07 dezembro, 2008

Bater em criança é covardia


A Flavia foi quem me avisou da blogagem coletiva "Bater em criança é covardia" e eu resolvi participar porque realmente acredito que bater em criança, mesmo que seja uma palmada, é covardia. Covardia e incoerência, principalmente se você está tentando educar o seu filho de forma não-violenta. Por isso, mesmo que muito atrasada, estou escrevendo.

Pensando em como começar, me lembrei de algumas coisas. Minha mãe raramente bateu na gente - e das duas ou três vezes em que isso aconteceu, lembro que foi porque eu e minha irmã realmente a provocamos até tirá-la do sério. Apesar de dar uns gritos de vez em quando, minha mãe era muito tolerante com nossas bagunças, por achar que brincar faz parte de ser criança. Se sempre gostei tanto de conversar com as crianças com respeito à sua inteligência, sem usar voz de nhé-nhé-nhé ou falando errado, sem dúvida aprendi com a minha mãe. Ela conversava, explicava, e poucas vezes lançou mão (com perdão do trocadilho) de palmadas para nos "educar".

Já meu pai batia, sim. Tenho péssimas lembranças de tapas, chineladas, sempre em explosões de raiva. Especialmente na época da separação, em que todo mundo andava à flor da pele e eu, com uns oito, nove anos, expressava minha raiva com aquela situação da maneira como podia - o que às vezes significava bagunças, quebrar coisas, não querer dormir... Só lembro de uma única vez em que não achei injustas as palmadas, e foi numa situação em que ele me deu bronca, avisou da punição e só foi me bater quando chegamos em casa, depois de caminharmos até em casa. Não sei nem se a sensação foi de justiça, ou se foi só porque foi uma das únicas vezes em que não foi uma explosão de irritação.

Eu já bati no Rodrigo, algumas vezes. Em todas as vezes me arrependi muito, depois conversei com ele, pedi desculpas e expliquei que o que fiz não estava certo. E percebi que eu só chegava a esse extremo em situações muito específicas. Da minha parte, acontecia quando eu estava muito cansada ou muito preocupada e, por isso mesmo, ausente (mesmo que de corpo presente). A essa ausência o Rodrigo reagia provocando até o limite, fazendo tudo para me fazer "voltar pra terra". A combinação explosiva era minha falta de atenção + minha falta de paciência para ler nas atitudes do Rodrigo o que ele tentava me dizer, do alto de seus três anos de idade. Reconhecer isso me ajudou a respirar mais fundo, contar até três antes de bater. Mas também me ajudou a cuidar mais de mim, a me ausentar - fisicamente - com menos culpa para estar mais inteira quando estou com ele.

Mesmo já tendo perdido a cabeça em alguns momentos, bater em criança é uma das coisas mais revoltantes pra mim. É covardia porque eles são menores do que a gente, porque eles têm muito menos capacidade de se defenderem e, por isso mesmo, fica marcada no corpo a sensação de impotência diante de uma situação incontrolável. Além disso, há o absurdo de perceber que aquele que deveria nos cuidar e proteger, pode nos agredir. Quebra-se o vínculo de confiança e constrói-se outro, de medo.

Pensar em formas de educação não-violenta passa por recusar essas formas de punição corporal, sim. Passa por construir relações de companheirismo com nossos filhos, e não me refiro aqui a recusar o papel de educador para tentar "ser amigo" dos filhos. Refiro-me à compreensão, à observação dos significados dos comportamentos, a respirar fundo e repetir a lição quantas vezes forem necessárias, à dizer "não" com firmeza e a dar a cada atitude do filho uma dimensão próxima a que ela tem - tentando nos distanciar de nosso próprio cansaço, frustrações, impaciências.

Não que seja fácil; somos, afinal, humanos. Mas podemos aprender, junto com nossos filhos, a enfrentar a agressividade que sentimos de vez em quando. Não tem exemplo melhor que podemos dar a eles.

Desnecessário dizer que estou longe de ser perfeita. Vira e mexe falo mais alto do que gostaria, digo "não" por impaciência, "caio" na provocação do Rô. Mas estou atenta.

Para encerrar, lembrei de uma coisa que o coordenador da escola do Rô disse um dia: que era necessário enfrentar o desafio de educar sem ressentimento, isto é, educar sem se irritar de ter que repetir a lição. As crianças estão aprendendo a viver, e cabe a nós mostrar para elas uma vida onde caibam também os erros, as quedas, as besteiras e os consequentes arrependimentos.

Vejam também outros blogs participantes da blogagem:
o post da Flávia, na Bebedubem
o post da quatro Mamíferas
o post da Rosana, no Diário de uma mãe-mulher-humana

2 comentários:

  1. Adorei o post e fiquei muito feliz pelo seu filho ter uma mãe assim. :)
    Bjos

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  2. Fabi, lindo texto, muito sincero e coerente. Acho que é por aí mesmo, sempre tentando enxergar onde pisamos na bola e fazendo de tudo pra melhorar na próxima vez...
    bjo!!

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