28 outubro, 2009

Sagarana


Vixe, que anda difícil roubar tempo para sentar e escrever! A semana passada foi uma trabalheira interminável, fim-de-semana corrido (felizmente, por razões boas, já que só corremos tanto porque temos gente muito querida, que nos faz largar a casa de perna pro ar só para poder estar presente...) e muita estrada percorrida entre domingo e ontem - fomos e voltamos de Caxambu, parando em São José para deixar o Rô, que ficou três dias com os avós.

Sábado começou com encontro gostoso e há muito planejado, no Parque da Água Branca, com a Eli, o Joha e os meninos deles - que não víamos há um ano! O tempo obviamente foi curto, mas nem por isso deixou de ser gostoso... E o Rodrigo, tadinho, que acho que estava tão cansado do mofo dos fins de semana chuvosos e que, mal pôs o pé no Parque, soltou: "Ai, que delícia estar no Parque!".

Aliás, o Rô tá uma coisa de querido. Tão absurdamente companheiro, tão esperto e falante... Depois do parque fomos almoçar, e o cara simplesmente não pára de tagarelar: tudo é assunto - lembranças, observações, projetos... O corpinho pequeno mal contém tanta vida, e deve ser por isso que a palavra predileta dele ultimamente é transbordar. A vida transborda pela boca, pelas mãos, pelas pernas, e inunda todo mundo ao redor. Meu coração também transborda, cheio de ternura e alegria, mas também de um pouco de medo e de vontade de ser imortal: não quero perder nem uma vírgula de tudo isso!

Depois fomos na festa dos meninos da Veronika, deliciosa e cheia de crianças contentes e açucaradas pulando e se divertindo. Rodrigo subiu em árvores, fez malabarismos com a A. M., escorregou com a A. Mas chegou em casa ainda agitado, frente à perspectiva de arrumar as malas e ficar na casa da avó, fazendo planos de brincadeiras com o primo e o avô e de aconchegos com a avó.

Domingo, saímos tarde e chegamos em SJC na hora do almoço. Demos uma de cachorro magro e saímos de casa antes das duas; mesmo assim, foram 4 horas pra andar 200 km, já que os últimos 100 km são bem sinuosos e ainda tinha chuva e neblina em alguns trechos. Edu matou sua vontade de dirigir em estrada antimonotonia, e eu enchi os olhos de paisagens, já que o fato de ter vivido grande parte da minha vida no Vale do Paraíba provavelmente me trouxe um gosto pelas montanhas. Adoro-adoro-adoro, bem mais que praia.

Domingo à noite, ainda assistimos Distrito 9, que por enquanto só posso classificar como surpreendente. Mas confesso que fiquei um pouco impactada com tantas cenas de guerra - o filme parece partir de uma perspectiva crua - nas cenas, nos sons, a gente tem a impressão de estar diante de algo que é difícil digestão, algo que é quase repulsivo, e que a gente bem queria que estivesse só no Outro...



Como o lançamento do livro era só na segunda à noite, passeamos um bocadinho, descansamos outro bocadinho e comemos uns bocadões, que a comida era boa, saborosa e leve.

A arquitetura do hotel em que ficamos me deu nostalgia da casa velha da minha avó, que ficava na beira da ferrovia... Era uma casa antiga, com seus azulejos velhos, louças antigas e amarelas... Nas minhas lembranças, a casa inteira tem um tom amarelecido: lembro dos banhos de bacia, do cachorro que ficou doente e que deve ter sido minha primeira experiência com a morte, dos ratos e baratas que infestaram a garagem abarrotada de recortes de jornal, do piano da minha mãe que só mais tarde foi morar na nossa casa, da banheira amarelo-claro, do chão de cimento queimado vermelho da varanda, dos vasos de arruda na beirada da porta, de onde o Seu Zé sempre pegava um galho para colocar atrás da orelha... No Hotel, várias dessas lembranças latejaram.

Na segunda à noite, junto com a abertura do 33º Encontro da ANPOCS, foi o lançamento dos muitos livros. A Annablume estava lá com 5 títulos da mesma coleção que o meu (Trabalho e Contemporaneidade) e mais um livro, que parece muito interessante, e é uma etnografia sobre o modelo de prevenção de AIDS e DSTs entre travestis. Foi bom rever tantas caras conhecidas, entre professores e colegas desde o tempo da graduação, embora eu confesse que sempre tenho dificuldades em lidar com essas relações velozes, de contatos abreviados... Eu sou lenta, não adianta, e depois fico remoendo a resposta que faltou ou aquela que, expressa rapidamente, saiu fora de tom.

De todo jeito, fiquei bem contente com o livro, porque foi um trabalho bacana mesmo - modéstia, modo off ;-). Aliás, há um tempo falei sobre ele para a Agência FAPESP (Desalento Paulistano) e a matéria ficou bem bacana - mesmo a entrevista tendo contado com a participação de certa criatura pequena que interrompia com frequência para me pedir para desenhar círculos ou cobrar o brigadeiro prometido como forma de descarado suborno, caso ele se comportasse durante a entrevista :-)

Ontem voltamos, parando na hora do almoço para resgatar Rodrigo, numa viagem que começou às 8h e terminou às 17h... E ainda saí correndo pra dar aula, super baqueada e querer-querendo ficar gripada, mas no fim deu tudo certo. Ufa!

Vamos ver se agora voltamos à programação normal.

Imagem: daqui.

Um comentário:

  1. oi, fabiana, as semanas correm ensandecidas. agora, de noite, enquanto o ricardo lê historias para os meninos, decidi atualizar-me em noturnos. e eis que aí estamos. seu jeito de escrever é mesmo muito doce. é como um abraço.
    bj. v.

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