24 janeiro, 2012

coleta

dessa vez na praia, uma coisa muito esquisita. é uma praia sem conchas, sem areia grossa, sem onda forte.  mansidão que faz esquecer que ali também é mar. um dia acordamos e a praia revirada: a orla pontilhada de conchas e mais conchas, pequenas e grandes, abertas e fechadas. aqui e ali também peixes e caranguejos, despedaçados. em algum lugar do mar uma revolução, e então o mistério espalhado pela areia.
vezemquando, dentro de mim, também uma revolução. lançando às bordas as palavras mortas, gastas. às vezes já ocas, outras ainda meio vivas: na marulhada, nenhum cuidado com a fina seleção. lanço-as todas com ferocidade e impaciência. (meu feminino sempre rescendeu à maresia). pelos cantos de mim, esses restos encharcados e salgados, que eu e você recolhemos como quem puxa sobre as orelhas os cabelos ou retira do rosto um cílio distraído.

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