01 setembro, 2010

Sismo


 Em pleno dia. Quando no meio do rotineiro a gente nem imagina que algo possa desviar em consciência. Assim, no meio da tarde ensolarada e azul. Quase no automático, saca a agenda e se prepara para anotar as tarefas do dia seguinte e a caneta vacila - ou seria a mão a vacilar? A mão, sua mão, tonta frente à página em branco, esquecida do destino que ensaiava desenhar. O pequeno vacilo e o mundo erra. O amanhã virado em dúvida. O cotidiano todo borrado, a alegria de sol virada postiça e ela a estranhar a si mesma no vidro que está à frente. Pronto: mudou o eixo. Querendo tomar posse de si mesma, retoma a tarefa - a lista longa de afazeres vai se desenrolando sobre o papel, na letra miúda e apertada que rouba ao branco o respiro das entrelinhas. A rachadura aberta por dentro anunciando uma nova cicatriz.

Imagem: daqui.

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