29 novembro, 2010

crochê


eu também te amo. engraçado, dito assim. a ênfase esquecida da ação de amar para recair toda sobre a reciprocidade do também. dito com certeza,  aperta firme o laço lançado por aquele que começou a dizer. dito sem entusiamos, faz um laço frouxo, feio, disforme. dito jamais, abre na trama um buraco que só com dificuldade é possível costurar.

dizer eu te amo costuma acompanhar a expectativa de ouvir também. nem sempre é assim que acontece - a ponta às vezes fica solta, feito fio puxado de blusa. dá vontade de meter a agulha e esconder o fio solto pra dentro, retirar a confissão, refazer a ilusão da perfeição. mas eu te amo é tão definitivo que fica ecoando eternamente - na mesma medida de tempo que promete o enunciado.

eu também te amo é nó que vai tecendo a vida em comum - até um ponto em que o também é pura confiança. rede de trama miudinha, onde a gente descansa a cabeça como num colo, e o corpo como no do outro.

Imagem: www.gettyimages.com

5 comentários:

  1. Não sei quem é o Antonio aí de cima, mas minha reação ao ler o texto acima foi a mesma: SORRIR. Lindo o seu texto. Fez meu dia mais feliz. Beijos, Virginia

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  2. Lindo demais! Mas achei com um toque de melancolia...Só suposição...Mas eu gosto, muito. Abraço carinhoso.

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  3. Oi, Silvia. É...acho que tem mesmo um fundinho de melancolia: afinal, como bem disse o Octavio Paz, "eu te amo" é promessa de infinito e eternidade, é distração da finitude. Nem por isso menos verdadeiro, nem por isso menos bonito.
    Um abraço bem carinhoso para você também;

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