09 junho, 2010

Das promessas


Casamento (Adélia Prado)

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

2 comentários:

  1. quisera ser assim
    noivo e noiva
    pra todo o sempre
    hum, vontadezinha...

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  2. Esse poema é mesmo uma delícia, né? Assim como é delicioso casar todo dia, no ouvir histórias, no partilhar da vida, no limpar dos peixes. O amor, sem sacramento - vísceras, espinhos e escamas. E ainda assim, tão cheio de sagrado...
    Coisa boa da vida!
    Beijos.

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