12 janeiro, 2012

marcelo marmelo martelo


É sempre inesperadamente que me lembro dessas coisas, embora a lembrança seja reticente, incompleta, signo da dificuldade que sempre tive com a Física. (Podia ser tão simples, pois é tudo tão presente na nossa vida, mas por alguma razão não é. E olha que eu nasci numa família de físicos e, crescendo, sempre tive vários por perto). Mas não era sobre isso que eu queria falar. Era sobre a unidade de comprimento das ondas. Devo ter aprendido em algum momento, mas nesses dias, largada ao mar, achei que a unidade deveria ser lambda. Não tem nada a ver com a letra grega e, desnecessário sublinhar, com qualquer efetiva forma de mensurar o comprimento da onda. Tem a ver com o som, tão próximo à lambida, ainda que uma lambida mais apressada, interrompida justo na curva da palavra, quando a crista que se ensaiava quebra num repente. A primeira parte da palavra nos elevando docemente, feito boiar no mar mais fundo, e a letra muda fazendo uma quebra brusca, a língua estalando doída no fim abrupto. Quando a onda vem mansinha, arredondada, sempre digo que o mar só veio nos  lamber – experimentar um pouquinho dessa gente intrometida que invade seu corpo; fazer uma carícia, feito cachorro brabo que amansasse e baixasse a guarda para nos cheirar a mão. Só que o mar – mais brabo, mais generoso, mais envolvente – não se contenta com roubar um gostinho do entre-os-dedos e nos lambe por inteiro, deixando na gente aquele melado salgado. A onda, uma lambida. Como lambida não parece científico o bastante, meu cérebro me dá um caldo e eu penso em lambda.
A intensidade da onda, o comprimento da onda, a duração da onda, o ritmo da onda, a espuma produzida pela onda: tudo cabe nessa unidade estranha e plural que não significa coisa alguma. A não ser talvez que, entrando no mar, deixo de lado tudo o que sei e volto a ser criança. E então ondas se medem em lambda e são produzidas por um deus potente e peidorrento, mezzo Poseidon, mezzo Netuno, que se diverte em fazer borbulhar e trovejar suas águas.

3 comentários:

  1. pelo visto, você encontrou o senhor palomar na praia... beijo. v.

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  2. vocês também conhecem esse senhor, bagunceiro e pouco afeito ao decoro? só não sabia que se chamava palomar! beijos.

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  3. bom, pelo visto, você não conhece o senhor palomar. então, terei que deixar mais um livro sob sua custódia enquanto eu vou ali e já volto. ;) beijo. v.

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