25 junho, 2010

Deleite

Deleite é palavra erótica: cheia de abandono e gozo, de maciez e quentura. Deleite é cremoso e esparrama depois de cravada a primeira mordida, exigindo da boca e da língua o esforço inútil de não deixar nada se perder. Deleite é massagem sem pressa, mãos mornas deslizando, desfazendo nós, inaugurando lugares do corpo. É a água escorrendo quente pelo cabelo, pelo pescoço, pelos ombros, límpida e clara, lavando todo o peso do mundo. Deleite é embalo de rede, memória de útero tramada no pano. É música que escorre por dentro, acendendo arrepios e acordando meios-sorrisos. É escalda-pés ao fim do dia, os pés afundando na água fervente, avermelhando e depois se deixando ficar até se acostumarem à quentura (e à dor). Deleite é palavra boa, saborosa e úmida: derrete na boca feito doce aerado - os vazios dando lugar à plenitude do gosto. Pronunciá-la é estalar o prazer, no fundo da boca, no fundo do corpo.

5 comentários:

  1. Deleite é delicia, é quente e unta o bom com o malvado, o agradável com o êxtase.
    Muito bom seu blog

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  2. Seu deleite me transporta por suaves voos rasantes sobre a superfície de corpos silentes, mas vibrantes. Nessa viagem experimento, vez em vez, as turbulências de súbitas faltas-de-ar, que produzem deliciosas vertigens. Não pretendo o final dessa viagem: quero que o creme seja espesso e escorra docemente pelos meus lábios...

    Linda a sua postagem!
    Djalma

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  4. Ao médico, ao monstro e ao Djalma, agradeço a visita e a partilha da experiência de deleitar-se.

    Abraços!

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  5. Estou num verdadeiro deleite absorvendo cada palavra que dança nos seus contos! Fabiana vc é a poesia! vc é luxo! Parabéns! eny_camilo@hotmail.com

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