21 setembro, 2009

A origem da primavera*

Então, depois de quase cinco longos anos, acabou. Não tem mais relógio correndo por dentro, não tem mais culpa por tudo que não li, não tem mais desespero com o que podia ter sido e não foi.

O que sobrou foi a vontade de seguir em um caminho já iniciado, e a felicidade de recuperar o prazer que o trabalho de pesquisa sempre me deu (mesmo com as crises necessárias que fazem parte do processo).

A banca de defesa foi muito, muito respeitosa e generosa. Muito mesmo. Eu achei que ia ser paulada pra todo lado. E não é que foi super fácil e sem críticas: todos apontaram problemas, lacunas e explicitaram aquilo que eu já sabia - que o trabalho promete muito mais que cumpre. Mas todos observaram que isso se deveu também ao tamanho do empreendimento e valorizaram essa minha "coragem" (ou falta de noção, de acordo com o que minha terapeuta chamou de "minha banca interna"...) de me esforçar para me aproximar do meu "objeto" de um modo diferente.

E o carinho das pessoas que foram? Da mensagenzinha da enteada mais nova na hora do almoço? Da enteada mais velha, na platéia? Da amiga querida e de seu namorado? Do Marco, que veio lá de Campinas? De parte da equipe de Osasco, que ainda me mandaram um bilhete e um presente? Do Mauricio, da Ana e da Carla, da segunda fileira? Do marido, mais nervoso que durante o parto? Do Pedro, da Monika, da Veronika, do Wilson... E mesmo da Leny, membro da banca, que fez a leitura mais querida e atenciosa desse mundo?

Tem muita coisa a ser pensada, corrigida, refletida, lacunas a serem preenchidas. Mas só o fato do futuro ter voltado a ser possível já rearranja imensos espaços por dentro.

Hoje de manhã, fazendo a preparação final da apresentação, fui falar do rito que encerra parcialmente um percurso de pesquisa e também uma relação de quatorze anos com a USP, e me lembrei da voz da Fátima Guedes, cantando "e lá vou eu...". (E, obviamente, tive que fazer uma força imensa para não começar a chorar).

Hora de içar as velas e seguir em frente. E lá vou eu...



* um dos títulos do primeiro capítulo do livro Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector.

12 comentários:

  1. Oi, Fabiana!
    Acompanhei uma parte desse teu processo, leitora assídua que sou tua, já tem meses.
    E hoje não pude deixar de vir aqui te dar os PARABÉNS.
    Lembro de sensação parecida, ainda que em menor proporção, quando defendi minha dissertação.
    Lembro dessa sensação de primavera mesmo se fazendo, ainda que fosse março e o outono é que se anunciava. E lembro - com muita saudade - da leveza. De soltar as amarras e deixar os fardos - todos - no caminho. Mas o que mais eu lembro, é do carinho. Eu digo sempre, que mais do que a "nota", o que valeu foram os sorrisos, as lágrimas e as palavras que ganhei, naquele dia.

    Valeu por, de novo, me fazer lembrar.
    Um grande beijo!!

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  2. ei fá... meus parabéns!!! e festeje aí a primavera pois aqui a gente já começa a ter saudades do verão.
    Beijos!

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  3. Parabéns Fabi! Aposto que os "homens da casa" ficaram super orgulhosos da mãe/esposa deles! ;)
    E de certa forma pessoas como eu, leitores quase-anônimos, também ficamos. A próxima vez que eu tomar uma cerveja com o Daniel a gente brinda uma por você!
    Tudo de bom nos próximos 5 anos! Eu ainda tenho mais 2 pela frente!
    Bjs!

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  4. Parabéns Fá,

    O coração na mão, o sentimento de culpa pela ausência forçada devido aos compromissos que os cargos burocráticos nos impõe, mas a redenção pelo telefonema tão esperado. A eterna vela acesa pela tua mãe (e provavelmente pela tua avó) ainda brilhava quando chegamos de volta em casa à noite. Apenas uma pequena ajuda à tua tremenda competência. Certamente um dia tão angustioso quanto inesquecível para nós e para você.

    Um privilégio fazer parte de tudo isso e mais ainda da tua vida. Um beijo imenso.

    Padilha

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  5. Ana, querida, a gente subestima a importância desses momentos rituais, né? Eles são muito marcantes e importantes. Que bom relembrá-los!

    Felipe, obrigada! A primavera por aqui tá meio mequetrefe, chuvosa e cinzenta, mas já dá os seus sinais no tanto de flor em botão! Por aí faz frio, mas as cores do outono também são tão bonitas, não?

    Henrique: o Edu estava mais nervoso do que eu :-) Mas acho que eles estão felizes de ter a mulher e a mãe de volta... E as mulheres da casa acho que também estão felizes e aliviadas (faz anos que elas sempre têm alguém terminando mestrado ou doutorado por perto). Força, que o tempo passa rápido e um dia chega ao fim ;-)

    Padilha, querido, lembrei tanto de vocês na semana passada. Mesmo longe, eu sentia como se você estivesse ao meu lado, me entregando uma cartinha querida antes da prova de física :-) O que a Ana falou aí em cima, é verdade: mais do que a felicidade por ter chegado ao fim, especialmente nesse doutorado, o que fez diferença foram as pessoas que estavam ao meu lado, me dando a mão. Obrigada por tudo.

    Beijos a todos!

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  6. Oi Fa, depois de tantas mensagens bonitas eu nem sei o que escrever. Posso começar por dizer que chorei ao ler o que você escreveu (sempre com tanta propriedade) e depois ao ler as mensagens dos seus amigos. Já faz tempo que cheguei à conclusão de que o lugar onde a gente está tem pouca importância. O que realmente importa são as pessoas que temos à nossa volta. Senti muito não ter estado em sua defesa, mas talvez tenha sido bom; caso contrário me juntaria ao Edu no time dos nervosos. Que você tenha sucesso na sua carreira; o amor pelo que faz já se faz presente e suaviza o caminho a ser percorrido. Pode incluir sua mãe no time dos orgulhosos (e aliviados) por ter concluido esta etapa. Beijos, Virginia

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  7. Fabiana, bem de longe, sinto por voce o mesmo orgulho que sempre tive por sua mãe. De modo diferente, voces duas são retratos de mulheres capacitadas que lutaram, correram atrás e chegaram lá... (algo que eu não fiz).
    Esta tia, amiga, conhecida fica muito feliz por voce e sua familia. O seu trabalho mostra quem voce é !!!
    beijos de amor
    Magali

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  8. Parabéns querida.... hoje o choro é de felicidade... não aquele doído de qdo voce nasceu...
    Beijos de quem te admira à dstância....
    Magali
    Tal mãe tla filha !!! Eu já sabia !!!!!!!!!!

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  10. Parabéns, Fabiana.
    Eu sabia que mais cedo ou mais tarde seria surpreendida por esta notícia. Muito sucesso com o novo título.

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  11. Só uma correção: eu, a Ana e a Carlinha estávamos na segunda fileira. A primeira ficou para o nervosismo do marido! (que eu nem percebi, esses niponismos...)

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  12. Magali, obrigada pelo carinho; realmente, não dá pra negar que essa veia de pesquisadora foi herdada da minha mãe :-) Saudade de você!

    Elaine, você esteve presente nesse comecinho da minha experiência na USP, e me lembro com muito carinho dos cafés de final de tarde ou das aventuras amway... Minha mãe também teve muita sorte em fazer amigas na faculdade. Beijos!

    Maurice, é mesmo! É que a sala era meio estranha, então pra mim vocês é que estavam ali, no gargarejo...Eu também não tinha percebido que o Edu estava tão nervoso; ele só me contou depois!
    Beijoca.

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