não é do Foucault, mas de um juiz de direito que, muito admiravelmente, deu de presente a um colega - outro juiz ou promotor, será? Mas aparentemente, o tal colega ou leu e não gostou ou nem leu... Pena... Seria melhor que tentar sacar o código de doenças psiquiátricas no meio do julgamento...

Aliás, falando nisso, não vou resistir a deixar uma citação, que tem tudo a ver com a participação, no julgamento, de uma série de técnicas e conceitos que são externos ao julgamento do ato, mas fundamentais para o julgamento de quem os praticou. Foucault chega a falar da constituição de um corpo de  "juízes anexos" que, embora não sejam juízes de fato, participam da execução da pena, por meio de pareceres sobre o caráter (ou "alma") do criminoso que podem abrandar a pena ou torná-la mais rígida:

A alma do criminoso não é invocada no tribunal somente para explicar o crime e introduzi-la como um elemento na atribuição jurídica das responsabilidades; se ela é invocada com tanta ênfase, com tanto cuidado de compreensão e tão grande aplicação 'científica', é para julgá-la, ao mesmo tempo que o crime, e fazê-la participar da punição" (FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petropólis: Vozes, 1987, p.22).

E é sempre impressionante a capacidade que o Foucault tinha de identificar os "lugares" a partir de onde as técnicas de sujeição eram mais fecundamente identificáveis e localizáveis. Eis aí o outro espanto: o pensamento sempre interessante do Foucault...

4 comentários:

  1. vontade graaande desse piquenique!!

    ResponderExcluir
  2. Hummm

    Cai aqui por causa dos piqueniques da Neide Rigo. Mas também sou materna.

    E você também é materna.

    Mas não estou juntando o nome à pessoa.

    Mas é bom saber que em um próximo piquenique vai ter materna por lá!!

    bjs

    Raquel Marques

    ResponderExcluir
  3. Oi, Raquel! Mundos pequenos...
    Eu sou a Fabiana Jardim, mãe do Rô. Mas saí da lista aproveitando a deixa da Ana Cris no começo do ano passado; só fiquei na Materna Infância, mas mais acompanho do que escrevo...
    Piquenique na praça é mesmo uma coisa com cara de Maternas (a Carol - do Tom e da Lilith, se não me engano também começou um movimento super bacana nesse sentido)... Então, pode vir que, mesmo que a proposta seja a de ocupar o espaço, o pessoal bacana que vai tem tudo a ver com o espírito materna: crianças brincando soltas, comidinhas gostosas e saudáveis, uso mínimo de descartáveis e assim por diante :-)

    ResponderExcluir