13 janeiro, 2012

luz


minha avó sempre acende uma vela quando sabe que um dos seus precisa de luz: quando a decisão é dura; quando a estrada é comprida; quando o desafio é imenso, certamente haverá aquela chama acesa com todo o amor do mundo, a envolver o destinatário nas teias invisíveis da fé e da esperança. quando vim viver em são paulo, e a cidade me assustava tanto, me amparava a ideia de que sua oração noturna, diariamente repetida, me protegia – a mim que sou sua neta e afilhada. estar nas orações delas era quase estar em casa.
minha mãe herdou a tradição e também acende velas nos momentos críticos.
eu sempre entendi o gesto, mas hoje em dia, com enteadas que andam pela cidade e viajam sozinhas, com a autonomia que a vida dos membros da família vai ganhando, com as viagens, as novidades, os novos passos do rodrigo pelo mundo, entendo mais. entendo melhor essa vontade de recolher os queridos, de estender sobre eles a proteção e a luz, de ajudá-los a não se perderem, de esperar que vão e voltem a salvo. acendendo esse farol para, imaginariamente, reconstituir a proteção uterina da casa, enquanto os filhos todos à vista e a imensidão do mundo no quintal. acendendo esse farol também, deusnoslivre, para que em caso do pior, eles terem o que lhes guie no outro mundo.
acender velas é o que resta às mães e às mulheres quando a família se amplia, transborda o portão da casa.
me crescem os filhos e também eu sinto essa urgência em renovar os modos de dar a luz.

2 comentários:

  1. você, em si, é um tipo de vela acesa. v.

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  2. Fabiana, obrigada. Traduziu de um jeito pungente meus sentimentos atuais. E mesmo na voz do Outro, alivia ler/dizer/saber.
    Compartilharei no fb, dando os devidos créditos. Um abç

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