05 abril, 2010

Sete dias na vida de uma luz

durante sete dias
uma luz transformou
a dor em dia
uma luz que eu não sabia
se vinha comigo
ou nascia sozinha

durante sete dias
uma luz brilhou
na ala dos queimados
queimou a falta
queimou tudo
que precisava ser cauterizado

milagre além do pecado
que sentido pode ter
mais significado?

(Paulo Leminski)

Mesmo com o Rodrigo aqui do meu lado, meio doentinho da virose que o acometeu essa madrugada, vou roubar uns minutinhos pra escrever sobre a semana passada. Entre segunda e quinta-feira, eu estive prestando um concurso para professor, na Faculdade de Educação da USP. O processo de inscrição começou no final do ano passado, com o preparo do Memorial e do Plano de Trabalho e há um pouco mais de um mês ficamos sabemos na data.

Quando decidi me inscrever, foi pensando em conhecer um processo de concurso público, já que fazer pesquisa e dar aulas têm sido meus objetivos há anos e anos. Não tinha expectativas de passar, porque afinal sou recém-doutora e o concurso era pra Sociologia da Educação, ou seja, tinha toda uma bibliografia que ou eu tinha lido pouco ou não tinha lido. À medida que eu ia fazendo as leituras, porém, fui ficando bastante animada, não especialmente com a possibilidade de passar (que eu achava ser remota) mas com a possibilidade de ler coisas não estritamente ligadas ao que vim pesquisando ao longo desses anos, com as fichas que iam caindo, com o novo universo de questões que se abriam.. Estudar para esse concurso foi um processo intenso, que me fez rever minha relação com a "herança" intelectual dos meus professores e da escola onde estudei - a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP -, reacendeu a minha paixão pela pesquisa e pela Sociologia, me fez reavaliar algumas das minhas escolhas, enfim: talvez não tenha sido coincidência que esses trinta dias de preparação mais intensa tenham ocorrido dentro do tempo de Quaresma - foi tempo de reflexão, concentração e, em certo sentido, de cura de todas as cicatrizes que o final do doutorado deixou em mim.

O concurso começou na segunda-feira, com a lista de pontos; na terça-feira fizemos a prova escrita  (cinco horas de prova!) e a leitura pública da prova; passamos três para a segunda fase, assim, na quarta fomos sortear o ponto da prova didática e, na quinta-feira, foram as aulas de manhã e a arguição do Memorial à tarde. E então, por volta das 17h, ficamos sabendo do resultado: eu passei! Sabe quando a gente não entende bem o que está acontecendo? Eu ouvi a leitura da ata da banca examinadora, depois olhava aquelas notas projetadas na parede, e não sabia se deveria comemorar ou se aquilo era um universo paralelo... Fiquei lá, sentada, tentando ter certeza se era isso mesmo. É que é sempre um pouco estranho quando uma coisa que a gente sonhou e planejou por tanto tempo acontece.

Então é isso. No final de semana, descansamos, encontramos a familiagem toda e curtimos a notícia. Porém, a volta das minhas insônias me alerta que daqui pra frente é muito trabalho e novos desafios. Mas é ansiedade boa, fecunda, de borboletas no estômago voando em festa.

11 comentários:

  1. depois da quaresma, nada como uma páscoa, passagem, a vida dentro do ovo, onde tudo parece pedra e espera e náo se espera encontrar. bj.

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  2. Obrigada, Veronika, pela poesia. Beijo com carinho.

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  3. parabéns, parabéns, parabéns!
    puro merecimento.
    bjo bjo bjo

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