23 junho, 2010

Quando o corpo consente*

Então que tomei chá de sumiço nos últimos tempos...Primeiro por correria mesmo: teve Brasília, linda e na lua cheia, plena de encontros e família; depois teve São Paulo fria e garoenta em inglês, já que fui a um seminário acompanhar duas estrangeiras - uma americana e uma canadense - que foram super pacientes com as ferrugens do meu inglês, e passeamos pela Paulista e pela Augusta, almoçamos no MASP e até tomamos café na Oscar Freire (o tempo era curto; eu queria mesmo era tê-las levado ao Centro); e depois teve feriado com filhote doente e, uma semana depois, quando ele melhorava, a gripe dele passou pra mim e ainda não foi embora.

Por conta da gripe não pude ir ao piquenique desse mês, num dia tão luminoso que só podia mesmo ter sido precedido de um longo período de cinza: o sol daquele domingo parece ter sido gestado devagarinho, para renovar as esperanças e tornar o encontro possível...

Pelo menos, uma semana depois, torcer pelo Brasil deu - embora o jogo mesmo tenha passado batido, tanta conversa e comida boa havia a ser partilhada.

E também deu para ir à defesa do Marcus - que sendo amigo da família Rillo Alencar só podia mesmo ser especial -, participar mais um pouquinho do trabalho bonito que ele fez (eu já tinha tido o prazer de revisar).

Só não deu para ir dar um abraço de verdade no Mauricio - mais um ano e mais um furo. Querido, não sei como você não me rifa! Mil perdões.

Depois de tanta coisa, tá tudo meio de perna pro ar: prazos de trabalho atrasadíssimos, textos empilhados, trabalhos de alunos a corrigir - tudo em meio a muito cof, cof, cof. Fora as pequeninas chateações, como a perícia médica para a contratação na USP, que tinha me liberado (já fui lá por três vezes) e agora pediu mais exames. Como se para ser contratada eu tivesse que estar perfeitamente adequada a todo e qualquer intervalo de normalidade... Dá uma réiva, que nem conto...

De todo jeito, estou tentando voltar a escrever, mesmo que seja difícil. E nem é pelo tempo. Acho que tem um pequeno agosto se formando por aqui, querendo abrir espaço para o novo florescer, querendo interromper essa correnteza sucessiva e incessante. É sempre um pouco dolorido e, por vezes, exige silêncio.

Por isso, quando fui dar título ao post, me veio à cabeça o título desse livro, composto pelos relatos de três mulheres sobre a gravidez e o parto de uma delas (escrevem a mãe, a filha - grávida - e uma parteira). Não, não estou grávida, nem pensando no assunto. É que não é só engravidar e parir que dependem do consentimento do corpo; depois dessa gripe, e dessa incômoda lembrança que o meu corpo pode me deixar na mão, fiquei pensando que adoecer também depende do corpo consentir. Adoecer também exige uma espécie de abandono, de confiança no próprio corpo, de respeito ao que ele pede - descanso, silêncio, muita água... Nesses nossos tempos, assim como parir naturalmente, adoecer não é fácil. Tem sempre imperativos  que nos atropelam, exigindo da gente estar bem e produtivo. Eu mesma acho que venho arrastando o adoecer pelo menos desde a entrega da tese (e lá se vai mais de um ano!). Dessa vez não deu: meu corpo me deu um ultimato e exigiu de mim parar um pouco.

Então, parei. E estou tentando retomar o movimento devagarinho.

Ainda bem que, no meio de tudo, tem a voz da Tulipa Ruiz para me embalar... Gentes, ela é linda demais! Eu comprei o cd e não canso de ouvir - parece que cada vez descubro uma coisa nova, uma música que vira preferida... (No domingo, eu cozinhava e ouvia a Tulipa e aí o Rodrigo chegou na cozinha e por lá ficou, voltando inúmeras vezes a faixa 9, dançando e pulando. Coisa querida da vida!).

Então, para encerrar o post e voltar (devagarinho) para a lista de afazeres, mais um pouquinho de Tulipa, falando inclusive de uma temporalidade lenta e própria ao amor.



* Título de Marie Bertherat, Thérèse Bertherat, Paule Brung (São Paulo: Martins Fontes, 1997).

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