Se te pareço noturna e imperfeita/ Olha-me de novo. Porque esta noite/ Olhei-me a mim, como se tu me/ olhasses. E era como se a água Desejasse/ Escapar de sua casa que é o rio / E deslizando apenas, nem tocar a margem. Te olhei. E há tanto tempo/ Entendo que sou terra. (Hilda Hilst)
09 junho, 2010
Das promessas
Casamento (Adélia Prado)
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
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quisera ser assim
ResponderExcluirnoivo e noiva
pra todo o sempre
hum, vontadezinha...
Esse poema é mesmo uma delícia, né? Assim como é delicioso casar todo dia, no ouvir histórias, no partilhar da vida, no limpar dos peixes. O amor, sem sacramento - vísceras, espinhos e escamas. E ainda assim, tão cheio de sagrado...
ResponderExcluirCoisa boa da vida!
Beijos.