É sempre uma coisa difícil para mim, não tem jeito. Costumo ser empática - tenho essa facilidade (na maior parte do tempo) para compreender o lugar do outro. Mas confesso que hoje está difícil. Porque nesses tempos em que o "outro é um estorvo", se alguém se preocupa com o outro deve ser porque é tonto. Compreender as dificuldades do outro - os atrasos, a correria, o ônibus que não passou, o recado que não se deu, a impressora que quebrou - passa por bobagem. E eu sei bem por que: é porque tudo isso pode ser também revelador que o outro, esse outro em quem você tenta reconhecer a si mesmo com suas fragilidades e confusões, no fundo pode simplesmente não estar nem aí para você.
Então o dilema ético e político é saber se você vai continuar sabendo compreender, sob o risco de ser tonto, ou se vai aceitar se identificar com o outro naquilo que temos de preguiças, má-vontades, descaso, vontade de aproveitar... E daí, o contrário da compreensão e da flexibilidade é o que? Incompreensão e rigidez? Onde é que a gente risca a linha de giz? Porque, olha, hoje não estou querendo ninguém pisando dentro da minha linhazinha. Hoje, tô querendo mesmo é varrer todo mundo e passar pano molhado e cheiroso pra ver se dá jeito nessa secura.
Este seu texto me passou despercebido. E ao lê-lo, hoje, me lembrei da fala do personagem de Esqueceram de mim, creio que o 2, quando ele diz que o que todos querem é ser ouvidos e vistos. Só que as pessoas não estão dispostas a ouvir e ver o que o outro fala. Daí a sua sensação, eu creio. Beijos.
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