Talvez nem seja mesmo comigo que ele está falando, mas, ainda que não seja, alguns de meus próprios incômodos com o que anda rolando aqui nestes Noturnos resolveram começar um diálogo com algumas das questões que o Tony colocou.
Não tenho conseguido muito escrever por aqui, vocês já perceberam. Por vezes, me angustia um pouco, pois escrever aqui é também reservar um tempo para tatear um bocadinho tudo aquilo que vai acontecendo no todo dia: nomear as pedrinhas que vão sobrando na margem e fazendo indícios de caminhos. Por outro lado, escrever aqui também é um pouco escrever para um mundo geral demais (com exceção dos queridos visitantes habituais e seus comentários que por vezes me espantam imensamente, porque - como está escrito aí do lado, com as palavras da Rita Apoena, eu só escrevo mesmo para encurtar distâncias e fico tão grata quando em alguns momentos elas se tornam mesmo menores por meio dessas cordas feitas de palavras) e eu tenho preferido interlocuções mais próximas: e-mails, telefonemas, piqueniques, jantarzinhos, cafés e até recadinhos no facebook me apetecem mais do que um texto no blog, que pode tanto trazer para perto como ser um grito no vazio.
Talvez também eu ultimamente me sinta por vezes tão exposta - não num sentido ruim, mas no sentido de estar mais vulnerável ao imprevisível da vida, principalmente no espaço da sala de aula - que o silêncio ou o dito de forma torta (teve jeito não... vesti total a carapuça ;-) sejam modos de me esconder, de criar pra mim ilusões de sombra, como se escrever num blog já não fosse me expor e como se eu não achasse que o dito, mesmo por vias tortas, é ainda assim tão transparente e revelador.
Nas vezes em que me angustia não conseguir escrever com mais frequência, tento pensar o quanto a dificuldade de escrever se relaciona com a falta de tempo para ler literatura, para ver bons livros, portanto, para ampliar meus 'arsenais de ficção" (como o Tony me ensinou) e exercitar sentir a vida de outros modos que não o cru da "realidade".
Aí me lembro que a vida também é feita desses movimentos pendulares e que às vezes é bom mergulhar em outros mundos que não os da ficção. E penso no que foi este último semestre, cheio de intensidades, de construção de mundos comuns nessa nova casa onde estou, com os novos colegas, com os meus queridíssimos alunos, com as pessoas com as quais discutimos sobre as eleições, projetos de país, desafios à interpretação do que é o Brasil hoje... Nos últimos anos, a intensidade esteve quase sempre cheia de angústia e, assim, me sinto imensamente grata de poder viver agora esses momentos intensos de encontro - que trazem crises, é claro, que propõem novas questões e novos problemas, mas também são férteis (até sonhei esta semana que estava grávida de novo, e sei bem que não é um desejo literal, mas a sensação boa de embriões de coisas novas querendo sair a luz). E me lembro que não escrever aqui tem sido escrever no Margens, ler posts e textos que nem são apenas para preparar aula, assistir bobagenzinhas de mãos dadas com o marido no sofá, ficar debaixo do edredom assistindo SoobyDoo com o filho, jogar jogos de cartas, cozinhar quitutes e às vezes até - ó suprema glória pós-furacão de mestrado e doutorado e concurso - fazer nada.
Claro que nada é tão preto e branco assim: meu corpo anda um pouco revoltado comigo e, confesso, eu também ando um pouco revoltada com ele. Ele me enche de espinhas, dores nas costas, feridinhas que nem explodem nem secam, às vezes se espalham e outras vezes coçam sem parar... E o remédio de fundo que tomei há cerca de duas semanas parece que piorou tudo, colocou tudo para fora. Toda a história do "inoportuna" começou daí - dessa sensação de uma adolescência extemporânea, que reforça o jeito de menina que eu teimo em ter e que, nas situações de trabalho, às vezes é um problema. A espinha é inoportuna, porque contrasta com aquilo que eu desejaria parecer - me faz sentir adolescente aos trinta e poucos anos. Embora eu mesma, que me sinto com trinta anos desde os 25, esteja agora achando que trinta anos é mesmo muito mais perto da adolescência do que a gente gostaria de pensar.
E adolescência tem isso de transição, de inadequação, de nem estar mais cá, nem ter ainda chegado lá. Da voz sair fora de tom, da roupa não cair bem - às vezes revelar a meninice; às vezes fazer um adulto postiço. Do de dentro não combinar com o de fora. Com se sentir de um jeito e ser visto de outro. A depender de qual dos lados se quer estar, inoportuno é tudo que lembra que ainda estamos no meio. E o post nasceu da tentativa de deixar uma bandeirinha nesse meio de caminho, num momento em que tudo isso latejava e me deixava à flor da pele.
E tudo teria sido mais fácil se eu tivesse me tocado que, apesar de não ser hora, grande parte disso tudo era uma TPM - ela mesma inoportuna, fora de seu tempo, atravessando o ritmo ciclíco e me confundindo. Quando tudo transbordou, as coisas ficaram mais leves. Porque a inconstância também é parte da adolescência e de uma hora pra outra, a maré vira de lado ;-)
Oi, Fabiana.
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Não era para você o texto. Mas o título foi tirado mesmo do seu último post. Cheguei em casa de madrugada, meio frustrado com a vida (nada demais), e vi um post cheio de imagens. Eu tenho uma tendência enorme a escrever no abstrato, em linguagem quase matemática. Meu texto, se eu deixar ele fluir, são equações. Os seus são sempre tão enfeitados... Aí escrevi aquele post meio sonolento, levemente alcoolizado, com equações tortas, mas equações, sem imagem bonita nenhuma além de umas frases sobre ser contrariado.
beijo,