minha avó sempre acende uma vela
quando sabe que um dos seus precisa de luz: quando a decisão é dura; quando a
estrada é comprida; quando o desafio é imenso, certamente haverá aquela chama
acesa com todo o amor do mundo, a envolver o destinatário nas teias invisíveis
da fé e da esperança. quando vim viver em são paulo, e a cidade me assustava
tanto, me amparava a ideia de que sua oração noturna, diariamente repetida, me protegia – a mim que sou sua neta e afilhada. estar nas orações delas era quase estar em casa.
minha mãe herdou a tradição e
também acende velas nos momentos críticos.
eu sempre entendi o gesto, mas
hoje em dia, com enteadas que andam pela cidade e viajam sozinhas, com a
autonomia que a vida dos membros da família vai ganhando, com as viagens, as
novidades, os novos passos do rodrigo pelo mundo, entendo mais. entendo melhor
essa vontade de recolher os queridos, de estender sobre eles a proteção e a
luz, de ajudá-los a não se perderem, de esperar que vão e voltem a salvo.
acendendo esse farol para, imaginariamente, reconstituir a proteção uterina da
casa, enquanto os filhos todos à vista e a imensidão do mundo no quintal.
acendendo esse farol também, deusnoslivre, para que em caso do pior, eles terem o que lhes guie no outro mundo.
acender velas é o que resta às
mães e às mulheres quando a família se amplia, transborda o portão da casa.
me crescem os filhos e também eu sinto essa urgência em renovar os modos de dar a luz.
me crescem os filhos e também eu sinto essa urgência em renovar os modos de dar a luz.
você, em si, é um tipo de vela acesa. v.
ResponderExcluirFabiana, obrigada. Traduziu de um jeito pungente meus sentimentos atuais. E mesmo na voz do Outro, alivia ler/dizer/saber.
ResponderExcluirCompartilharei no fb, dando os devidos créditos. Um abç