Tradução: Fabiana Jardim
Abrindo
espaço (Claudia Rankine).
(29 de julho-14 de Agosto de 2014;
Script para Ficção Pública no Hammer Museum)
No trem, a mulher em pé te faz
assumir que não há lugares livres. E, na verdade, há um. A mulher vai descer na
próxima estação? Não, ao invés disso ela vai ficar em pé por todo o percurso até a
Union Station.
O espaço próximo ao homem é a pausa
numa conversa que você de repente está afobada para ocupar. Você pisa
rapidamente sobre o medo da mulher, um medo que ela divide. Você a deixa ficar
com ele.
O homem não te cumprimenta enquanto
você se senta porque o homem sabe mais sobre o assento não ocupado do que você.
Para ele, você imagina, é mais como respirar do que se perguntar; ele já teve
que pensar tanto nisso que você não chamaria de pensamento.
Quando outro passageiro se levanta e
a mulher em pé se senta, você dá uma olhadela para o homem. Ele está perscrutando
a janela o que parece a escuridão.
Você se senta perto do homem no
trem, no ônibus, no avião, na sala de espera, em todo lugar em que ele poderia
estar abandonado. Você coloca seu corpo em proximidade a, adjacente a, ao lado
de, no raio de.
Você não fala a não ser que falem
com você e seu corpo fala ao espaço que você ocupa e você continua tentando preenche-lo
a não ser que o espaço pertença ao corpo do homem próximo a você, não a você.
Aonde ele vai, o espaço o segue. Se
o homem se levantasse antes da Union Station você seria simplesmente uma pessoa
sentada num trem. Você pararia de se debater contra o assento não ocupado
quando onde porque o espaço não perderá seu significado.
Você imagina se o homem falasse com
você, ele diria, está tudo bem, eu estou bem, você não precisa sentar aqui.
Você não precisa se sentar e você se senta e olha através dele para a escuridão
pela qual o trem se move. Um túnel.
Entrementes a escuridão te permite
olhar para ele. Ele sente que você o olha? Você suspeita que sim. O que essa
suspeita significa? O que a suspeita produz?
O cinza-esverdeado macio do seu
casaco de algodão toca a manga dele. Vocês estão ombro a ombro, ainda que em pé
você se sentisse sob a sombra. Você senta para reparar quem de quem? Você apaga
esse pensamento. E pode ser tarde demais para isso.
Pode ser muito tarde ou muito cedo
para todo o sempre. O trem se move rápido demais para os seus olhos se
ajustarem a qualquer coisa além do homem, a janela, o túnel azulejado, sua
escuridão escorregadia. De vez em quando, uma luz branca cintila feito som fora
de lugar.
Do outro lado do corredor trilhos
sala porto mundo uma mulher pergunta ao homem nas fileiras da frente se ele se
importaria de mudar de lugar. Ela quer sentar com sua filha ou filho. Você
escuta mas não ouve. Você não pode enxergar.
É então que o homem ao seu lado se
vira para você. E como se no interior da sua própria cabeça você consente que
se qualquer um pedir que você se mude, você dirá a eles nós estamos viajando como
família.
De: Claudia Rankine. Citizen: an American lyric. United Kingdom: Peguin, 2015, p.130-133.
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