13 outubro, 2011

Rodrigo faz seis anos


Hoje o Rodrigo completa seis anos. Seis anos fora da minha barriga, como explico a ele, todas as vezes em que ele me pergunta que história é esta de aniversário. Especialmente esse ano, em que a vertigem das mudanças do próximo faz com que ele volta e meia questione essa comemoração, como a bater o pé bem forte: não quer ter seis anos, não quer ficar maior, não quer deixar de ser criança... Rodrigo, aos seis anos, não quer mais saber de ficar grande. Aquela ansiedade que ele tinha de crescer deu lugar ao esforço de reter o sabor desses tempos gostosos, de experiências, de fantasias, de jabuticaba e amora no pé. Ninguém disse para ele que as coisas vão mudar radicalmente, mas ele intui. Ele percebe que já não é mais tratado como criança pequena e que junto com as conquistas e liberdades vêm também as cobranças.

A gente passa a vida oscilando entre se sentir pequeno e se sentir grande. Às vezes as coisas são tão difíceis que falta ar, a gente ganha a perspectiva da nossa insignificância no fluxo das coisas. Tem outras vezes que tudo é tão pleno que a gente fica enorme, gigante mesmo. E nada disso tem a ver com aniversário: me espanto como o Rodrigo já percebeu isso. Quando aprendeu a ler, em julho, tenho certeza que ultrapassou em muito os seus 1,20m: dois, três metros de altura na aprendizagem de pensar de outra maneira. Mas agora, frente à possibilidade de mudar de escola, de passar para o primeiro ano, de sentir saudade dos professores e amigos que fez ao longo de sua vida, se sente pequeninho. Recusa o espelho distorcido: não quer ouvir que é grande enquanto se sente impotente para fazer o tempo parar.

E aí me ensina, nesse partejo vitalício em que a gente se reinventa mãe e filho, que para caminhar ao lado dele é necessária essa atenção que não teme o encantamento de aumentar e encolher mesmo sem a ajuda de biscoitos ou cogumelos mágicos: o orgulho e a admiração nos momentos de gigante, o colo nos momentos de mosquinha, as mãos dadas em todo o resto tempo.

O Rodrigo tem toda razão. ainda que 13 de outubro marque o dia em que ele decidiu que estava na hora de ver o que tinha aqui fora, é só um dia no tempo do calendário. Importante mesmo é o momento-quando a gente se sente crescer, quando a falta de ar da consciência do nossos limites encontra distração no peito inflado de alegria e orgulho por termos ultrapassado a nós mesmos. Fique tranquilo, filho: quando você voltar a sentir que cabe justo na sua própria pele, a gente bate outro bolo, enrola outros brigadeiros.

Imagem: Ziraldo (O menino maluquinho)

2 comentários:

  1. Fabiana, seus textos me emcionam de uma forma única. Principalmente porque em breve vou viver essa mesma situação com meu pequeno, e ele ansioso como só, já fica imaginando a mudança que só acontecerá daqui a 1 ano...Obrigada pelo sua inspiração! E parabéns ao Rodrigo! Sílvia

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  2. Obrigada, Sílvia: pelo carinho de sempre, e pela partilha da experiência. Eles crescem, e a gente junto... Beijo para vocês!

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